Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Chipre e o fim do euro

A confiança nos políticos europeus está nas ruas da amargura, porque já se perdeu a conta às vezes que eles disseram que algo não se iria fazer, para ser feito pouco tempo depois. Mas agora, a perda de confiança estende-se à banca, com previsíveis impactos terríveis na economia e no emprego.

O enorme sector bancário cipriota (sete vezes o PIB do país) levou este Estado a pedir finalmente ajuda, uma inevitabilidade arrastada há demasiados meses. No entanto, pela primeira vez na zona do euro, pede-se que sejam os depositantes a suportar parte dos custos. Há vozes contraditórias sobre quem pediu que todos os pequenos depositantes também fossem abrangidos, mas o facto é que o eurogrupo aceitou este elemento do programa de resgate. 


Ninguém consegue perceber como é que foi possível que, por unanimidade, os ministros das Finanças da zona do euro tivessem aceite algo que teria consequências devastadoras na confiança no sistema bancário nos países periféricos. Mas surge imediatamente a frase: "Os deuses enlouquecem aqueles que querem perder".

O mais irónico disto tudo é que o parlamento de Nicósia votou contra as perdas a qualquer depositante. Ou seja, corre-se o risco de se ter criado um custo brutal sem o menor benefício.

A UE ou a zona do euro deveriam dar e não emprestar dinheiro a Chipre, já que as condições do resgate cipriota iriam introduzir uma brutal externalidade negativa sobre toda a zona do euro.

Mas, infelizmente, dar dinheiro está proibido, para manter a ficção de que os Estados não vão perder dinheiro. É verdade que quebrar este tabu, a poucos meses das eleições alemãs, poderia ter resultados políticos catastróficos, mas ao não se ajudar Chipre de forma correcta estão-se a criar as condições para problemas terríveis nos países periféricos.

Com a ideia de perdas dos depositantes nesta ilha mediterrânea vai-se quebrar a confiança nos bancos de muitos outros países, onde até já tem havido uma forte fuga de depósitos. Esta fuga só pode agora intensificar-se e desestabilizar as respectivas economias.

A confiança nos políticos europeus está nas ruas da amargura, porque já se perdeu a conta às vezes que eles disseram que algo não se iria fazer, para ser feito pouco tempo depois. Mas agora, a perda de confiança estende-se à banca, com previsíveis impactos terríveis na economia e no emprego.

A mais do que provável fuga de depósitos irá obrigar os bancos a recorrer ao BCE, o que na prática significará o aumento do saldo credor do Bundesbank face aos bancos centrais nacionais periféricos.

Como já aconteceu no passado, isso deverá levar a novas declarações fortes do banco central alemão, que só podem causar ainda mais aflição ao eleitorado alemão. Relembre-se que o Bundesbank aumentou ainda recentemente as suas provisões para perdas devido à sua exposição às perdas potenciais do BCE.

Este novo acontecimento, associado a tudo o que já se passou desde finais de 2009, só pode confirmar a suspeita de que o euro é um edifício fragilíssimo. Sendo assim tão frágil, mais tarde ou mais cedo terá de ruir. No meu livro "O fim do euro em Portugal?" (Editora Actual, do grupo Almedina) previ que o euro acabaria no nosso país até ao final de 2012. Como já errei nesta previsão, não vou avançar com mais nenhuma data, mas não ficaria absolutamente nada surpreendido se o euro acabasse nos próximos meses.

Nota: As opiniões expressas no texto são da exclusiva responsabilidade do autor

Director Executivo do Nova Finance Center, Nova School of Business and Economics

pbteixeira3@gmail.com

http://pbteixeira.blogspot.com/

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio