Opinião
O serviço público da RTP
A informação dos seus canais de televisão e da rádio primou por ser exacta sem ser alarmista, didáctica sem ser enfadonha, promoveu debates, chamou especialistas, não foi sensacionalista.
"A ciência pode estabelecer limites ao conhecimento, mas não deve estabelecer limites à imaginação."
Bertrand Russell
O serviço público da RTP
Espero que nestes últimos meses alguns dos adeptos da extinção do serviço público audiovisual tenham acompanhado a actividade da RTP, quer na televisão, quer na rádio ou online. A informação dos seus canais de televisão e da rádio primou por ser exacta sem ser alarmista, didáctica sem ser enfadonha, promoveu debates, chamou especialistas, não foi sensacionalista. Pelo meio, foi estreando novas séries, umas melhores que as outras, claro, num caminho longo que tinha de ser começado algum dia. Nestes meses, a RTP mostrou o que é serviço público: alternativa, referência, complementaridade. Além disso, conseguiu colocar no ar em tempo recorde as emissões escolares para vários graus de ensino, esteve presente sem ser subserviente em todos os momentos de intervenção dos órgãos de soberania na condução do combate à pandemia. Sem futebol, as suas audiências desceram, mas a boa notícia é que estabilizaram em valores aceitáveis no caso da RTP1, e seria bom terem um empurrão criativo na informação, programação e na promoção no caso da RTP2. A RTP3, no conjunto das emissões de cabo e TDT, conseguiu um bom resultado, logo atrás da SIC Notícias e à frente da TVI24 no acumulado desde o início do ano. E a plataforma RTP Play, que funciona em streaming nas emissões da rádio e televisão, permite, além das emissões em directo, recuperar de forma simples e universal conteúdos que na altura em que foram emitidos não se puderam ver, sem pagar qualquer assinatura. Se não tivéssemos um serviço público audiovisual diversificado como o que a RTP disponibiliza, teríamos vivido pior estes meses.
Semanada
• Segundo a PSP, em 2019 registaram-se 1.526 casos de ataques de cães a pessoas • o mercado automóvel recuou 71,6% em Maio, com os concessionários já de portas abertas • as primeiras sardinhas de bom tamanho vendidas na lota de Matosinhos ultrapassaram os dois euros por quilo e as mais pequenas ficaram no euro por quilo • desde 1991, o número de crianças com menos de 10 anos diminuiu em praticamente todos os concelhos do país e no total, o país "perdeu" 293 mil crianças até aos 10 anos, passando de 1 milhão e 190 mil crianças em 1991 para 897 mil em 2018 • segundo a Marktest, durante o confinamento, cerca de 30% dos portugueses fizeram mais compras online • ainda segundo a Marktest, 55% dos portugueses está a planear fazer as férias de Verão no campo • um estudo divulgado esta semana mostra que mais de metade dos profissionais de saúde apresentam sinais de exaustão física e psicológica associadas ao exercício da sua profissão durante o combate à pandemia • uma sondagem recente indica que 85% dos votantes do PS querem o seu partido a apoiar uma recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa • há empresas exportadoras que esperam há dois meses pela garantia estatal no seguro de crédito, já que a proposta apresentada pelo Governo não tem o acordo das seguradoras • a CP perdeu 20 milhões de euros por mês de receitas devido à pandemia • segundo a Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal, a maioria das empresas suas associadas teve quebras de actividade na ordem dos 50%, entre Março e Maio • várias reportagens indicam que foi maior a corrida a centros comerciais que aos jardins de infância no dia das respectivas reaberturas • o número de vacinas administradas em Maio caiu mais de 40%, em comparação com o mesmo mês de 2019.
Dixit
"Sou contra as visões estatizantes ou colectivistas da economia."
António Costa Silva
O acordeão e a guitarra
O catálogo ECM continua a ser um porto seguro na música contemporânea fora das correntes do mainstream. Uma das suas novidades é um disco que cruza o acordeão com a guitarra, tocados respectivamente por Jean-Louis Matinier e por Kevin Seddiki. Matinier colabora há muito tempo com a ECM, como músico convidado em diversos discos ou mesmo em dueto, como aconteceu com Marco Ambrosini. Este é o primeiro registo com o guitarrista Kevin Seddiki, que agora se estreia na ECM. Seddiki estudou guitarra clássica e tem trabalhado em diversos géneros musicais, desde o jazz a projectos transculturais. "Rivages", o disco de Matinier e Seddiki, tem 11 temas, que vão do tradicional "Greensleeves" numa interpretação solta e criativa, a "Les Berceaux", de Gabriel Fauré, passando por originais e improvisações como "Miroirs" e "Feux Follets". A ligação entre o acordeão e a guitarra é muito bem conseguida, o estilo de interpretação dos dois músicos complementa-se, entre o devanear de Matinier e o dedilhar certeiro de Seddiki. Uma das coisas engraçadas num dueto é que não há sítio onde qualquer um dos seus intervenientes se possa esconder - estão ambos igualmente expostos. Prova do apreço de Matinier por Seddiki é ter-lhe dado o palco num tema a solo, "Derivando". Disponível no Spotify.
Contágios há muitos...
