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Dia da Mulher e Igualdade de Género

É inaceitável que se permita que uma sociedade se desenvolva com tamanha falta de respeito por quem é fisicamente mais fraco. Simplesmente, basta. Está na altura de virar a página.

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Em plena semana de Carnaval, com pausa nas aulas da maior parte das universidades e tolerância de ponto no Estado, muitos têm a oportunidade de tirar a máscara de profissionais sérios de um ano inteiro e assumirem uma postura mais descontraída em dias de folia. Não sou grande entusiasta dos festejos do Carnaval, pelo que apenas observo as imagens que a televisão me traz de paragens tropicais, de corpos bronzeados movendo-se a ritmo de samba.

 

Este ano, o carnaval coincide com a semana em que se celebra o Dia da Mulher. A mulher no seu todo, corpo semivestido exposto e decorado num cortejo de carnaval, a mulher mãe e avó, a mulher esposa, a fada do lar, a menina na escola a brincar e a aprender, a jovem adulta a iniciar uma vida profissional, a mulher no cabeleireiro, na depilação, de sobrancelhas, mãos e pés arranjados, a mulher profissional com um guarda-roupa variado e atual, a mulher que não tem tempo para tudo num dia com 24 horas, mulheres diferentes. A verdade é que vida não está fácil para ninguém, mulher ou homem, que queira conciliar vida profissional com vida pessoal em 2019. Parece que a maior rapidez com que a informação e a imagem viajam também acelerou a forma como temos de agir, decidir e comunicar. A exigência é muita, para todos.

 

Mas, historicamente, as mulheres não têm tido um caminho fácil no reconhecimento das suas competências intelectuais e profissionais. Não posso deixar de assinalar que, no dia 8 de março, é importante recordarmos as muitas conquistas que as mulheres têm vindo a obter. Na realidade, são conquistas para a humanidade e não apenas para as mulheres. Em pleno século XXI é surpreendente que tenhamos de discutir quotas para mulheres em cargos de direção (ou homens, caso fossem eles a minoria nesses cargos) - se, há 20 anos atrás eu me teria oposto fortemente à imposição dessas quotas (por achar ofensivo que as mulheres fossem alvo dessa "ajuda"), hoje verifico que os números que temos são, de facto, dececionantes, e que as quotas podem ser mesmo necessárias para que se crie o hábito de ver mulheres em certas posições de liderança, em particular no meio empresarial. Os cavalheiros que me perdoem, mas não podem ser "os cotas" a conviverem apenas entre si e "as quotas" irão fazer o seu caminho, até que se deixe de falar delas. Está na altura de virar a página.

 

Pago o preço de ser mulher numa função de liderança ao verificar que isso é um tema em si mesmo, algo que para mim pessoalmente nunca tinha sido uma preocupação - não me consigo esquivar à pergunta do que é que significa ser uma mulher a ocupar o cargo ou como é que isso afeta a tomada de decisão, por exemplo. Eu não desempenho as minhas funções por ser mulher, mas sim por ser economista, doutorada pela London Business School, professora catedrática, etc. Mas responderei sempre a todas essas perguntas sobre género com o enorme respeito que devo a todas as mulheres que tenham sido negativamente discriminadas até hoje e a todos os que lutaram pela igualdade. Está na altura de virar a página.

 

Coincide, também, com a semana do Dia da Mulher um debate alargado sobre violência doméstica, a qual vitima diariamente muitas mulheres. É inaceitável que se permita que uma sociedade se desenvolva com tamanha falta de respeito por quem é fisicamente mais fraco. Simplesmente, basta. Está na altura de virar a página.

 

Na minha escola, com uma presidente mulher pela primeira vez em mais de 100 anos, o Dia da Mulher vai ser vivido celebrando a igualdade - sem qualquer discriminação. Celebraremos todos, por igual. Que me perdoem as senhoras que gostariam de receber no dia 8 de março uma flor e uma mensagem à escola que dissesse que o instituto é mais bonito graças às suas mulheres. Não, de mim não saem essas frases algo discriminatórias. O ISEG, como qualquer outra organização, é melhor por ter pessoas diferentes umas das outras, mulheres e homens de todos os tipos, sem discriminar, a quem é dada igual oportunidade e reconhecimento - pelo menos é esse o nosso objetivo, que partilhamos com a agenda das Nações Unidas, no seu objetivo 5 de Igualdade de Género para um desenvolvimento sustentável. Todos diferentes, todos iguais.

 

Vamos celebrar o dia internacional da mulher distribuindo a cada colaborador(a) uma garrafa de água moderna, bonita, reutilizável e 100% sustentável do ponto de vista ambiental, para contribuir para reduzir o consumo de plástico no ISEG e no planeta. Não vão ser garrafas cor de rosa e azuis, vão ser de muitas cores diferentes e cada um(a) escolhe aquela de que gostar mais. Mulheres e Homens, unidos por um futuro comum. Está na hora de virar a página.

 

PS - É Carnaval, ninguém leva a mal... mas há que seguir em frente e virar a página.

 

Dean do ISEG - Lisbon School of Economics & Management, Universidade de Lisboa

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