Opinião
A pretensão do conhecimento
A sociedade é uma realidade complexa. E o futuro incomensurável. Em economia, as formulações matemáticas podem apoiar a definição das naturezas gerais de padrões sociais. Podem ajudar na descrição abrangente das interdependências mútuas de diferentes eventos, mesmo não mensuráveis. Mas não servem para prever o futuro. Porque lhes falta informação fundamental.
A FRASE...
"Dívida só regressa a 60% do PIB dentro de três décadas. Simulação do ISEG calcula que só na década de 40 Portugal voltará a cumprir o limite do Pacto de Estabilidade. E mesmo isso implica austeridade"
Expresso Economia, 7 de Dezembro de 2013
A ANÁLISE...
Em 11 de dezembro de 1974, Friederich Hayek escreveu o seu texto em memória de Alfred Nobel com o título de "A Pretensão do Conhecimento" que aqui utilizo.
As previsões macroeconómicas abundam nos organismos internacionais e governamentais. Nas instituições financeiras. Nas escolas superiores de economia. E nos meios de comunicação social. Todas perspetivam o futuro em duas linhas de previsão. Algumas trazem o futuro promissor nos números de um orçamento salvador. Outras pintam de cinzento todas as peças de qualquer possível solução. Muitos dados aparentemente científicos. Modelos matemáticos de última geração. Pressupostos e cenários para qualquer gosto. A sociedade transformada em somas, subtrações e deambulações informáticas. O futuro, por vezes, nas mãos da imaginação.
A sociedade é uma realidade complexa. E o futuro incomensurável. Em economia, as formulações matemáticas podem apoiar a definição das naturezas gerais de padrões sociais. Podem ajudar na descrição abrangente das interdependências mútuas de diferentes eventos, mesmo não mensuráveis. Mas não servem para prever o futuro. Porque lhes falta informação fundamental. Como referia Hayek.
Uma previsão a 30 anos é um ato de fantasia. Desconhecimento da realidade. Ignorância da complexidade. Erro de metodologia. Ou manipulação de hipóteses e cenários. Apesar da universidade, que, no caso, até é a minha. Muitas vezes foge-nos o bom senso e o rigor. E fica a pretensão do conhecimento.
Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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