Opinião
A esquina do Rio
Dos 11 debates realizados na televisão o mais visto foi o de Sócrates com Passos Coelho, seguido de Sócrates com Paulo Portas.
Debates
Dos 11 debates realizados na televisão o mais visto foi o de Sócrates com Passos Coelho, seguido de Sócrates com Paulo Portas. O menos visto entre os partidos parlamentares foi o que decorreu entre Louçã e Jerónimo de Sousa. O resto esteve quase empatado - sendo que, do restante, o debate entre Passos Coelho e Louçã foi o que registou melhor resultado. O debate entre os partidos não parlamentares teve um "share" de 12,4%. De uma forma geral, tirando os dois debates mais vistos, nenhum contribuiu de facto, de forma significativa, para o "share" das estações que o transmitiram - o que quer dizer, de uma forma geral, que não houve muita gente a ir expressamente à procura daqueles debates na estação onde estavam a ser transmitidos.
É certo que chamar debates ao que se passou releva de alguma boa vontade. Sócrates optou por querer subalternizar os moderadores e pretendeu sempre marcar a agenda das conversas - talvez no futuro possa ensaiar uma carreira na televisão, desde que não o façam falar inglês. Passos Coelho melhorou ao longo do ciclo e Paulo Portas foi o que mais pretendeu discutir assuntos em vez de replicar sempre a mesma ideia. Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, como o confronto entre os dois mostrou, são de uma previsibilidade total e de algum afastamento da realidade, que se acentua quando ficam a falar sozinhos um com o outro. Têm um ponto comum com Sócrates: repetem sempre os mesmos pontos fortes e parecem imutáveis face ao mundo à sua volta.
Como as primeiras sondagens desta semana também mostraram, os debates contribuíram relativamente pouco para definir melhor as tendências de voto e para ajudar os indecisos a tomar posição. Tudo isto, somado aos resultados moderados de audiência, devem naturalmente fazer pensar se, em próximas eleições, não valerá a pena utilizar outros modelos, mais eficazes. Em abono da verdade, deve dizer-se que têm sido as máquinas partidárias, e não as estações de televisão, o grande obstáculo a que o modelo possa evoluir e ser mais eficaz no esclarecimento dos eleitores.
Arco da Velha
O PS andou a oferecer, em Penafiel, bilhetes para o Oceanário Sea Life, do Porto, como contrapartida da presença no comício de José Sócrates na capital do Norte, no próximo domingo. Na quarta-feira mais de 200 pessoas já tinham reservado lugar nos autocarros, também disponibilizados gratuitamente pelo PS.
Semanada
António Costa admitiu que "há mais PS para além de Sócrates"; Francisco Assis elogiou Pedro Passos Coelho; Almeida Santos mostrou-se confiante na possibilidade de uma nova liderança do PS, em caso de derrota eleitoral do PS.
Comunicar
Numa conferência organizada esta semana pela Associação Nacional de Comunicação de Empresa, Nuno Morais Sarmento fez uma curiosa abordagem das evoluções recentes e sua repercussão na intervenção cívica, nomeadamente as redes sociais. Como sublinhou, as gerações mais velhas olham para as novas ferramentas como um modelo de comunicação e as gerações mais novas vêem estas ferramentas como uma plataforma de relacionamento, intervenção e organização. "Qual a razão para um jovem hoje optar por um modelo partidário piramidal (e cheio de filtros) quando, com um clique no Facebook, pode partilhar a sua opinião de forma directa e integral?" - foi a pergunta que Morais Sarmento deixou no ar. Aqui está um excelente tema para que os dirigentes partidários reflictam a propósito da forma como hoje em dia fazem campanha eleitorais e funcionam com as suas organizações.
Ouvir
Desta vez não vou falar de um disco, mas de um autor, de Bob Dylan, que esta semana completou 70 anos. Começou a gravar com 21 anos, tendo feito algumas das canções mais marcantes da música popular contemporânea, como "Like a Rolling Stone" ou "The Times They Are A-Changin'". Mas aquilo que para mim é verdadeiramente importante em Dylan tem a ver com a forma como escreve os textos das suas canções - rompeu barreiras e preconceitos e criou uma nova forma de escrever (e cantar) poesia. Mais - foi ele quem primeiro mostrou que alguma da melhor poesia moderna aparecia na forma de letras de canções populares e foi ele a abrir caminhos para dezenas de outros compositores, que falam do quotidiano, das suas preocupações, da guerra, da sociedade em que viviam. Esta nova poesia, vivida, cantada e actual, criou um relacionamento diferente e mais intenso com os seus públicos. Mais que um músico ou um cantor, Dylan é um dos grandes poetas da segunda metade do século XX e é essa imagem que marca a sua diferença.
