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Opinião
29 de Junho de 2020 às 19:40

Das soberanias para as políticas comuns

Ou a união de políticas para a Europa aproveita os recursos da união monetária e a escala do mercado interno comum, ou os Estados soberanos europeus serão Estados sem poder e sem defesa, cisnes moribundos cercados por cisnes negros.

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A FRASE...

 

"Não são dias de união e é dos que a proclamam que mais devemos desconfiar."

Francisco Louçã, Expresso, 27 de Junho de 2020

 

A ANÁLISE...

 

As consequências da nova peste mostram o efeito do cisne negro quando este aparece no meio dos cisnes brancos que há muito têm estado a ser alimentados dentro da estrutura de ordem mundial. A covid-19 é o cisne negro, não se sabe quando desaparecerá ou quando mudará de cor. Mas os equilíbrios instáveis, que já estavam em desenvolvimento nos sistemas global, regional e nacional, mudaram de natureza e evoluem agora para se tornarem desequilíbrios incontroláveis.  Pior do que as mortes da peste são a desordem mundial (os Estados Unidos rejeitam as instituições e os acordos multilaterais, repudiam alianças, retiram soldados da Alemanha e consideram a NATO desactualizada), a instabilidade regional (a Europa sem a Grã-Bretanha persiste no debate sobre como articular soberanias nacionais) e a impotência da soberania nacional (sem recursos para resolver o endividamento e as exigências da defesa se for consumado o desinteresse dos Estados Unidos pela defesa dos Estados europeus). Estes três conhecidos cisnes brancos podem matar muito mais do que a peste quando esta, por contágio, os torna cisnes negros.

 

Ao paralisar as sociedades com a distância social por medo do contágio e ao congelar as economias interrompendo os fluxos económicos e impossibilitando o funcionamento dos mercados, a covid-19 deixa os Estados soberanos no primeiro plano - mas só para reconhecerem que não têm poder para resolver a crise de endividamento e as necessidades da defesa, os ácidos em que dissolvem essa sua soberania. A soberania nacional na Europa não serve para nada se não houver uma ordem mundial que a reconheça e a enquadre, e se não houver um quadro de instituições europeias que permita formular e financiar um sistema de políticas comuns.

 

O poder soberano do Estado nacional europeu é irrelevante perante a actual proliferação de cisnes negros. Ou a união de políticas para a Europa aproveita os recursos da união monetária e a escala do mercado interno comum, ou os Estados soberanos europeus serão Estados sem poder e sem defesa, cisnes moribundos cercados por cisnes negros.

 

Artigo em conformidade com o antigo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

 

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