Opinião
Tempo de celebrar a liderança Feminina?
É tempo de celebrar a vaga de mulheres que estão a assumir novos e por vezes inéditos, papéis de liderança. Uma maior diversidade vai beneficiar as organizações em termos de desempenho, resultados, ética e de uma cultura mais inclusiva.
Os recentes avanços das mulheres em papéis-chave de liderança nos negócios, no ensino superior e no governo são vistos por muitos como sinais positivos de mudança. Isto leva-nos a refletir sobre o impacto desta onda de diversidade na liderança. Irá a diversidade de género transformar as organizações e terá um impacto positivo para as mulheres? Talvez sim, talvez não.
A investigação nas últimas três décadas corrobora a relação entre a representatividade das mulheres em posições de liderança e os resultados positivos nas organizações. Por exemplo, empresas com mulheres na sua liderança aumentaram as receitas de vendas e melhoraram resultados em determinadas dimensões de desempenho do mercado. Além disso, a representatividade feminina nos conselhos de administração está positivamente relacionada com o desempenho financeiro de uma empresa.
No setor público, o aumento do número de mulheres nos parlamentos também é um desenvolvimento positivo. Estudos mostram que as mulheres legisladoras patrocinam mais leis, aprovam mais leis que beneficiam as mulheres no local de trabalho e investem mais dinheiro nos seus distritos. Uma onda que poderá ter um efeito em cascata, uma vez que está demonstrado que um aumento de mulheres em cargos públicos pode inspirar mais mulheres jovens a considerar a política.
Apesar da ascensão das mulheres aos cargos de liderança ser um sinal de progresso, o desafio não termina aí. Estudos demonstram que, uma vez num papel de liderança, as mulheres detentoras de poder são vistas como menos legítimas do que os líderes masculinos, o que pode levar a um comportamento negativo dos subordinados e reduzir a sua cooperação. Assim, uma vez chegada ao topo da hierarquia na liderança, a experiência da mulher pode ser muito diferente da experiência dos seus homólogos, pois as mulheres enfrentam uma ampla variedade de perceções e experiências negativas. De acordo com um relatório da McKinsey & Company, 64% das mulheres sofrem microagressões no trabalho. À medida que mais mulheres vão alcançando posições de topo nas organizações, a sua experiência como sendo a "única" na sua organização expõe-nas a experiências piores e a um maior escrutínio do que se fossem "uma entre muitas".
Outro potencial obstáculo para mulheres em cargos de liderança é o perigo do "precipício de vidro", um fenómeno confirmado por investigação levada a cabo nos EUA, que acontece quando as mulheres alcançam posições de liderança durante períodos de recessão, crise, conflito ou fracasso dentro da organização. Tarefas de alto risco para a liderança, nas quais as mulheres e outros líderes, por circunstância da diversidade, podem arcar com a culpa, caso a situação não melhore rapidamente sob a sua liderança. Assim, as mulheres que quebraram a barreira de vidro para alcançar altos cargos de liderança, podem cair no precipício, se a organização não se recuperar dos problemas que herdou.
Terá a sociedade chegado a um ponto de viragem, no que diz respeito à liderança no feminino?
Talvez sim. É tempo de celebrar a vaga de mulheres que estão a assumir novos e por vezes inéditos, papéis de liderança. Uma maior diversidade vai beneficiar as organizações em termos de desempenho, resultados, ética e de uma cultura mais inclusiva. Servirá também como um catalisador para que as gerações mais jovens considerem, procurem e sejam bem-sucedidas na conquista de papéis de liderança no futuro.
Talvez não. Audrey J. Murrell, diretora do Centro David Berg para a Ética e Liderança da Universidade de Pittsburgh afirma que a onda de mulheres na liderança não é garantia de que as suas experiências serão universalmente positivas. Permanece a necessidade das organizações criarem um ambiente de trabalho seguro e respeitoso, particularmente para a liderança diversificada e que a escolha de mulheres não aconteça apenas em momentos de crise ou para tarefas de alto risco.
Alcançar a igualdade e incentivar todos os géneros a participar como agentes de mudança e agir contra os estereótipos deve ser missão de todos. Na Porto Business School, um grupo de antigos alunos fundou o Clube WiB (Women in Business), que promove iniciativas para sensibilizar, debater e agir sobre o tema. E muito recentemente, a Porto Business School promoveu uma conferência sobre liderança feminina. Iniciativas como estas permitem alertar para os preconceitos inconscientes que ainda persistem, divulgando exemplos e promovendo modelos que possam servir de referência.
Todos nós temos uma responsabilidade e um papel a desempenhar neste esforço. A transformação completa da equidade de género na liderança ocorrerá não apenas quando os números mudarem, mas também quando a diversidade e a inclusão no topo da hierarquia organizacional forem tratadas como prioridade máxima nos negócios, no ensino superior e no governo.
Porto Business School