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08 de Março de 2019 às 10:13

O efeito Pinóquio no governo

A fábula de Pinóquio está cheia de ensinamentos políticos nestes tempos das "fake news". Sonhei que Marcelo era o carpinteiro Gepetto, que Costa era Pinóquio e que o papel de Grilo falante estava reservado para José Magalhães.

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Nunca confio numa pessoa por aquilo que ela proclama, mas sim pelos actos que pratica.
Ann Radcliffe

O efeito Pinóquio no governo
A fábula de Pinóquio está cheia de ensinamentos políticos nestes tempos das "fake news". Sonhei que Marcelo era o carpinteiro Gepetto, que Costa era Pinóquio e que o papel de Grilo falante estava reservado para José Magalhães. Cá para mim, o Gepetto da actualidade portuguesa deixa Pinóquio à vontade nas suas brincadeiras: o Governo prometeu que os contribuintes não iriam pagar mais para salvar bancos e está-se a ver o que acontece; Pedro Marques, que era mesmo o maior descendente de Pinóquio do Governo, foi mandado espalhar mentiras no território natural da ilusão que é a União Europeia; João Galamba, seu rival directo no campeonato dos jovens Pinóquios, já está num ministério. E Costa superintende em tudo, sempre com transbordante imaginação e uma cativação orçamental na mão. Para a história ficar completa, José de Magalhães, assume com galhardia o papel de Grilo falante. Magalhães descobriu que o maior perigo das campanhas eleitorais que se sucedem este ano reside no proliferar das "fake news" e propõe-se, no Parlamento, tomar medidas para as combater. Aguardo para ver como irá ensinar Costa, Marques e Galamba a evitarem que os narizes lhes cresçam. Este Grilo vai ter muito que fazer com Pinóquios assim debaixo da sua alçada, à solta pelos ministérios e pela sua própria bancada parlamentar. É que, em matéria de "fake news", o Governo não tem rival.

Dixit
"Ele tinha imensas namoradas."
Fernanda Tadeu
Mulher de António Costa, falando sobre ele, enquanto o marido cozinhava cataplana de peixe no programa de Cristina Ferreira.

Semanada
No Porto, há senhorios que pressionam os inquilinos, sobretudo os mais idosos, para abandonarem as suas casas, usando métodos que vão de ameaças até cortes de água o juiz Neto de Moura anunciou ir processar os seus críticos, aproveitando a isenção de taxas de justiça de que pode beneficiar Tomás Correia pôs em acta que será o Montepio a pagar as multas que lhe foram aplicadas pelo Banco de Portugal, no valor de 1,25 milhões de euros o Palácio Foz foi utilizado gratuitamente pela Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros para uma festa de Carnaval na qual os colaboradores do primeiro-ministro usaram disfarces - uma mascarou-se de Che Guevara e outro de Donald Trump; no ano passado, o PIB cresceu 2,1%, quando a estimativa do Governo era 2,3% em 2017, a produtividade caiu 0,2% nos primeiros dois meses do ano, foi apreendida quase tanta cocaína como no total do ano passado e Portugal está a tornar-se numa das portas de entrada da droga na Europa os apoios dados pelo Estado aos bancos já atingem um montante de 1.800 euros por cada português a Escola Básica Patrício Prazeres, em Lisboa, tem 29% de alunos estrangeiros de 22 nacionalidades e há turmas em que são a maioria e têm melhores notas um coronel que liderou os comandos na altura em que morreram dois instruendos, em 2017, é arguido por falsificação de provas relacionadas com o caso até à data, não houve ninguém a pedir apoio à linha de crédito criada pelo Governo para ajudar na limpeza de matas e o prazo termina no próximo dia 15.

A paixão das viagens
Tenho um fascínio por literatura de viagens e um dos livros que mais me marcou foi "O Grande Bazar Ferroviário", de Paul Theroux, originalmente editado em 1975 e que, por cá, foi editado em 2008. A Quetzal, que já havia feito a primeira edição portuguesa, lançou agora uma nova colecção, "Terra Incógnita", e escolheu reeditar a obra de Theroux. O formato é próximo do livro de bolso, bom para levar em viagem. O bom livro de viagens não é um roteiro turístico, esse é o princípio inspirador do escritor. Num segundo prefácio a esta sua obra, publicado nesta edição, Theroux conta como o livro nasceu e demarca-se de uma escrita sobre férias e confortos, preferindo contar verdadeiras viagens e relatando o passar do tempo, incluindo os atrasos e os transtornos. "O Grande Bazar Ferroviário" é o relato emocionante que Paul Theroux faz da sua viagem de comboio entre a Europa e a Ásia: "O livro de viagens em que estava vagamente a pensar tinha algo a ver com comboios, mas não fazia ideia de para onde queria ir - a minha ideia era simplesmente uma longa viagem solitária." Partiu de Londres a 19 de setembro de 1973 e lá regressou quatro meses depois, tendo viajado no Expresso do Oriente, ido até Teerão, depois Deli, Kuala Lumpur ou o Transiberiano. Uma aventura que Theroux partilha, descrevendo lugares, culturas e as pessoas que conheceu ao longo dos milhares de quilómetros que percorreu. Como diz Francisco José Viegas na introdução a esta nova edição, "num mundo assim, como ele está, os livros de Theroux continuam a expor o mistério prodigioso de conhecer os outros".

