Opinião
A esquina do Rio
Olho para a imprensa em Portugal com preocupação.
Este ano as estimativas indicam que o valor do investimento publicitário nos jornais diários generalistas vai ser menor que o investimento publicitário em canais de televisão por subscrição (cabo e satélite), menor que o investimento em rádio e muito semelhante ao do investimento em Internet e meios digitais. Isto quer dizer que a imprensa está a perder simultaneamente competitividade e capacidade de atracção dos grandes investimentos publicitários geridos por agências. Ao mesmo tempo, o declínio de vendas em banca da maior parte dos jornais diários generalistas é acentuado, com excepção do "Correio da Manhã". Jornais especializados, como este "Jornal de Negócios", mantêm os seus leitores e até conseguem reforçá-los - sem dúvida porque fala do que interessa à sua audiência e selecciona bem os temas que desenvolve. Já muitos jornais diários parecem mais preocupados com os gostos e interesses pessoais dos seus jornalistas do que com trabalhar aquilo que pode fazer aumentar o número de leitores.
Aquilo que a imprensa vende não é apenas espaço de publicidade, é a capacidade de comunicação com os seus leitores - o número de contactos que permite - e é, também, a qualidade dos seus leitores. Se o número de leitores diminui, é evidente que fazer publicidade num determinado título se torna menos apelativo.
No meu ponto de vista, a maioria da imprensa diária está a ser penalizada por um movimento conjugado de diminuição da qualidade dos seus conteúdos e pela falta de adequação de conteúdos aos alvos que interessam Alguma imprensa diária colocou-se a ela própria numa situação de quase marginalidade, tratando mais temas de interesse minoritário do que assuntos que estabeleçam relação com os leitores.
É assustador pensar que hoje os jornais diários generalistas são em menor número do que no dia 24 de Abril de 1974, mas sobretudo têm dezenas de milhares de leitores a menos. Algures os jornais diários divorciaram-se do público e o fenómeno é anterior às edições digitais.
Por via de regra, a maioria dos jornais diários, sobretudo os ditos de referência, abordam poucos temas portugueses, para além da política. Uma comparação com os principais jornais de referência de outros países mostra um menor número de notícias nacionais em temas como sociedade e comportamento, uma menor cobertura de áreas como a saúde e a educação, uma muito deficiente cobertura do noticiário local e regional que garantem leitores de proximidade.
Os jornais anglo-saxónicos, por exemplo, frequentemente fazem reportagens sobre um grande tema de garantida proximidade com os leitores, reportagens essas que são divididas por sucessivas edições diárias, quase em género folhetim, culminando depois em dossiês especiais ou "portfolios" relacionados com o tema nas suas revistas de domingo. Os leitores sentem-se compelidos a seguir a história, a ver os seus vários ângulos de abordagem e, sobretudo, porque os temas são bem escolhidos e têm um enfoque local, regional ou nacional, conseguem estabelecer uma relação de utilidade com o que estão a ler.
Um dos jornais de referência de Lisboa publicou recentemente uma série alongada de boas reportagens sobre o ambiente que se vive em aldeias mexicanas por causa dos cartéis da droga. Bem escritas, as reportagens tinham um fio condutor. Mas o mesmo jornal não publica há meses - talvez há anos - reportagens assim estruturadas sobre situações existentes em Portugal - feitas com aqueles meios, com aquele espaço de paginação, com aquela qualidade de escrita. Se o tema tivesse uma capacidade de ligação maior a leitores portugueses e se fosse bem promovido, talvez o jornal tivesse outros resultados de venda e de receitas comerciais - e sem necessidade de fazer maiores investimentos.
A questão do marketing dos jornais ganha, neste contexto, particular importância. Nos últimos anos, os jornais têm apostado sobretudo o seu marketing na venda de produtos associados (CD's, DVD's, livros, brindes diversos). Essas campanhas provocam algum aumento de receita, provocam aumento pontual da circulação (e são muito eficazes quando coincidem com o trabalho de campo da recolha de dados dos estudos de audiência da imprensa). Mas o marketing de conteúdo, que se tem mostrado eficaz nos canais de cabo e na rádio, por exemplo, quase não é utilizado na imprensa - no fundo porque muita imprensa tem desprezado a qualidade dos seus conteúdos e a sua adequação aos seus públicos-alvo.
