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15 de Abril de 2021 às 09:20

Riscos da Europa

O processo de integração europeia tem tido momentos de crescimento e consolidação e momentos de crise e perspetiva de desintegração.

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"A diferenciação é uma característica cada vez mais saliente da integração europeia."


B. Leruth, S. Ganzle e J. Trondal

Journal of common market studies, Setembro de 2019


O processo de integração europeia tem tido momentos de crescimento e consolidação e momentos de crise e perspetiva de desintegração. Os interesses próprios de 27 nações soberanas, o compromisso de parte da soberania que a pertença à União implica para cada um deles e a manutenção de grandes diferenças entre si em termos de indicadores económico-financeiros e sociais, qualidade das instituições e objetivos específicos das suas populações nacionais, são de conciliação por vezes quase impossível e têm colocado, nos últimos 15 anos, a perspetiva de dissolução como algo possível, ainda que indesejável, mais do que uma distante hipótese teórica. Esta diversidade, que é enriquecedora nos momentos mais favoráveis, torna-se causa de preocupação acrescida nos momentos de maior provação, como o atual. Como a vamos coletivamente ultrapassar será particularmente importante para uma economia relativamente pobre, periférica e dependente como a nossa.

A frase que cito, de 2019, mostra que algumas das principais fontes de problemas na União remontam a um passado já distante e, pelo menos no plano económico, foram ampliadas nas crises sucessivas de 2008 (financeira) e de 2011-12 (das dívidas soberanas da periferia, em parte resultante da primeira), a despeito do progresso obtido nos meios comuns usados para combater os seus efeitos e do papel inestimável do Banco Central Europeu na oferta de um paliativo temporário que combateu eficazmente os sintomas mais prementes das dificuldades das economias endividadas do Sul. Neste contexto, a que deveremos somar as consequências do evento sanitário que vivemos, os riscos para o futuro tenderão a ser amplificados caso a Europa não consiga fazer, ao contrário do que já ocorreu noutras circunstâncias do passado, a transformação da adversidade em oportunidade, saindo porventura reforçada desta sucessão de eventos negativos que tem vindo a enfrentar.

Acontece que o contexto não é favorável e as lideranças parecem não estar à altura, quer de algumas que as precederam quer da complexidade do contexto e da situação vivida. A resposta à pandemia, quer no plano financeiro quer no programa vacinal, não é bom pronúncio. O atraso na resposta à crise face aos EUA e à China não ajuda e a anestesia do BCE não será eterna. Jogamos muito do nosso futuro no desenvolvimento futuro da União nos próximos anos, até porque nos últimos 20 especializámo-nos em maximizar a nossa dependência.



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