Opinião
A esquina do Rio
INSPIRAÇÕES - O primeiro-ministro abriu a época eleitoral com uma campanha alinhada à esquerda e virada para o interior do PS. Levanta esse velho desígnio da esquerda que é castigar a riqueza e penalizar o sucesso e fez passar a mensagem
INSPIRAÇÕES - O primeiro-ministro abriu a época eleitoral com uma campanha alinhada à esquerda e virada para o interior do PS. Levanta esse velho desígnio da esquerda que é castigar a riqueza e penalizar o sucesso e fez passar a mensagem de que encarna o espírito de Robin Hood, mas como Fernando Sobral bem recordou neste jornal, Robin tinha por missão recuperar o dinheiro da excessiva cobrança de impostos que o xerife de Nottingham exercia contra o povo… Sócrates, se é parecido com alguém nesta história, é com o explorador de impostos e não com o justiceiro. Adiante: na realidade o primeiro-ministro foi recuperar um curioso slogan datado de 1975 e que era a palavra de ordem programática da UDP nesse ano: "Os ricos que paguem a crise". A origem e modernidade ideológica da moção de Sócrates ao congresso socialista está pois localizada.
PRÉMIO "VAI CHATEAR OUTRO" - Atribuído por unanimidade a Mário Lino, o ministro que mais perguntas de deputados deixa por responder. O homem continua a aplicar "jamais" - neste caso às respostas. Talvez seja mais fácil aproveitar um dos seus descontraídos momentos de final de almoço no Solar dos Presuntos para lhe fazer umas perguntas…
GERAÇÃO NULA - Estes meses têm mostrado uma coisa - muitos dos grandes bancos mundiais estão em péssima situação, cheios de activos tóxicos, muitas empresas financeiras que pareciam donas do Universo esboroaram-se que nem neve em dia de sol, grande número de consultores enganaram-se nas contas, nas previsões, nas estimativas e nos modelos de negócio. É caso para dizer que uma geração de gestores implacáveis repletos de MBA e de arrogância caiu à primeira dificuldade, depois de esbarrar nos acontecimentos e mostrou que não sabia aplicar conhecimentos nem trabalhar no mundo real.
ABSURDO - Nunca hei-de conseguir perceber as circunstâncias muito particulares em que se movimentam as empresas de futebol, antigamente chamadas clubes. No mundo real quem trabalha mal e falha resultados é despedido com justa causa - no mundo do futebol é dispensado com grandes indemnizações, fruto de contratos feitos por gestores que acreditam em milagres, na sorte, no carisma e noutros subjectivismos diversos. Em qualquer outro ramo de actividade seriam crucificados, no futebol são levados em ombros. O caso de Scolari é paradigmático: o vendedor de ilusões pode continuar a rir-se: a equipa que era suposta treinar não tem bons resultados, ele confirmou ser fraco líder, mas mesmo assim fez um belo encaixe financeiro.
DEFICIT - A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, anunciou uma iniciativa aberta a independentes, intitulada "Fórum Portugal", e que abordará uma larga série de temáticas. Mais uma vez a Cultura fica de fora do leque de preocupações, o que é um aborrecido deficit recorrente na política portuguesa e pode vir a ser um grande disparate. Na semana passada já tive oportunidade de lembrar que foi nos anos entre 1929 e 1939, a seguir à Grande Depressão, e graças a programas massivos de apoios, que o talento criativo nos Estados Unidos floresceu como em nenhuma outra época do século passado e ajudou o país a ganhar outro impulso. Já agora recordo, a este propósito, um artigo que Guta Moura Guedes escreveu no "Público" do passado dia 7, intitulado "Da importância da cultura em tempos de crise". Faço minhas as palavras da autora e, sobretudo este pedaço: "enquanto as prioridades não se centrarem nos conteúdos e nos recursos humanos, deixando para segundo lugar as construções mais visíveis, estaremos longe de fazer o necessário nesta área".
VER - A "Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea", fica em Almada e está situada no alto da parte velha da cidade, tem jardins magníficos e uma vista espantosa sobre Lisboa. Até 17 de Maio apresenta uma bela exposição baseada na colecção de gravuras do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (com obras de Almada, Mário Botas, Lourdes Castro, Man Ray, Matisse e Moore entre muitos outros) e duas exposições de fotografia - "Wall", de Rita Barros, e "De Passagem", de Graça Sarsfield - esta, de ambas, a mais interessante. Todos os dias menos segundas até às 18h00.
PROVAR - Na zona das Avenidas Novas lá vão abrindo alguns novos restaurantes como o "La Finestra", uma casa de comida italiana localizado onde em tempos foi o "Café Creme". As pizzas são a especialidade da casa - massa fina, pouco tomate, queijo q.b. sem abundâncias desnecessárias e boas combinações de outros ingredientes. Preços acessíveis, decoração luminosa e colorida, mesas confortáveis. Em matéria de pizzas fica no top 5 lisboeta. La Finestra - Av Conde de Valbom 52-A, tel 217 613 580.
LER - Num ano em que o país convidado da Arco de Madrid é a Índia, vem a calhar ler o magnífico "Uma Ideia da Índia", um conjunto de crónicas de viagem de Alberto Moravia, escritas no início da década de 60 para o "Corriere della Sera". A descrição dos locais, do funcionamento da sociedade indiana e da filosofia oriental são muito bem feitas, muito bem observadas. O livro, agora reeditado entre nós, está incluído numa nova colecção da editora "Tinta da China", dedicada a viagens, bem organizada e seleccionada por Carlos Vaz Marques. Boas capas, bom papel, bom grafismo - um exemplo raro nos dias de hoje.
