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Rui Lopes Ferreira - CEO na Super Bock Group 09 de Junho de 2021 às 09:20

Dois desafios para as empresas portuguesas

Conferir as aptidões certas para desempenhar, com motivação, as respetivas tarefas potenciará a criação de um tecido empresarial em Portugal mais dinâmico, inovador e competitivo, e seguramente, mais produtivo.

2 P’s, Produtividade e Pessoas. Duas palavras e dois temas que entendo que estão fortemente interconectados, e são fundamentais para pôr o nosso país em mais ambiciosos patamares de crescimento e desenvolvimento.

 

A ordem não é arbitrária, e por isso foco-me primeiro nas Pessoas. São a essência de tudo e, em particular, o talento existente nas empresas e nas organizações é o ativo mais importante, o fator diferenciador a médio e longo prazo e, consequentemente, mais gerador de valor. Precisamos de "fazer diferente" dos outros, bem e melhor para, no fim do dia, gerarmos riqueza para todos, ou seja, para os colaboradores, empresas e país.

 

Temos hoje, reconhecidamente, a geração mais bem preparada de sempre no nosso país. Então porque são as Pessoas um desafio? Poderia parecer estar resolvido com esta capacitação superior. Mas não está. Porque é preciso responder a duas perguntas: (i) Esta capacitação superior verifica-se nas áreas adequadas e necessárias? (ii) É esta capacitação suficiente para assegurar a eficácia e o desempenho necessários?

 

Em ambos os casos a resposta é não. Porque a rapidíssima evolução digital e das tarefas a cargo das Pessoas está a sofrer uma quase revolução, com transições inevitáveis, desde a digitalização dos serviços e processos até à criação de novos modelos de negócio direcionados para novas necessidades do consumidor e, acima de tudo, mais sustentáveis.

 

Mas também porque a preparação e qualificação técnica são hoje uma condição necessária, mas não suficiente para um bom desempenho. A interligação com "soft skills" exigentes, preparando lideranças intermédias robustas, e dotando os quadros para não apenas executar tarefas, mas antes criar soluções e resolver problemas, com criatividade e inspiração, e sobretudo usando sentimentos e emoções de forma inteligente.

 

É neste contexto que as empresas têm de investir na requalificação e recolocação das suas Pessoas para que incorporem estes desafios. Ninguém pode ficar para trás e sabemos que há profissões hoje que não vão existir amanhã. Conferir as aptidões certas para desempenhar, com motivação, as respetivas tarefas potenciará a criação de um tecido empresarial em Portugal mais dinâmico, inovador e competitivo, e seguramente, mais produtivo.

 

O que nos leva ao segundo P, a Produtividade, área em que o país não se encontra numa boa posição. Na Pordata, verificamos que a taxa de crescimento média anual da produtividade nesta última década foi de 1,6%, muito baixo! Nos 15 anos anteriores tinha sido de 4,6%/ano. A batalha pela produtividade tem de constituir um desígnio nacional, para sermos mais competitivos, e o ambicionado e necessário crescimento aparecerá, por contrapartida duma estagnação anémica.

 

Importa perceber as razões por que tal sucedeu nos últimos anos, e não será a recente pandemia a explicar tudo. Talvez consequência de menos investimento? Ou de menor qualidade do investimento? Ou até de investimento mal direcionado? Creio que aqui poderemos encontrar algumas respostas já que os bens não transacionáveis (sujeitos a menos concorrência e, portanto, com menos pressão de produtividade) têm absorvido uma fatia significativa do investimento em Portugal. Inverter esta situação é um grande desafio, não apenas para o tecido empresarial, mas também para o Estado e a administração pública.

 

Apesar de tudo têm-se observado nesta matéria bons progressos nas empresas, marcados por um bom ritmo da internacionalização e crescente investimento em I&D. Importa, todavia, querer mais. São as empresas com boa capacidade de I&D que conseguem endereçar mercados mais apetecíveis, promover empregos de maior qualidade, mais bem pagos, criar cadeias de valor mais sustentáveis e, assim, tornarem-se mais competitivas.

 

Este é um momento-chave para pensar e, sobretudo, agir rapidamente, com vista a uma recuperação económica consistente e melhorarmos as perspetivas de crescimento do país a longo prazo. Com as Pessoas e a Produtividade a evoluírem de forma alinhada e no ritmo certo, sairemos certamente mais fortes do atual momento.

 

 

Na próxima semana, leia a opinião de José Gonçalves (Accenture).

Palavra de Gestor é uma parceria entre o Negócios e o Fórum dos Administradores e Gestores de Empresas dando a palavra aos seus associados.

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