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Voltará o ensino (superior) a ser o mesmo?

Os fornecedores de tecnologia, assim como muitas outras organizações, estão prontos para um futuro que não regressa às “melhores práticas” do passado. Será uma pena se as universidades não aproveitarem a oportunidade, reimaginando programas educativos e métodos de aprendizagem à prova de futuro.

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Com a covid-19 testemunhámos a substituição do ensino presencial pelo ensino online, naquilo que se tornou a maior experiência tecnológica da história da Humanidade. Mas, quando a crise passar, o que restará da experiência de ensino online?

Alguns defendem que a resposta será: “Nada.” Porquê? Porque, na mente dos decisores políticos para a educação nacional, a instituição física simboliza uma história de ensino e investigação que não pode ser contestada. Pelo menos, em programas conferentes de grau, parece não haver espaço para qualquer outro paradigma de ensino superior convencional. Alguns colegas assinalaram a lamentável falta de preparação do ensino superior para esta transformação digital forçada, afirmando que “os estudantes não estão a ter uma verdadeira experiência universitária”.

Um bom ensino online requer treino, preparação e apoio. Isto já é sabido há muito tempo, mas, na verdade, nunca houve qualquer incentivo para a disrupção digital do ensino superior, particularmente porque a poupança de custos ou de tempo não era aparente. Os confinamentos forçaram a isso, mas a rapidez com que o ensino online teve de ser adotado não deu tempo para preparar estudantes e professores para desempenharem eficazmente os seus papéis no online. E o ensino online tem desafios significativos, não só para os professores, mas também para aqueles estudantes que não são nativos digitais.

Será que as instituições educativas devem, por isso, desistir e voltar às formas tradicionais quando este “pesadelo” desaparecer?

Nem por isso. O online já demonstrou o seu valor e aceitação entre os jovens profissionais, embora as agências reguladoras nacionais responsáveis por conferir qualificações académicas reconhecidas para efeitos de emprego e posições respeitadas na sociedade ainda não o tenham feito. Irá uma universidade, por exemplo, contratar um professor que obteve o seu diploma online?

Por outro lado, a entrega online é a única opção, em alguns casos – os profissionais que não podem deixar o trabalho para assistir às aulas, pais que ficam em casa, estudantes que vivem em comunidades rurais ou pessoas com outros compromissos de vida.

É certo que o segmento da formação para executivos tem sido o mais afetado pela pandemia, mas, ao mesmo tempo, tem sido também o mais inovador. Com clientes empresariais condicionados por não quererem ou não poderem viajar devido à covid, as escolas de negócios tiveram de repensar a forma de cumprir os seus objetivos de desenvolvimento. De acordo com o inquérito de 2020 da UNICON (um consórcio global de instituições na formação para executivos), a percentagem de escolas a usar plataformas de aprendizagem síncrona (ao vivo, em tempo real), em 2020, era de 98%. Implementaram ensino online síncrono, com salas digitais de breakout, chats e ferramentas de colaboração, tudo isto com um resultado positivo no envolvimento dos participantes. As escolas adaptaram-se, melhorando a infraestrutura técnica, concentrando-se na experiência dos participantes online, e encorajando os professores a colaborar regularmente com os designers educativos. E estas abordagens “human-centric” têm sido eficazes no fornecimento de experiências de aprendizagem de alta qualidade, de acordo com o inquérito.

Mas a educação online não é nem mais barata nem mais fácil. Exige mais trabalho para que o professor possa proporcionar os mesmos resultados de aprendizagem que um curso presencial tradicional. A entrega online custará mais do que a entrega presencial: ou haverá mais custos para entregar o mesmo nível de qualidade, ou haverá consequências (e custos) de entregar uma experiência de má qualidade ou, pior ainda, de não alcançar os resultados de aprendizagem.

Com todas estas questões, é compreensível que muitas instituições estejam a ponderar colocar todo este inconveniente para trás das costas. Claro que, em público, alguns diretores de escolas fazem declarações como “a covid-19 acelerou a mudança em direção ao digital”. “Esta tendência vai continuar após a covid-19 e precisamos de pensar em como responder a esta oportunidade...”. Mas isto soa a vazio. Onde está o roadmap de transformação digital pós-covid destas instituições? A maioria delas não o tem.

No caso de Portugal, tenho muito orgulho em dizer que na Porto Business School esse roadmap existe. Numa entrevista recente, à revista Forbes, a diretora do nosso Digital MBA, Rosário Moreira, explicou como a preocupação com a inovação e o digital estiveram sempre na base da formação da Porto Business School”, dando o exemplo recente do Digital MBA, que surgiu “no meio da necessidade de nos adaptarmos a esta nova realidade”. Num momento em que o crescimento tecnológico e as inovações digitais ganham cada vez mais relevância na sociedade, o Digital MBA, lançado em plena pandemia, oferece uma solução única para quem pretende liderar empresas com foco no futuro.

Nestes tempos sem precedentes, as instituições de ensino não deveriam ansiar por regressar ao “business as usual”, mas sim revisitar os seus conceitos de ensino e aprendizagem. Deveriam encarar o momento como uma oportunidade de transformação. Este é o momento de experimentação e validação. A legitimidade do ensino online e híbrido precisa de ser estabelecida para que todos os interessados a vejam. O ensino online será revitalizante para as próximas gerações de estudantes, com os seus crescentes estilos de vida digitais.

Os fornecedores de tecnologia, assim como muitas outras organizações, estão prontos para um futuro que não regressa às “melhores práticas” do passado. Será uma pena se as universidades não aproveitarem a oportunidade, reimaginando programas educativos e métodos de aprendizagem à prova de futuro.

 

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