Opinião
A esquina do Rio
Nas últimas semanas têm-se sucedido os anúncios de novos canais de televisão - Correio da Manhã, Bola, dois novos da TVI - (um de ficção e outro de entretenimento).
Televisão
Nas últimas semanas têm-se sucedido os anúncios de novos canais de televisão - Correio da Manhã, Bola, dois novos da TVI - (um de ficção e outro de entretenimento). Os indicadores mais recentes apontam para que em Portugal mais de 70% dos lares já utilizam televisão por assinatura - aquilo a que vulgarmente se chama TV Cabo. Este aumento brutal do número de utilizadores do cabo, é, em grande parte, devido à forma desastrada como o processo de transição para a TDT foi gerido. Mas, seja qual for a causa das coisas, agora a maior parte dos telespectadores vê televisão por cabo e, no futuro, a probabilidade é de a situação não se alterar e até de se aprofundar um pouco mais.
De forma quase sistemática, o conjunto de canais do cabo é já o segmento que regista valores mais altos de audiência, maior que qualquer dos canais generalistas. Por outro lado, parece ser cada vez mais provável que, para a próxima época, os jogos da Liga portuguesa não sejam transmitidos em nenhum canal aberto e apenas na Sport TV, que detém os direitos das transmissões. Esta situação não é nada de espantar, o mesmo acontece em vários países europeus, que há muito deixaram de ter futebol em canais gratuitos. Sucede que esta paisagem - proliferação de canais no cabo, aumento do universo de espectadores do cabo - é uma má notícia para a privatização da RTP, cujos contornos se continuam a desconhecer. De tal modo estão as coisas que, nos últimos tempos, há quem se questione sobre se surgirão candidatos a essa privatização - será sempre uma operação mais cara que o lançamento de novo canal - e embora os resultados sejam diferentes, também é certo que o risco é menor, até porque a publicidade no cabo aumenta e nos canais de sinal aberto diminui. Como a questão passou para a esfera política mais do que económica, quer dizer que começou a ficar irracional. A ver vamos se nenhum dos operadores de cabo vai ter, "in extremis", de engolir o veneno em que a privatização da RTP se arrisca transformar.
Ver
A fotografia em película tinha um processo criativo bem diferente da fotografia digital.
Cada rolo de película de 35 mm acomodava 36 imagens. Uma vez revelado, o rolo era a base de provas de contacto - folhas que reproduziam em tiras os negativos no seu tamanho original. E era daí que os fotógrafos escolhiam as imagens que consideravam ideais e que, posteriormente, ampliavam. É a partir deste método que o belga Jef Geys olhou para Lisboa. A exposição que está na Culturgest, no Campo Pequeno, até 2 de Setembro, mostra duas provas de contacto resultantes de outros tantos rolos de película utilizados para fotografar Lisboa, a preto e branco, em 1998. É simultaneamente um olhar sobre um método de trabalho que deixou de existir e uma interrogação sobre a forma como a fotografia pode evoluir. É um curioso registo de uma forma de olhar e de fotografar.
Gosto
Do apoio da PT às boas ideias de novos projectos, que pode ser visto no site vamosla.pt - precisam-se de mais empresas com a dinâmica de inovação e de intervenção social da PT, neste acaso através da TMN.
Ouvir
O novo disco de Neneh Cherry não é para ouvidos delicados e incapazes de aventuras. Trata-se de um disco de jazz como já é raro encontrar hoje em dia. Neneh, que é filha de Don Cherry, um trompetista marcante com quem Ornette Coleman gostava de tocar na década de 60.
Neneh começou carreira no pop e tem andando arredada de gravações a solo desde 1996 - à excepção de umas vocalizações esporádicas - por exemplo com Gorillaz.
Agora ressurge num disco atrevido, com um trio de músicos suecos e noruegueses que fazem da improvisação sem barreiras o seu estilo de eleição. Para Neneh Cherry, este álbum é um momento de redenção, onde todo o seu talento surge de forma clara. The Thing, o nome da banda, é uma homenagem a um tema homónimo de Don Cherry.
O "The Cherry Thing", assim se chama o disco, inclui quase só versões - apenas o tema de abertura, "Cashback", foi escrito por Neneh Cherry. Aqui podem encontrar "Golden Heart", de Don Cherry, "What Reason Could I Give", de Ornette Coleman, mas também surpresas como "Dirt", dos Stooges, ou uma interpretação absolutamente inesperada e arrebatadora de "Dream Baby Dream", dos Suicide (de Alan Vega) - engraçado que hinos punk sejam agora, passadas algumas décadas, homenageados pelo jazz improvisado. As coisas, afinal, não andam longe umas das outras. CD "Small Town Supersound", na Amazon.