Ao escrever sobre "As Leis do Contágio", The Times, de Londres, escreveu que "é difícil imaginar um livro mais oportuno… grande parte do mundo moderno fará mais sentido depois de o ler". Publicado originalmente já em 2020, "As Leis do Contágio" é um trabalho do epidemiologista inglês Adam Kucharski, que tem trabalhado em surtos globais como as epidemias do ébola e do vírus da zica. Colaborador habitual da imprensa, escreve para The Observer e Financial Times, The New Statesman e Scientific American. Neste livro, analisa a forma como uma doença, um comportamento ou uma ideia se propagam no mundo moderno. Kucharski afirma que o contágio tanto pode vir de um vírus, como de um movimento político ou até mesmo de um tweet que lança uma inesperada controvérsia, ou de uma ideia que inflama a sociedade. O autor apresenta os padrões matemáticos de uma doença infecciosa, como aquela que assola atualmente a Humanidade, e descreve o fenómeno do contágio em geral - seja de uma doença, de um comportamento ou de uma ideia -, chamando a atenção para os aspetos biológicos e sociais desse processo. Segundo Kucharski, as nossas existências são moldadas por surtos de doenças, de desinformação e até de violência, que surgem, se espalham e se desvanecem a uma velocidade espantosa. Para os compreender, precisamos de perceber os padrões e as leis ocultas que os governam, afirma. Dos "superdisseminadores" - os que podem desencadear uma pandemia, derrubar um sistema financeiro ou vender uma ideia - à dinâmica social que faz da solidão um sentimento popular, o autor apresenta revelações curiosas sobre o comportamento humano, sobre o porquê das coisas, propondo como podemos melhorar a nossa previsão e reação a fenómenos de contágio em qualquer esfera das nossas vidas. Edição Portuguesa da Porto Editora.
Fotografia remotamente comandada
Durante o tempo em que trabalhei em redacções, uma das coisas que me davam mais prazer e satisfação era acompanhar a paginação, escolher as fotografias, editá-las com os seus autores, construir a história com as imagens. O Blitz e O Independente deram-me esse prazer, assim como, mais tarde, o Se7e e a Visão e hoje, nestas páginas de A Esquina do Rio do Weekend, do Jornal de Negócios, procuro sempre escolher as imagens. Quando pego numa revista, ou num jornal, a paginação e a edição fotográfica são sempre o meu foco de atenção. Hoje isso também acontece por vezes com algumas publicações online - o conceito de paginação para ecrã de dispositivo móvel, por exemplo, é um desafio. Mas quero destacar uma das melhores ideias que vi nos últimos tempos, nascida das medidas de confinamento tomadas no decurso da pandemia. A revista Time dedicou a sua edição de 1 de Junho à "Generation Pandemic", o título da capa. E, para editar as imagens de um dos artigos principais "Unlucky Graduates", que se estende ao longo de 12 páginas da revista, designaram Hannah Beier, uma finalista de fotografia da Universidade de Drexel, de Filadélfia. Beier fotografou virtual e remotamente os seus colegas de curso, nas casas onde estavam confinados. Utilizou a aplicação Face Time dos iPhones para dirigir a sessão fotográfica com cada um, pedindo-lhes para posarem de uma determinada forma e no enquadramento que escolheu, e foi a partir do telefone que capturou as fotografias dos sete colegas que são os protagonistas da reportagem. É uma ideia fantástica e é preciso folhearem estas páginas para ver como o resultado obtido de facto é surpreendente, capturando o espírito do momento. Na imagem, está a dupla página de abertura deste artigo na Time.
Arco da velha
Das 15 recomendações sugeridas pelo GRECO, o Grupo de Estados Contra a Corrupção do Conselho Europeu, só uma foi implementada em Portugal, oito só o foram parcialmente e seis foram ignoradas e o nosso país está num grupo de 15 países incumpridores que têm uma avaliação "globalmente insatisfatória".
Pipocas de polvo
Para gozar o progressivo desconfinamento, nada como comer um bom peixe com vista para o mar em ambiente seguro. Pensei no Meco, e ali existem restaurantes de praia armados ao pingarelho e também alguns restaurantes. Escolhi um entre estes últimos: a Gula do Meco, também conhecido por Mania do Peixe, onde pontua Carla Costa na cozinha e o seu marido Fernando na sala. A localização é excelente, o serviço é atento, o peixe é fresquíssimo e bem escolhido pelo saber do proprietário. A banca do peixe para grelhar tem escolha ampla, mas a casa tem também uma apreciável comida de tacho. Como o objectivo era peixe na grelha, a opção foi um robalo para duas pessoas, cozinhado no ponto, acompanhado por salada, legumes no forno e uma açorda frita em rodelas que fazem lembrar pataniscas - e que é um petisco. Para a próxima, vai cherne à posta, que tinha muito bom aspecto. Por falar em petisco, destaco as pipocas de polvo - pedaços muito pequenos de tentáculos de polvo cozido que depois são fritos com um polme impecável e estaladiço. Na comida de tacho, encontram feijoada de gambas e a feijoada de búzio, além da massada à pescador e de arroz de robalo. Uma especialidade da casa é o peixe no pão - peixe envolvido em massa de pão e que é cozinhado lentamente no forno -, uma variante muito interessante do conceito de peixe ao sal. Além da belíssima vista, de uma sala e esplanada amplas, ideais para este tempo de distâncias, a casa tem bom serviço, um parque de estacionamento próprio, uma lista de vinhos simpática, a preços decentes e com várias possibilidades de vinhos a copo. É um dos melhores restaurantes do Meco e bate-se com vantagem em relação à concorrência mais antiga - quer na vista quer na simpatia. Fica na Rua Praia do Moinho de Baixo, a caminho da praia e dos parques de estacionamento. Reservas recomendáveis pelo 964 408 048.