Opinião
A esquina do Rio
No início dos anos 80 existia uma banda pop britânica chamada Fun Boy Three, que teve algum relevo na época. Um dos seus êxitos intitulava-se "The Lunatics Have Taken Over The Asylum". Na passada terça-feira, enquanto assistia à exibição de...
MÚSICA - No início dos anos 80 existia uma banda pop britânica chamada Fun Boy Three, que teve algum relevo na época. Um dos seus êxitos intitulava-se "The Lunatics Have Taken Over The Asylum". Na passada terça-feira, enquanto assistia à exibição de José Sócrates na RTP, esse foi o refrão que me veio à cabeça e comecei a trautear o que lembrava dessa bela canção. Por acaso, ao mesmo tempo, dei comigo a pensar que aquele cartaz em que o nariz de Sócrates crescia como o de Pinóquio estava cada vez mais actual.
DANÇA - Talvez inspirado pelo êxito do concurso da SIC "Achas Que Sabes Dançar?", Sócrates foi para Madrid dizer que gostava bastante de Passos Coelho como parceiro para o tango - citando a velha máxima de "it takes two to tango" e sublinhando a importância do entendimento entre ele e o líder da oposição. Mas os últimos dias têm mostrado uma táctica curiosa: Passos Coelho faz um acordo com Sócrates e no momento seguinte algum ministro vem dizer o contrário do acordado ou vem tentar esticar a corda, ou alterar os termos, prazos ou conteúdo do acordo; o passo seguinte é Sócrates arredondar o combinado, deixando espaço de manobra. Fico sempre com a impressão que isto não é descoordenação inter-governamental, é expediente para ver até onde se consegue ir sem se ser topado.
DIFERENÇAS - Tenho estranhado muito o silêncio à volta do furto de dois gravadores no Parlamento. Os gravadores foram furtados a dois jornalistas da revista "Sábado" por um deputado do PS, Ricardo Rodrigues, há mais de duas semanas. O PS, em bloco, veio defender a atitude do seu deputado. Ora eu acho que alguém que furta, que rouba, não é uma pessoa de bem e acho que quem defende a atitude do furto não pode ser considerado pessoa de bem. Que diria Francisco Assis se o autor do furto fosse um deputado de outro partido? E, porque se calaram, em geral, os vários partidos parlamentares sobre este caso, um furto, filmado, nas instalações da própria Assembleia? Às vezes ponho-me a imaginar o que teria sido se este caso acontecesse, por exemplo, no Governo Santana Lopes, com um deputado do PSD - e fico com a sensação de que a democracia portuguesa, os políticos, os partidos, a imprensa e a opinião pública têm pesos e medidas bem diferentes conforme a cor política dos intervenientes. Ricardo Rodrigues tem fama de ser amigo de Carlos César, o líder do Governo dos Açores, que não nega a amizade. E dizem que o homem dos gravadores mantém muita influência nalgumas decisões de organismos públicos dos Açores. Toda esta situação é muito estranha - até o silêncio do também açoreano Presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.
BANCA - No dicionário Webster há duas definições para a palavra Bank. Uma diz que é uma entidade que "se dedica a guardar, emprestar, trocar ou emitir dinheiro, podendo conceder crédito e facilitar a movimentação de quantias"; a outra é "alguém que se dedica a gerir uma casa de apostas ou de jogo". Quem recorda estas definições é o editor da "Vanity Fair", Graydon Carter, sublinhando que a primeira citação corresponde à ideia geral do que as pessoas de bom senso entendem ser um banco e a segunda é a descrição da verdadeira actividade de grande parte da banca nos dias de hoje, especulativa e arriscada. Isto é mais que um jogo de palavras - é parte da explicação dos problemas que estamos a viver.
LER - As estrelas do mundo contemporâneo são desportistas, músicos pop e rock e actores. A mobilidade social mais evidente e mais brusca agora é feita através de carreiras nestas áreas, fortemente mediatizadas. A capa da revista "Vanity Fair" de Junho - mês do Mundial - é uma fotografia feita por Annie Leibowitz a dois futebolistas, Didier Drogba da Costa do Marfim (joga no Chelsea) e Cristiano Ronaldo de Portugal (a jogar no Real Madrid). Ambos têm apenas vestido um slip criado especialmente pela marca que patrocina cada um, estampado com a respectiva bandeira nacional. Não deixa de ser curioso que no meio de toda a crise Portugal chegue pela primeira vez à capa de uma das mais prestigiadas revistas norte-americanas com um homem em cuecas Armani verde-rubro e com uma visível boa forma física. Curiosidades à parte, o portfolio de Annie Leibowitz é excepcional e mostra uma dezena dos melhores futebolistas que vão estar no Mundial.
VER - Duas curiosas exposições, radicalmente diferentes: na Lx Factory, na galeria Netcast, Inês Norton evoca em "Zoom In Zoom Out" a arte africana a partir de fotografias de Pedro Norton de Matos, usando cores fortes, colagens, motivos étnicos; na Fundação das Comunicações (R D. Luis), Daniela Ribeiro faz interpretações da visão através da utilização de peças electrónicas de telemóveis numa instalação intitulada "Olho Biónico" e que é a mais conseguida mostra da artista até à data.
OUVIR - O mais recente disco do contrabaixista Carlos Bica foi gravado ao vivo em três concertos, na Culturgest, na Casa da Música e no Museu do Oriente, todos em 2008, e é um bom exemplo dos novos caminhos que Carlos Bica procura na sua música. Acompanhado por Matthias Schriefl no trompete, por João Paulo no piano, por Mário Delgado na guitarra eléctrica e João Lobo, na bateria, Bica mostra o seu talento de solista e de arranjador percorrendo temas da sua própria autoria (destaque para o enérgico "D.C." e também para "Canção Número Dois" e "Roses For You"), uma composição de João Paulo, outra de Marc Ribot e uma bela versão de "Paris, Texas", de Ry Cooder. É um grupo de músicos de eleição e o resultado destas três sessões de gravações ao vivo é absolutamente fora de série. CD Cleanfeed.