Perguntar não ofende
Que terá acontecido na vida do juiz Neto de Moura que o levou a fazer as considerações que fez e a tomar as decisões que tomou? Com que situações marcantes terá sido pessoalmente confrontado? Em que é que um trauma psicológico pode condicionar a decisão de um juiz?

O olhar de África
Uma das melhores exposições que podem ser vistas em Lisboa está na Galeria Underdogs (Rua Fernando Palha, Armazém 56, em Marvila). "Nha Fala" é o título da exposição que integra 19 marcantes fotografias do guineense Abdel Queta Tavares - onde a influência de nomes incontornáveis da fotografia africana como Seydou Keita ou Malick Sidibé são notórias. "Nha Fala" significa "Minha Voz" em crioulo - e neste caso significa a forma como Abdel Queta Tavares encena o que vê, interpretando personagens e tornando o vulgar em único e indo além das influências em que se poderá ter inspirado. Os preços das obras expostas variam entre os 600 e os 5000 euros. Outras sugestões: no Pavilhão 31, localizado no parque da saúde que funciona onde era o Hospital Júlio de Matos, vive um espaço que concilia a mostra de obras de artistas consagrados com aulas de artes plásticas aos utentes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa. "Arte de Furtar/ Furto na Arte" inclui obras de Ana Pérez Quiroga, João Louro, José Luís Neto, José Maçãs de Carvalho, Claudia Fischer, Pedro Cabral Santo e Sara e André, entre outros. Na Pequena Galeria (Avenida 24 de Julho 4C), Pauliana Valente Pimentel mostra "A Vida É Feita de Likes", um mero registo do seu quotidiano pessoal feito em Instagram.

O novo pimba
Nunca fui fã do Festival da Eurovisão e não sou dos que acham que aquilo é coisa que valha a pena. Sou mais dos que acham que aquilo tudo é uma foleirice que raras vezes adiantou alguma coisa à música e deixou sons que perdurassem. Também não embandeirei em arco com a cosmética aplicada ao Festival RTP da Canção há uns anos e dedico-lhe pensamentos idênticos aos que acima escrevi sobre a Eurovisão. No caso português, reconheço alguns méritos, sobretudo a Simone de Oliveira há uns anos largos e a Salvador Sobral há pouco tempo. Na generalidade, nestes certames, pratica-se má música, péssima música pop sem imaginação e cheia de pastiches. Este ano, já percebi que existe alguma emoção em torno de Conan Osíris e pessoas que estimo até o acham semelhante a António Variações. Para mim, este novo cançonetista é o contrário do que Variações foi: é um amalgamado de cópias provenientes de diversas origens, é uma construção plastificada, é uma demonstração de falta de talento e de originalidade construída sobre um cenário falso. Fala-se muito de "fake news" - Conan Osíris é "fake music making fake news", uma espécie de banda sonora da mentira. E é a prova de que na vida tudo se transforma - o pimba também.

O olhar de Luísa
Uma das pessoas que melhor tem fotografado os protagonistas das noites lisboetas, nas mais diversas áreas, ao longo das últimas décadas, é Luísa Ferreira. O seu trabalho, no entanto, vai muito para além disto - como se viu recentemente na Galeria Monumental com a exposição "Branco" ou, noutro género, em "Há Quanto Tempo Trabalha Aqui?", sobre lojas históricas de Lisboa. Mas, voltando às pessoas e às noites, Luísa Ferreira tem sido sempre uma persistente observadora de quem foi passando em casas como o Frágil e o Lux, com o acesso que Manuel Reis lhe proporcionou e que ela soube sempre respeitar e enquadrar - são imagens que retratam o espírito do tempo e as mudanças que o mesmo tempo provoca. Desta vez, Luísa Ferreira veio mostrar como olha para quem habita os palcos e, para assinalar o aniversário do Teatro do Bairro (Rua Luz Soriano 63), montou uma mostra de imagens que fez ao longo dos anos e que animaram a festa do referido aniversário. Mas vão poder ser vistas por todos aqueles que lá forem ver a nova produção da companhia, "Terror E Miséria no III Reich", de Bertolt Brecht, que estreia no próximo dia 20 - uma escolha, aliás, oportuna para os tempos que correm.
As imagens que encontrarão nas paredes do Teatro do Bairro integraram a exposição "Ouro Azul", que Luísa Ferreira teve em 1996 na Mitra e também uma outra que mostrou no Teatro Viriato, em Viseu, em 2002, e incluem um conjunto de provas de contacto de trabalhos que fez à volta do teatro e da noite onde ele se desenha.

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