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11 de Janeiro de 2019 às 11:17

O pagador de promessas

Esta quinta-feira de manhã, ao acordar, olhei para o espelho e sabem o que vi? Apesar da gripe, não foram os olhos um pouco congestionados que me chamaram a atenção; o que vi ao espelho foi um pagador de promessas, um bombo da festa da colecta de impostos, taxas e taxinhas, directos e indirectos.

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Back to basics
A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro.
Atribuída ao filósofo inglês Herbert Spencer

O pagador de promessas
Esta quinta-feira de manhã, ao acordar, olhei para o espelho e sabem o que vi? Apesar da gripe, não foram os olhos um pouco congestionados que me chamaram a atenção; o que vi ao espelho foi um pagador de promessas, um bombo da festa da colecta de impostos, taxas e taxinhas, directos e indirectos. Cada vez que alguém no Governo se lembra de anunciar uma nova medida, vem logo aí mais despesa. A receita vem sempre do mesmo sítio: pôr cada um de nós a pagar mais. E foi assim, neste suave enlevo, que ficámos a saber que não estamos em campanha eleitoral. Quem o veio jurar foi o primeiro-ministro António Costa, numa das cerimónias em que tem assinado contratos de milhares de milhões para obras e aquisições diversas, todas encadeadas na mesma semana. Num rasgo de génio, o primeiro-ministro apresentou-se numa das encenações, o contrato para construção do aeroporto no Montijo, como o homem providencial que toma decisões que deviam ter sido tomadas há 50 anos. Depois, numa cerimónia das obras previstas para o Metro de Lisboa, garantiu que a ideia de que estes eventos estão ligados ao facto de existirem eleições este ano é uma calúnia de gente mal intencionada, e desmentiu qualquer intenção eleitoralista no que tem andado a fazer desde que o ano começou e Centeno o autorizou a abrir os cordões à bolsa - de tal maneira que agora até se fala em acabar com as propinas no ensino superior. A verdade é esta, como escreveu por estes dias Manuel Villaverde Cabral: "Se o Governo não paga, o PS não recebe os votos; e se paga, é a economia que se ressente."

Semanada
A taxa de utilização dos cheques dentista não chega aos 70% a dívida do Serviço Nacional de Saúde disparou mil milhões em três anos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde apresentam prazos máximos de resposta aos pedidos de consultas acima do previsto por lei há casos de esperas superiores a mil dias em primeiras consultas nas especialidades de cardiologia e urologia há 45.563 idosos a viver sozinhos ou isolados em todo o país em 2017, o desperdício de água agravou-se em metade dos concelhos do país e o volume de perdas seria suficiente para encher 281 piscinas olímpicas por dia segundo a Bloomberg, a TAP é a companhia aérea com mais atrasos no mundo cerca de sete milhões de passageiros sofreram perturbações em voos com partida de Portugal em 2018, como consequência de atrasos ou cancelamentos de 34% das ligações o Governo aumentou o imposto "do carbono" quatro dias depois de baixar o imposto dos combustíveis o Portal da Queixa recebeu, entre Janeiro e Dezembro de 2018, em média, 250 reclamações por dia (perto de 90 mil ao ano os bancos vão ser obrigados a comunicar ao fisco as contas bancárias com saldo superior a 50 mil euros, depois da aprovação no Parlamento de uma proposta com votos a favor de PS, BE e PCP o ministro dos Negócios Estrangeiros atacou a OCDE porque este organismo internacional atreveu-se a aconselhar um reforço de meios humanos e legislativos de combate à corrupção, tal como já fez com outros países.

Dixit
"O populismo consubstanciou-se numa chamada telefónica."
Lido no facebook

Um diário
Ler o diário de alguém é sempre descobrir uma intimidade. Entrar no diário de um escritor é uma descoberta ainda maior - os desabafos do dia-a-dia, as dúvidas sobre o que se está a escrever, as hesitações no esboço dos capítulos. Neste segundo volume do "Diário" de Virginia Woolf é apanhado o período entre 1927 e 1941, um dos mais criativos da sua vida, durante o qual ela se afirmou definitivamente como escritora, e que coincide com a publicação de algumas das suas obras mais importantes como "Rumo Ao Farol", "Orlando" ou "Um Quarto Que Seja Seu". A certa altura ela relata que escrever o diário é o que lhe dá oportunidade de escrever com uma caneta, já que quase tudo o resto era escrito - ou reescrito - à máquina. É fascinante ver como Virginia Woolf viveu este período, é uma viagem ao seu processo criativo, mas também às suas dúvidas pessoais sobre a vida e sobre a morte, as suas reflexões sobre a importância das artes - em consonância com o Grupo de Bloomsbury, de que foi uma das impulsionadoras.