PROVAR - Se estiver perto do Conde Redondo e lhe apetecer um sabor do Líbano vá direito ao restaurante Fenícios. Rezam os livros que a cozinha libanesa tem influências árabes, turcas e francesas, um tempero delicado de grande variedade de especiarias e ervas aromáticas. Peça um sortido de entradas para começar e sentirá a diversidade dos paladares. Depois talvez um dos típicos pratos de borrego ou carneiro - peça conselho ao proprietário que ele gosta de ajudar na escolha. Para rematar prove um doce de pistáchios. A conta é razoável, o ambiente é simpático e a experiência é muito boa. Rua do Conde Redondo 141 A, telef 212448703.
BACK TO BASICS - Aqueles que não economizam irão ter um futuro de agonia - Confúcio
www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt
DANÇA - Talvez inspirado pelo êxito do concurso da SIC "Achas Que Sabes Dançar?", Sócrates foi para Madrid dizer que gostava bastante de Passos Coelho como parceiro para o tango - citando a velha máxima de "it takes two to tango" e sublinhando a importância do entendimento entre ele e o líder da oposição. Mas os últimos dias têm mostrado uma táctica curiosa: Passos Coelho faz um acordo com Sócrates e no momento seguinte algum ministro vem dizer o contrário do acordado ou vem tentar esticar a corda, ou alterar os termos, prazos ou conteúdo do acordo; o passo seguinte é Sócrates arredondar o combinado, deixando espaço de manobra. Fico sempre com a impressão que isto não é descoordenação inter-governamental, é expediente para ver até onde se consegue ir sem se ser topado.
BANCA - No dicionário Webster há duas definições para a palavra Bank. Uma diz que é uma entidade que "se dedica a guardar, emprestar, trocar ou emitir dinheiro, podendo conceder crédito e facilitar a movimentação de quantias"; a outra é "alguém que se dedica a gerir uma casa de apostas ou de jogo". Quem recorda estas definições é o editor da "Vanity Fair", Graydon Carter, sublinhando que a primeira citação corresponde à ideia geral do que as pessoas de bom senso entendem ser um banco e a segunda é a descrição da verdadeira actividade de grande parte da banca nos dias de hoje, especulativa e arriscada. Isto é mais que um jogo de palavras - é parte da explicação dos problemas que estamos a viver.
LER - As estrelas do mundo contemporâneo são desportistas, músicos pop e rock e actores. A mobilidade social mais evidente e mais brusca agora é feita através de carreiras nestas áreas, fortemente mediatizadas. A capa da revista "Vanity Fair" de Junho - mês do Mundial - é uma fotografia feita por Annie Leibowitz a dois futebolistas, Didier Drogba da Costa do Marfim (joga no Chelsea) e Cristiano Ronaldo de Portugal (a jogar no Real Madrid). Ambos têm apenas vestido um slip criado especialmente pela marca que patrocina cada um, estampado com a respectiva bandeira nacional. Não deixa de ser curioso que no meio de toda a crise Portugal chegue pela primeira vez à capa de uma das mais prestigiadas revistas norte-americanas com um homem em cuecas Armani verde-rubro e com uma visível boa forma física. Curiosidades à parte, o portfolio de Annie Leibowitz é excepcional e mostra uma dezena dos melhores futebolistas que vão estar no Mundial.
VER - Duas curiosas exposições, radicalmente diferentes: na Lx Factory, na galeria Netcast, Inês Norton evoca em "Zoom In Zoom Out" a arte africana a partir de fotografias de Pedro Norton de Matos, usando cores fortes, colagens, motivos étnicos; na Fundação das Comunicações (R D. Luis), Daniela Ribeiro faz interpretações da visão através da utilização de peças electrónicas de telemóveis numa instalação intitulada "Olho Biónico" e que é a mais conseguida mostra da artista até à data.
OUVIR - O mais recente disco do contrabaixista Carlos Bica foi gravado ao vivo em três concertos, na Culturgest, na Casa da Música e no Museu do Oriente, todos em 2008, e é um bom exemplo dos novos caminhos que Carlos Bica procura na sua música. Acompanhado por Matthias Schriefl no trompete, por João Paulo no piano, por Mário Delgado na guitarra eléctrica e João Lobo, na bateria, Bica mostra o seu talento de solista e de arranjador percorrendo temas da sua própria autoria (destaque para o enérgico "D.C." e também para "Canção Número Dois" e "Roses For You"), uma composição de João Paulo, outra de Marc Ribot e uma bela versão de "Paris, Texas", de Ry Cooder. É um grupo de músicos de eleição e o resultado destas três sessões de gravações ao vivo é absolutamente fora de série. CD Cleanfeed.
PROVAR - Se estiver perto do Conde Redondo e lhe apetecer um sabor do Líbano vá direito ao restaurante Fenícios. Rezam os livros que a cozinha libanesa tem influências árabes, turcas e francesas, um tempero delicado de grande variedade de especiarias e ervas aromáticas. Peça um sortido de entradas para começar e sentirá a diversidade dos paladares. Depois talvez um dos típicos pratos de borrego ou carneiro - peça conselho ao proprietário que ele gosta de ajudar na escolha. Para rematar prove um doce de pistáchios. A conta é razoável, o ambiente é simpático e a experiência é muito boa. Rua do Conde Redondo 141 A, telef 212448703.
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