O meu voto
Nas eleições de há 25 anos para cá já me abstive, já votei nulo, já votei branco e na maioria delas votei no PSD, de que aliás fui candidato, como independente, por duas ocasiões, em eleições autárquicas. Já fui algumas vezes vítima da teoria do voto útil, mas desta vez resolvi que votarei tendo em conta os candidatos que cada um escolheu, o trabalho parlamentar realizado pelos partidos e os programas apresentados - sobretudo nas áreas que pessoalmente me são mais próximas, e que têm a ver com a comunicação, o audiovisual, a política cultural e a criatividade. Tendo em conta que os cenários macro estão dominados pela catastrófica situação do País e pelo acordo com a "troika", aspectos parcelares dos programas dos partidos assumem um papel claramente de factor de diferenciação. Por outro lado, é certo que a indicação de Fernando Nobre como nº 1 da lista do PSD em Lisboa, me impede, por uma questão de coerência e bom senso, de votar na lista que ele encabeça - não o achei capaz de ser Presidente da República, não o acho capaz de ser um bom deputado e muito menos acho que ele mereça ser Presidente da Assembleia da República. Por outro lado, e algumas vezes aqui escrevi isso, ao longo destes anos mais recentes, o PP foi o partido de oposição com um grupo parlamentar mais actuante, regra geral com boas propostas e, por isso mesmo, o mais eficaz na luta parlamentar contra o Governo de Sócrates. Finalmente acresce que o programa do PP tem, em questões como a RTP, o incentivo às indústrias criativas, e a maior ligação entre a economia e turismo e as actividades culturais, uma abordagem geral da qual me sinto mais próximo do que daquela que o PSD apresentou. O apelo ao voto útil não pode ser encarado como razão suficiente para passar uma esponja sobre os erros cometidos, nas escolhas das listas e nas opções programáticas. Como a política não é uma religião, afasto a lógica da fé seguidista e da seita.
Por isso mesmo, nestas eleições de 5 de Junho irei estrear o meu voto no CDS/PP. Faço-o para votar numa alternativa consistente ao Governo do PS, faço-o porque penso convictamente que uma democracia saudável não pode viver apenas com dois grandes partidos, faço-o porque é importante que exista um terceiro partido com peso eleitoral - só isso permitirá uma coligação equilibrada e dinâmica. Sem partidos com expressão não há coligações fortes. Estou seguro do meu voto. E contente por ser uma escolha e não uma fatalidade.
Ler
Continuando nas recomendações de leitura em período eleitoral sugiro-vos um dos mais recentes volumes da colecção "Ensaios" da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em parceria com a Relógio d'Água. Trata-se do muito oportuno "Portugal e o Mar", de Tiago Pitta e Cunha, consultor do Presidente da República para os assuntos da Ciência, do Ambiente e do Mar. Como o autor recorda, depois da adesão europeia, "o mar foi dispensado das grandes opções políticas e económicas nacionais", com numerosos prejuízos e com uma enorme quebra de toda a actividade ligada à pesca. Portugal, recordo, dispõe da maior região marítima da União Europeia e o autor explora a possibilidade de conjugação da economia com a nossa geografia e o aproveitamento dos seus recursos. Como sempre, vale a pena ver, neste período, como os diversos partidos encaram esta matéria nos seus programas.
Dos 11 debates realizados na televisão o mais visto foi o de Sócrates com Passos Coelho, seguido de Sócrates com Paulo Portas. O menos visto entre os partidos parlamentares foi o que decorreu entre Louçã e Jerónimo de Sousa. O resto esteve quase empatado - sendo que, do restante, o debate entre Passos Coelho e Louçã foi o que registou melhor resultado. O debate entre os partidos não parlamentares teve um "share" de 12,4%. De uma forma geral, tirando os dois debates mais vistos, nenhum contribuiu de facto, de forma significativa, para o "share" das estações que o transmitiram - o que quer dizer, de uma forma geral, que não houve muita gente a ir expressamente à procura daqueles debates na estação onde estavam a ser transmitidos.
É certo que chamar debates ao que se passou releva de alguma boa vontade. Sócrates optou por querer subalternizar os moderadores e pretendeu sempre marcar a agenda das conversas - talvez no futuro possa ensaiar uma carreira na televisão, desde que não o façam falar inglês. Passos Coelho melhorou ao longo do ciclo e Paulo Portas foi o que mais pretendeu discutir assuntos em vez de replicar sempre a mesma ideia. Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, como o confronto entre os dois mostrou, são de uma previsibilidade total e de algum afastamento da realidade, que se acentua quando ficam a falar sozinhos um com o outro. Têm um ponto comum com Sócrates: repetem sempre os mesmos pontos fortes e parecem imutáveis face ao mundo à sua volta.
Arco da Velha
O PS andou a oferecer, em Penafiel, bilhetes para o Oceanário Sea Life, do Porto, como contrapartida da presença no comício de José Sócrates na capital do Norte, no próximo domingo. Na quarta-feira mais de 200 pessoas já tinham reservado lugar nos autocarros, também disponibilizados gratuitamente pelo PS.
Semanada
António Costa admitiu que "há mais PS para além de Sócrates"; Francisco Assis elogiou Pedro Passos Coelho; Almeida Santos mostrou-se confiante na possibilidade de uma nova liderança do PS, em caso de derrota eleitoral do PS.