Provar
Esta semana experimentei o QB, localizado na Quinta da Beloura, perto da entrada da zona de escritórios, numa das antigas casas originais da Quinta, remoçada há uns anos para a actual função. Fiquei a apreciar a robustez de um petisco de entrada que é uma morcela no forno com cebola e maçã caramelizadas, bem seguido por uns estimáveis pastéis de massa tenra com arroz de coentros. O serviço é eficaz, o local arejado e confortável, a lista de vinhos tem boas surpresas e a refeição correu da melhor forma. Na lista existem outras propostas como pastéis de bacalhau com o tradicional arroz de cenoura, bifes e iscas à portuguesa. Bom sítio para, por estes dias de Verão, fugir à ventania do Guincho rumo a uma almoçarada depois de uma partida de golfe. Telefone 219 240 166.
Arco da velha
O Ministério das Finanças é aquele onde a dívida a fornecedores mais aumentou no primeiro semestre deste ano - em casa de ferreiro espeto de pau.
Semanada
Os emigrantes que vêm a Portugal de férias, por automóvel, queixam-se de não receberem informação suficiente sobre as portagens electrónicas nas SCUT; os turistas estrangeiros deixaram em Portugal, de Janeiro a Abril, 475 milhões de euros, mais 15% que no ano passado; um ladrão roubou material de guerra da GNR à porta do quartel do Comando da corporação no Porto; no primeiro semestre deste ano, já se verificaram nas prisões portuguesas tantos suicídios como no total do ano passado; em Portugal, de Janeiro a Março, morreram 33 101 pessoas e nasceram apenas 20 794; por dia ficam falidos 25 particulares; compras da China a Portugal cresceram 64% este ano; António Costa declarou considerar ter "algumas qualidades" para ser secretário-geral do PS; António Costa admitiu querer alargar ao PCP a coligação nas próximas autárquicas de Lisboa; a CMVM detectou uma pessoa - que o Negócios descobriu tratar-se de Pais do Amaral - que exerce cargos na administração de 73 empresas cotadas em bolsa; taxa oficial de desemprego duplicou em quatro anos; a cobrança de impostos está a arrecadar menos receita do que em 2008, quando o IVA estava a 21%.
Folhear
A "Egoísta" de Junho é redonda e dedicada à noite. É redonda porque tem o formato de um círculo perfeito, à excepção de uma pequena pega na lombada, que serve para prender as páginas. Mário Assis Ferreira, o director da revista, recorda que "a noite é um hiato contínuo em metade das nossas vidas" - por alguma razão se diz que ela é boa conselheira. Esta noite, da "Egoísta", traz-nos fotografias de fantasia de Andreas Reinhold, fotografias testemunho de Augusto Brázio, fotografias memória de António Barreto, um magnífico texto de Fernando Sobral sobre a vida que não tem horas e um conto inesperado de Marta Jecu. Mais uma boa edição cheia de imaginação.Que seria de nós sem estas surpresas sazonais que a "Egoísta" nos proporciona?
www.twitter.com/mfalcao
mfalcao@gmail.com
www.aesquinadorio.blogs.sapo.pt
Nas últimas semanas têm-se sucedido os anúncios de novos canais de televisão - Correio da Manhã, Bola, dois novos da TVI - (um de ficção e outro de entretenimento). Os indicadores mais recentes apontam para que em Portugal mais de 70% dos lares já utilizam televisão por assinatura - aquilo a que vulgarmente se chama TV Cabo. Este aumento brutal do número de utilizadores do cabo, é, em grande parte, devido à forma desastrada como o processo de transição para a TDT foi gerido. Mas, seja qual for a causa das coisas, agora a maior parte dos telespectadores vê televisão por cabo e, no futuro, a probabilidade é de a situação não se alterar e até de se aprofundar um pouco mais.
De forma quase sistemática, o conjunto de canais do cabo é já o segmento que regista valores mais altos de audiência, maior que qualquer dos canais generalistas. Por outro lado, parece ser cada vez mais provável que, para a próxima época, os jogos da Liga portuguesa não sejam transmitidos em nenhum canal aberto e apenas na Sport TV, que detém os direitos das transmissões. Esta situação não é nada de espantar, o mesmo acontece em vários países europeus, que há muito deixaram de ter futebol em canais gratuitos. Sucede que esta paisagem - proliferação de canais no cabo, aumento do universo de espectadores do cabo - é uma má notícia para a privatização da RTP, cujos contornos se continuam a desconhecer. De tal modo estão as coisas que, nos últimos tempos, há quem se questione sobre se surgirão candidatos a essa privatização - será sempre uma operação mais cara que o lançamento de novo canal - e embora os resultados sejam diferentes, também é certo que o risco é menor, até porque a publicidade no cabo aumenta e nos canais de sinal aberto diminui. Como a questão passou para a esfera política mais do que económica, quer dizer que começou a ficar irracional. A ver vamos se nenhum dos operadores de cabo vai ter, "in extremis", de engolir o veneno em que a privatização da RTP se arrisca transformar.
Ver
A fotografia em película tinha um processo criativo bem diferente da fotografia digital.