Os media só são bons suportes publicitários quando conseguem entregar a capacidade de comunicação com as audiências. E as audiências são movidas por conteúdos que lhes interessem. Eu acho que o problema de muita da imprensa portuguesa é que se esqueceu desta questão básica.
Ouvir
Robert Plant fez carreira nos Led Zeppelin mas as suas aventuras musicais mais recentes revelam uma inesperada frescura e uma criatividade surpreendente. "Band Of Joy" é o seu mais recente registo e vai buscar o nome a uma banda de tendência psicadélica que Plant liderou ainda antes dos Led Zeppelin. O disco tem uma sonoridade claramente "country", que lhe é dada pelo produtor Buddy Miller. A selecção de temas é eclética e vai de originais de Richard Thompson a clássicos de Lightin' Hopkins, e Jimmie Rodgers, até ao "rock" de Los Lobos ou de Townes Van Zandt. A voz de Patty Griffin ajuda Robert Plant, mas é indiscutivelmente a ele que se devem atribuir os louros por este belíssimo disco. (CD Decca, Amazon)
Aquilo que a imprensa vende não é apenas espaço de publicidade, é a capacidade de comunicação com os seus leitores - o número de contactos que permite - e é, também, a qualidade dos seus leitores. Se o número de leitores diminui, é evidente que fazer publicidade num determinado título se torna menos apelativo.
É assustador pensar que hoje os jornais diários generalistas são em menor número do que no dia 24 de Abril de 1974, mas sobretudo têm dezenas de milhares de leitores a menos. Algures os jornais diários divorciaram-se do público e o fenómeno é anterior às edições digitais.
Por via de regra, a maioria dos jornais diários, sobretudo os ditos de referência, abordam poucos temas portugueses, para além da política. Uma comparação com os principais jornais de referência de outros países mostra um menor número de notícias nacionais em temas como sociedade e comportamento, uma menor cobertura de áreas como a saúde e a educação, uma muito deficiente cobertura do noticiário local e regional que garantem leitores de proximidade.
Os jornais anglo-saxónicos, por exemplo, frequentemente fazem reportagens sobre um grande tema de garantida proximidade com os leitores, reportagens essas que são divididas por sucessivas edições diárias, quase em género folhetim, culminando depois em dossiês especiais ou "portfolios" relacionados com o tema nas suas revistas de domingo. Os leitores sentem-se compelidos a seguir a história, a ver os seus vários ângulos de abordagem e, sobretudo, porque os temas são bem escolhidos e têm um enfoque local, regional ou nacional, conseguem estabelecer uma relação de utilidade com o que estão a ler.
Um dos jornais de referência de Lisboa publicou recentemente uma série alongada de boas reportagens sobre o ambiente que se vive em aldeias mexicanas por causa dos cartéis da droga. Bem escritas, as reportagens tinham um fio condutor. Mas o mesmo jornal não publica há meses - talvez há anos - reportagens assim estruturadas sobre situações existentes em Portugal - feitas com aqueles meios, com aquele espaço de paginação, com aquela qualidade de escrita. Se o tema tivesse uma capacidade de ligação maior a leitores portugueses e se fosse bem promovido, talvez o jornal tivesse outros resultados de venda e de receitas comerciais - e sem necessidade de fazer maiores investimentos.
A questão do marketing dos jornais ganha, neste contexto, particular importância. Nos últimos anos, os jornais têm apostado sobretudo o seu marketing na venda de produtos associados (CD's, DVD's, livros, brindes diversos). Essas campanhas provocam algum aumento de receita, provocam aumento pontual da circulação (e são muito eficazes quando coincidem com o trabalho de campo da recolha de dados dos estudos de audiência da imprensa). Mas o marketing de conteúdo, que se tem mostrado eficaz nos canais de cabo e na rádio, por exemplo, quase não é utilizado na imprensa - no fundo porque muita imprensa tem desprezado a qualidade dos seus conteúdos e a sua adequação aos seus públicos-alvo.
Os media só são bons suportes publicitários quando conseguem entregar a capacidade de comunicação com as audiências. E as audiências são movidas por conteúdos que lhes interessem. Eu acho que o problema de muita da imprensa portuguesa é que se esqueceu desta questão básica.