Comunicar
Numa conferência organizada esta semana pela Associação Nacional de Comunicação de Empresa, Nuno Morais Sarmento fez uma curiosa abordagem das evoluções recentes e sua repercussão na intervenção cívica, nomeadamente as redes sociais. Como sublinhou, as gerações mais velhas olham para as novas ferramentas como um modelo de comunicação e as gerações mais novas vêem estas ferramentas como uma plataforma de relacionamento, intervenção e organização. "Qual a razão para um jovem hoje optar por um modelo partidário piramidal (e cheio de filtros) quando, com um clique no Facebook, pode partilhar a sua opinião de forma directa e integral?" - foi a pergunta que Morais Sarmento deixou no ar. Aqui está um excelente tema para que os dirigentes partidários reflictam a propósito da forma como hoje em dia fazem campanha eleitorais e funcionam com as suas organizações.
Ouvir
Desta vez não vou falar de um disco, mas de um autor, de Bob Dylan, que esta semana completou 70 anos. Começou a gravar com 21 anos, tendo feito algumas das canções mais marcantes da música popular contemporânea, como "Like a Rolling Stone" ou "The Times They Are A-Changin'". Mas aquilo que para mim é verdadeiramente importante em Dylan tem a ver com a forma como escreve os textos das suas canções - rompeu barreiras e preconceitos e criou uma nova forma de escrever (e cantar) poesia. Mais - foi ele quem primeiro mostrou que alguma da melhor poesia moderna aparecia na forma de letras de canções populares e foi ele a abrir caminhos para dezenas de outros compositores, que falam do quotidiano, das suas preocupações, da guerra, da sociedade em que viviam. Esta nova poesia, vivida, cantada e actual, criou um relacionamento diferente e mais intenso com os seus públicos. Mais que um músico ou um cantor, Dylan é um dos grandes poetas da segunda metade do século XX e é essa imagem que marca a sua diferença.
O meu voto
Nas eleições de há 25 anos para cá já me abstive, já votei nulo, já votei branco e na maioria delas votei no PSD, de que aliás fui candidato, como independente, por duas ocasiões, em eleições autárquicas. Já fui algumas vezes vítima da teoria do voto útil, mas desta vez resolvi que votarei tendo em conta os candidatos que cada um escolheu, o trabalho parlamentar realizado pelos partidos e os programas apresentados - sobretudo nas áreas que pessoalmente me são mais próximas, e que têm a ver com a comunicação, o audiovisual, a política cultural e a criatividade. Tendo em conta que os cenários macro estão dominados pela catastrófica situação do País e pelo acordo com a "troika", aspectos parcelares dos programas dos partidos assumem um papel claramente de factor de diferenciação. Por outro lado, é certo que a indicação de Fernando Nobre como nº 1 da lista do PSD em Lisboa, me impede, por uma questão de coerência e bom senso, de votar na lista que ele encabeça - não o achei capaz de ser Presidente da República, não o acho capaz de ser um bom deputado e muito menos acho que ele mereça ser Presidente da Assembleia da República. Por outro lado, e algumas vezes aqui escrevi isso, ao longo destes anos mais recentes, o PP foi o partido de oposição com um grupo parlamentar mais actuante, regra geral com boas propostas e, por isso mesmo, o mais eficaz na luta parlamentar contra o Governo de Sócrates. Finalmente acresce que o programa do PP tem, em questões como a RTP, o incentivo às indústrias criativas, e a maior ligação entre a economia e turismo e as actividades culturais, uma abordagem geral da qual me sinto mais próximo do que daquela que o PSD apresentou. O apelo ao voto útil não pode ser encarado como razão suficiente para passar uma esponja sobre os erros cometidos, nas escolhas das listas e nas opções programáticas. Como a política não é uma religião, afasto a lógica da fé seguidista e da seita.
Por isso mesmo, nestas eleições de 5 de Junho irei estrear o meu voto no CDS/PP. Faço-o para votar numa alternativa consistente ao Governo do PS, faço-o porque penso convictamente que uma democracia saudável não pode viver apenas com dois grandes partidos, faço-o porque é importante que exista um terceiro partido com peso eleitoral - só isso permitirá uma coligação equilibrada e dinâmica. Sem partidos com expressão não há coligações fortes. Estou seguro do meu voto. E contente por ser uma escolha e não uma fatalidade.
Ler
Continuando nas recomendações de leitura em período eleitoral sugiro-vos um dos mais recentes volumes da colecção "Ensaios" da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em parceria com a Relógio d'Água. Trata-se do muito oportuno "Portugal e o Mar", de Tiago Pitta e Cunha, consultor do Presidente da República para os assuntos da Ciência, do Ambiente e do Mar. Como o autor recorda, depois da adesão europeia, "o mar foi dispensado das grandes opções políticas e económicas nacionais", com numerosos prejuízos e com uma enorme quebra de toda a actividade ligada à pesca. Portugal, recordo, dispõe da maior região marítima da União Europeia e o autor explora a possibilidade de conjugação da economia com a nossa geografia e o aproveitamento dos seus recursos. Como sempre, vale a pena ver, neste período, como os diversos partidos encaram esta matéria nos seus programas.
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