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31 de Agosto de 2020 às 19:40

Falta de comparência

O centro, a direita e a esquerda democráticas têm ganho, de há muito a esta parte, todos os combates. Não devem e não podem perder o que se vai incipientemente desenrolando por falta de comparência.

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A FRASE...

 

"Portugal necessita de um esclarecimento político essencial e de um esforço comum capazes de fundamentar coesão, decência e desenvolvimento para os próximos anos."

António Barreto, Público, 23 de agosto de 2020 

 

A ANÁLISE...

 

No Verão em que sabemos, durante a mais grave emergência de saúde pública no período de um século, que a economia portuguesa vai voltar aos níveis do ano 2000, e quando o prazo e as condições para a recuperação são ainda incertos, parte substancial da opinião publicada concentra-se em temas que pouco ou nada têm a ver com a discussão aprofundada do que fazer agora e no futuro próximo para diminuir o enorme custo social e económico que as actuais circunstâncias acarretam.

 

O mesmo aconteceu com a versão local do plano de reconstrução da União Europeia. Soube-se segunda-feira que o mesmo mereceu cerca de 700 comentários escritos, mas o debate público foi muito inferior ao que um projecto de ações, medidas e investimentos, que irão formatar boa parte do nosso desempenho colectivo nas próximas décadas, certamente mereceria. Estamos, assim, num período em que os partidos e principais agentes políticos do nosso regime democrático decidem não aproveitar as circunstâncias para expor, desenvolver e explicar aos portugueses o que, no campo da democracia e da liberdade, farão ou fariam, no caso da oposição, para mitigar o enorme custo social e económico das actuais circunstâncias e como aproveitar a grande oportunidade (ou desapontamento) que o plano de reconstrução pode e deve vir a ser. É certamente a última oportunidade para várias gerações de pôr de novo o país na senda de um progresso sustentável para todos os portugueses. Limitar o debate a pouco mais do que uma discussão sobre os que apoiam e os que desaprovam as opções quanto ao hidrogénio verde, por muito importantes que estas sejam, e são, é uma caricatura penosa do debate público que deveríamos estar a ter.

 

Entretanto, o espaço de debate sério sobre o estado do país e as suas opções é substituído pelas agendas dos extremos radicais que veem na actual adversidade o momento ideal para imporem as suas agendas, condicionarem os seus adversários e, em última instância, porem em causa o futuro livre e democrático de Portugal. O centro, a direita e a esquerda democráticas têm ganho, de há muito a esta parte, todos os combates. Não devem e não podem perder o que se vai incipientemente desenrolando por falta de comparência.

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.

maovisivel@gmail.com

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