Cada rolo de película de 35 mm acomodava 36 imagens. Uma vez revelado, o rolo era a base de provas de contacto - folhas que reproduziam em tiras os negativos no seu tamanho original. E era daí que os fotógrafos escolhiam as imagens que consideravam ideais e que, posteriormente, ampliavam. É a partir deste método que o belga Jef Geys olhou para Lisboa. A exposição que está na Culturgest, no Campo Pequeno, até 2 de Setembro, mostra duas provas de contacto resultantes de outros tantos rolos de película utilizados para fotografar Lisboa, a preto e branco, em 1998. É simultaneamente um olhar sobre um método de trabalho que deixou de existir e uma interrogação sobre a forma como a fotografia pode evoluir. É um curioso registo de uma forma de olhar e de fotografar.
Gosto
Do apoio da PT às boas ideias de novos projectos, que pode ser visto no site vamosla.pt - precisam-se de mais empresas com a dinâmica de inovação e de intervenção social da PT, neste acaso através da TMN.
Ouvir
O novo disco de Neneh Cherry não é para ouvidos delicados e incapazes de aventuras. Trata-se de um disco de jazz como já é raro encontrar hoje em dia. Neneh, que é filha de Don Cherry, um trompetista marcante com quem Ornette Coleman gostava de tocar na década de 60.
Neneh começou carreira no pop e tem andando arredada de gravações a solo desde 1996 - à excepção de umas vocalizações esporádicas - por exemplo com Gorillaz.
Agora ressurge num disco atrevido, com um trio de músicos suecos e noruegueses que fazem da improvisação sem barreiras o seu estilo de eleição. Para Neneh Cherry, este álbum é um momento de redenção, onde todo o seu talento surge de forma clara. The Thing, o nome da banda, é uma homenagem a um tema homónimo de Don Cherry.
O "The Cherry Thing", assim se chama o disco, inclui quase só versões - apenas o tema de abertura, "Cashback", foi escrito por Neneh Cherry. Aqui podem encontrar "Golden Heart", de Don Cherry, "What Reason Could I Give", de Ornette Coleman, mas também surpresas como "Dirt", dos Stooges, ou uma interpretação absolutamente inesperada e arrebatadora de "Dream Baby Dream", dos Suicide (de Alan Vega) - engraçado que hinos punk sejam agora, passadas algumas décadas, homenageados pelo jazz improvisado. As coisas, afinal, não andam longe umas das outras. CD "Small Town Supersound", na Amazon.
Provar
Esta semana experimentei o QB, localizado na Quinta da Beloura, perto da entrada da zona de escritórios, numa das antigas casas originais da Quinta, remoçada há uns anos para a actual função. Fiquei a apreciar a robustez de um petisco de entrada que é uma morcela no forno com cebola e maçã caramelizadas, bem seguido por uns estimáveis pastéis de massa tenra com arroz de coentros. O serviço é eficaz, o local arejado e confortável, a lista de vinhos tem boas surpresas e a refeição correu da melhor forma. Na lista existem outras propostas como pastéis de bacalhau com o tradicional arroz de cenoura, bifes e iscas à portuguesa. Bom sítio para, por estes dias de Verão, fugir à ventania do Guincho rumo a uma almoçarada depois de uma partida de golfe. Telefone 219 240 166.
Arco da velha
O Ministério das Finanças é aquele onde a dívida a fornecedores mais aumentou no primeiro semestre deste ano - em casa de ferreiro espeto de pau.
Semanada
Os emigrantes que vêm a Portugal de férias, por automóvel, queixam-se de não receberem informação suficiente sobre as portagens electrónicas nas SCUT; os turistas estrangeiros deixaram em Portugal, de Janeiro a Abril, 475 milhões de euros, mais 15% que no ano passado; um ladrão roubou material de guerra da GNR à porta do quartel do Comando da corporação no Porto; no primeiro semestre deste ano, já se verificaram nas prisões portuguesas tantos suicídios como no total do ano passado; em Portugal, de Janeiro a Março, morreram 33 101 pessoas e nasceram apenas 20 794; por dia ficam falidos 25 particulares; compras da China a Portugal cresceram 64% este ano; António Costa declarou considerar ter "algumas qualidades" para ser secretário-geral do PS; António Costa admitiu querer alargar ao PCP a coligação nas próximas autárquicas de Lisboa; a CMVM detectou uma pessoa - que o Negócios descobriu tratar-se de Pais do Amaral - que exerce cargos na administração de 73 empresas cotadas em bolsa; taxa oficial de desemprego duplicou em quatro anos; a cobrança de impostos está a arrecadar menos receita do que em 2008, quando o IVA estava a 21%.
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A "Egoísta" de Junho é redonda e dedicada à noite. É redonda porque tem o formato de um círculo perfeito, à excepção de uma pequena pega na lombada, que serve para prender as páginas. Mário Assis Ferreira, o director da revista, recorda que "a noite é um hiato contínuo em metade das nossas vidas" - por alguma razão se diz que ela é boa conselheira. Esta noite, da "Egoísta", traz-nos fotografias de fantasia de Andreas Reinhold, fotografias testemunho de Augusto Brázio, fotografias memória de António Barreto, um magnífico texto de Fernando Sobral sobre a vida que não tem horas e um conto inesperado de Marta Jecu. Mais uma boa edição cheia de imaginação.Que seria de nós sem estas surpresas sazonais que a "Egoísta" nos proporciona?
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