OUVIR - Benny Golson é um dos mais importantes saxofonistas da fase do bepop e tocou com alguns dos maiores músicos da sua época. "The Best of Benny Golson" agrupa gravações feitas entre 1957 e 2004 e é uma compilação verdadeiramente preciosa para descobrir o talento de Golson, aqui ao lado de nomes como Art Blakey, Paul Chambers ou Art Farmer e Tommy Flannagan, entre outros.
BACK TO BASICS - A sociedade é um sistema de egoísmos maleáveis, de concorrências intermitentes - Fernando Pessoa.
PRÉMIO "VAI CHATEAR OUTRO" - Atribuído por unanimidade a Mário Lino, o ministro que mais perguntas de deputados deixa por responder. O homem continua a aplicar "jamais" - neste caso às respostas. Talvez seja mais fácil aproveitar um dos seus descontraídos momentos de final de almoço no Solar dos Presuntos para lhe fazer umas perguntas…
GERAÇÃO NULA - Estes meses têm mostrado uma coisa - muitos dos grandes bancos mundiais estão em péssima situação, cheios de activos tóxicos, muitas empresas financeiras que pareciam donas do Universo esboroaram-se que nem neve em dia de sol, grande número de consultores enganaram-se nas contas, nas previsões, nas estimativas e nos modelos de negócio. É caso para dizer que uma geração de gestores implacáveis repletos de MBA e de arrogância caiu à primeira dificuldade, depois de esbarrar nos acontecimentos e mostrou que não sabia aplicar conhecimentos nem trabalhar no mundo real.
ABSURDO - Nunca hei-de conseguir perceber as circunstâncias muito particulares em que se movimentam as empresas de futebol, antigamente chamadas clubes. No mundo real quem trabalha mal e falha resultados é despedido com justa causa - no mundo do futebol é dispensado com grandes indemnizações, fruto de contratos feitos por gestores que acreditam em milagres, na sorte, no carisma e noutros subjectivismos diversos. Em qualquer outro ramo de actividade seriam crucificados, no futebol são levados em ombros. O caso de Scolari é paradigmático: o vendedor de ilusões pode continuar a rir-se: a equipa que era suposta treinar não tem bons resultados, ele confirmou ser fraco líder, mas mesmo assim fez um belo encaixe financeiro.
DEFICIT - A líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, anunciou uma iniciativa aberta a independentes, intitulada "Fórum Portugal", e que abordará uma larga série de temáticas. Mais uma vez a Cultura fica de fora do leque de preocupações, o que é um aborrecido deficit recorrente na política portuguesa e pode vir a ser um grande disparate. Na semana passada já tive oportunidade de lembrar que foi nos anos entre 1929 e 1939, a seguir à Grande Depressão, e graças a programas massivos de apoios, que o talento criativo nos Estados Unidos floresceu como em nenhuma outra época do século passado e ajudou o país a ganhar outro impulso. Já agora recordo, a este propósito, um artigo que Guta Moura Guedes escreveu no "Público" do passado dia 7, intitulado "Da importância da cultura em tempos de crise". Faço minhas as palavras da autora e, sobretudo este pedaço: "enquanto as prioridades não se centrarem nos conteúdos e nos recursos humanos, deixando para segundo lugar as construções mais visíveis, estaremos longe de fazer o necessário nesta área".
VER - A "Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea", fica em Almada e está situada no alto da parte velha da cidade, tem jardins magníficos e uma vista espantosa sobre Lisboa. Até 17 de Maio apresenta uma bela exposição baseada na colecção de gravuras do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian (com obras de Almada, Mário Botas, Lourdes Castro, Man Ray, Matisse e Moore entre muitos outros) e duas exposições de fotografia - "Wall", de Rita Barros, e "De Passagem", de Graça Sarsfield - esta, de ambas, a mais interessante. Todos os dias menos segundas até às 18h00.
PROVAR - Na zona das Avenidas Novas lá vão abrindo alguns novos restaurantes como o "La Finestra", uma casa de comida italiana localizado onde em tempos foi o "Café Creme". As pizzas são a especialidade da casa - massa fina, pouco tomate, queijo q.b. sem abundâncias desnecessárias e boas combinações de outros ingredientes. Preços acessíveis, decoração luminosa e colorida, mesas confortáveis. Em matéria de pizzas fica no top 5 lisboeta. La Finestra - Av Conde de Valbom 52-A, tel 217 613 580.
LER - Num ano em que o país convidado da Arco de Madrid é a Índia, vem a calhar ler o magnífico "Uma Ideia da Índia", um conjunto de crónicas de viagem de Alberto Moravia, escritas no início da década de 60 para o "Corriere della Sera". A descrição dos locais, do funcionamento da sociedade indiana e da filosofia oriental são muito bem feitas, muito bem observadas. O livro, agora reeditado entre nós, está incluído numa nova colecção da editora "Tinta da China", dedicada a viagens, bem organizada e seleccionada por Carlos Vaz Marques. Boas capas, bom papel, bom grafismo - um exemplo raro nos dias de hoje.
OUVIR - Benny Golson é um dos mais importantes saxofonistas da fase do bepop e tocou com alguns dos maiores músicos da sua época. "The Best of Benny Golson" agrupa gravações feitas entre 1957 e 2004 e é uma compilação verdadeiramente preciosa para descobrir o talento de Golson, aqui ao lado de nomes como Art Blakey, Paul Chambers ou Art Farmer e Tommy Flannagan, entre outros.
BACK TO BASICS - A sociedade é um sistema de egoísmos maleáveis, de concorrências intermitentes - Fernando Pessoa.