Espreitar
Nas próximas semanas, há muita coisa para ver nas galerias lisboetas - recomeçou a actividade depois do período de fim de ano. Vou começar pela Módulo (Calçada dos Mestres 34A), onde, na quinta-feira, inaugurou uma exposição de Marco Moreira, "O meu fazer, cogita a tua percepção de ver", que resultou do trabalho efectuado durante quatro meses, numa residência artística na La Térmica, Centro de Cultura Contemporánea de Málaga. No sábado, a Galeria Diferença assinala os seus 40 anos de actividade com uma colectiva onde estão representados mais de 50 nomes incontornáveis da arte contemporânea portuguesa e que, em algum momento, estiveram ligados a este espaço. As celebrações começam pelas 16h00 na Rua de S. Felipe Nery 42. Na próxima semana, inaugura dia 17 a nova exposição da Galeria Belo-Galsterer (Rua Castilho 71 R/C esq), que apresenta trabalhos de Rita GT com (Re)membering / (For)getting, e Renzo Marasca com "From Night to Dawn". Se, por acaso, for a Nova Iorque nos próximos tempos, não perca a exposição que o Whitney Museum dedica a Andy Warhol com mais de 350 obras que abrangem quatro décadas, mostrando a evolução de uma carreira, desde os desenhos de estudante até aos anos 1980.

Arco da velha
As obras no Liceu Camões, em Lisboa, previstas para se iniciarem em Agosto de 2011, no âmbito do plano de modernização da Parque Escolar, ainda não se iniciaram e a ruína do edifício agravou-se.

Aquela coisa da idade
Um dia destes, dei comigo a pensar que a idade já não é o que era. Vou traduzir isto por miúdos: hoje em dia, ouço com prazer novos discos de músicos que comecei a ouvir há uns 40 anos - de Dylan a Springsteen, passando por Neil Young, para citar só os mais evidentes. Com quase 70 anos, Springsteen cantou a história da sua vida, todos os dias durante um ano, num teatro da Broadway, sozinho em cima do palco, e aos 80 anos o saxofonista Charles Lloyd fez um dos seus mais marcantes discos ao lado de Lucinda Williams, que tem agora 65 anos. Aos 82 anos, Robert Redford desempenhou um dos melhores papéis da sua vida em "O Cavalheiro Com Arma", ao lado de uma magnífica Sissy Spacek com 69 anos; Michael Douglas, aos 74 anos, imaginou e actuou numa fantástica série de televisão, da Netflix, chamada "O Método Kominsky". Assisti ao nascimento e ao desenvolvimento das carreiras destes músicos e destes actores que, de alguma forma, são lendas do espectáculo, tal como os Rolling Stones, que continuam a tocar como se não houvesse amanhã. Na realidade, ninguém diria que a cultura pop, nas suas várias vertentes, saída dos anos 60, tivesse protagonistas com esta durabilidade. Mas a verdade é que é isso mesmo que acontece. A actividade de todos eles é a prova de que aquela coisa da idade já não é o que era. Ainda bem. Já agora: Tintim fez 90 anos e continuo a ler as suas aventuras com gosto.

Provar
Nunca fui à Arménia e a minha relação com esse país é sobretudo feita através do facto de Calouste Gulbenkian ter sido Arménio (a propósito, surgiu uma nova biografia que parece ser muito interessante). Há uns dois meses, abriu o Ararate, um restaurante arménio nas Avenidas Novas onde no menu surgem pratos como khorovats, khachapuri, hamest taty e choban. Não por acaso, o restaurante fica muito próximo da Fundação Gulbenkian. Traduzido por miúdos, o que se pode encontrar anda à volta de guisados, estufados, espetadas e ensopados, tudo com legumes frescos, carnes diversas e peixes como o esturjão. Para contornar a dificuldade linguística, o menu traz uma minuciosa descrição e imagens - e o pessoal de sala é atento e bem informado, esclarecendo as dúvidas existentes. A carne de borrego é amplamente proposta, muitos pratos são cozinhados a baixa temperatura, o recurso a especiarias no tempero é regra, há um menu de almoço a preço competitivo, a sala é ampla, arejada e bem iluminada e a garrafeira razoável, a precisar de moderar os preços nalguns casos. Mas quem não gosta de borrego está bem defendido por propostas de outras carnes, nomeadamente de vaca e vitela. Quem quiser começar por petiscar, tem um fumado muito interessante, o basturma, no meio de uma bem servida tábua de enchidos que acompanha com matnakash, pão fermentado. O tipo de cozinha proporciona que se faça uma partilha de petiscos - por exemplo, de espetadas. O nome do restaurante, Ararate, vem da mais alta montanha da Turquia, mas local sagrado para os arménios e onde os cristãos acreditam ter encalhado a Arca de Noé após o Dilúvio . Avenida Conde Valbom, 70, reservas 925 451 509.

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