Ouvir
Robert Plant fez carreira nos Led Zeppelin mas as suas aventuras musicais mais recentes revelam uma inesperada frescura e uma criatividade surpreendente. "Band Of Joy" é o seu mais recente registo e vai buscar o nome a uma banda de tendência psicadélica que Plant liderou ainda antes dos Led Zeppelin. O disco tem uma sonoridade claramente "country", que lhe é dada pelo produtor Buddy Miller. A selecção de temas é eclética e vai de originais de Richard Thompson a clássicos de Lightin' Hopkins, e Jimmie Rodgers, até ao "rock" de Los Lobos ou de Townes Van Zandt. A voz de Patty Griffin ajuda Robert Plant, mas é indiscutivelmente a ele que se devem atribuir os louros por este belíssimo disco. (CD Decca, Amazon)
Provar
As lulas à Mattos são o prato forte da casa - forte e bem temperado, a exigir calma e sossego posteriores. Mas as ofertas de peixe e carne grelhada como os secretos de porco preto ou as costeletinhas de borrego também fazem parte dos ex-libris da casa, que fica bem perto da Avenida de Roma, junto ao teatro Maria Matos. Já agora cabe aqui elogiar as batatas fritas, cortadas em palitos fininhos, de boa batata e boa fritura, e que são um verdadeiro pecado. A garrafeira é cuidada e actual, a freguesia gosta de cozinha portuguesa e de doces conventuais - que são a guloseima do local. De modo que não é invulgar ver no local alguns clientes com, digamos, algum excesso de peso - mas com ar feliz e bem disposto. Rua Bulhão Pato 2A. Telefone: 218483924. Encerra aos domingos.
Arco da Velha
Segunda-feira passada a RTP liderou as audiências, bateu SIC e TVI, e não transmitiu futebol. O bom resultado foi-lhe dado pelos resultados do "Prós e Contras" desse dia, dedicado à crise, segundo os três ex-Presidentes da República: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. Eanes foi o mais lúcido ao dizer: "Dá impressão que os Governos têm medo da sociedade civil e por isso escondem a verdade". Enfim, não é medo da sociedade civil, é mais medo de perderem votos. Mas no fundo foi o único com coragem para afirmar: "devíamos ter tido só um PEC, ousado, arrojado e justo". De qualquer forma, as boas audiências destas figuras mostram o velho sebastianismo português.
Segunda-feira passada a RTP liderou as audiências, bateu SIC e TVI, e não transmitiu futebol. O bom resultado foi-lhe dado pelos resultados do "Prós e Contras" desse dia, dedicado à crise, segundo os três ex-Presidentes da República: Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. Eanes foi o mais lúcido ao dizer: "Dá impressão que os Governos têm medo da sociedade civil e por isso escondem a verdade". Enfim, não é medo da sociedade civil, é mais medo de perderem votos. Mas no fundo foi o único com coragem para afirmar: "devíamos ter tido só um PEC, ousado, arrojado e justo". De qualquer forma, as boas audiências destas figuras mostram o velho sebastianismo português.
Ler
A revista "Egoísta" fez um delicioso número especial, extra-série, de formato reduzido, quase um livro, a partir de um espólio de manuscritos que inclui cartas de nomes como José Régio, Fernando Pessoa, António Botto, Amadeo de Souza Cardoso e Santa-Rita Pintor, entre outros. A análise grafológica dos manuscritos e considerações gerais sobre o tema estão a cargo de Alberto Vaz da Silva, um reputado especialista no assunto. O resultado é uma edição deliciosa e de colecção que merece ser guardada. Paginação excelente, textos aliciantes (os dos manuscritos e a sua interpretação). Ou seja, a revelação do ser através do seu escrever, como bem sublinha Mário Assis Ferreira, que dirige a "Egoísta".
A revista "Egoísta" fez um delicioso número especial, extra-série, de formato reduzido, quase um livro, a partir de um espólio de manuscritos que inclui cartas de nomes como José Régio, Fernando Pessoa, António Botto, Amadeo de Souza Cardoso e Santa-Rita Pintor, entre outros. A análise grafológica dos manuscritos e considerações gerais sobre o tema estão a cargo de Alberto Vaz da Silva, um reputado especialista no assunto. O resultado é uma edição deliciosa e de colecção que merece ser guardada. Paginação excelente, textos aliciantes (os dos manuscritos e a sua interpretação). Ou seja, a revelação do ser através do seu escrever, como bem sublinha Mário Assis Ferreira, que dirige a "Egoísta".
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