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21 de Agosto de 2020 às 10:29

Era melhor o silêncio?

José Manuel Fernandes fez, no Observador, o melhor resumo do caso do lar de Reguengos

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"É preciso ler todos os relatórios"
Marcelo Rebelo de Sousa

Era melhor o silêncio?
José Manuel Fernandes fez, no Observador, o melhor resumo do caso do lar de Reguengos: "A morte de 18 seres humanos em Reguengos sobressaltou menos o país do que a morte dos animais em Santo Tirso." Isto diz tudo sobre o estado da nação. E é com base nesta insensibilidade pela vida humana, sobretudo dos mais fracos e desprotegidos, que o primeiro-ministro afirma que as críticas à ministra Ana Mendes Godinho são polémicas artificiais e que entidades ligadas à Igreja vieram, pressurosas, defender essa "dedicada militante católica" que mostrou a insensibilidade que está à vista de todos e que esperou três semanas, depois dos primeiros avisos e após 16 mortes, para começar a fazer perguntas. Em vez de polémicas artificiais, prefiro pensar que há ministros artificiais. Ana Godinho é um "case study" nesse género. Passou de andar à boleia da mina do turismo em tempo de vacas gordas para o desagradável mundo real onde a miséria se revela. A rápida resposta do primeiro-ministro neste caso comprova como gosta pouco de críticas e prefere o silêncio, como bem recentemente se viu no caso da alteração da periodicidade dos debates parlamentares. As palavras incomodam imenso, como se sabe.

O pensamento de António Costa sobre as críticas chega longe, dentro do Estado. Por exemplo, a direcção da PSP foi ainda mais longe e resolveu processar um jornal por um "cartoon" satírico no qual surgiu uma farda daquela polícia numa manifestação racista; azar dos Távoras, poucos dias depois, uma página do Facebook ligada a elementos da Polícia de Intervenção, pertencentes à PSP, criticava a decisão de ser dada protecção policial a activistas e políticos ameaçados por uma organização racista. A decisão de processar o conteúdo humorístico foi a primeira atitude pública de intervenção na sociedade da equipa do novo diretor nacional da PSP, Magina da Silva, nomeado pelo Governo de Costa em Janeiro passado. Com um responsável policial que não suporta o humor e não vê o que se passa em casa e com um primeiro-ministro que elogia uma ministra da Solidariedade insensível a mortes, estamos bem desgovernados.

Semanada
O responsável pela autoridade regional de saúde no Alentejo garante ter condições para continuar no cargo, mesmo depois de tudo o que já se sabe sobre a incúria com que geriu o caso de Reguengos Portugal continua entre os 20 países europeus com mais casos novos registados por 100 mil habitantes António Costa nomeou para seu chefe de gabinete um dos implicados no caso Galpgate, o dos convidados com viagens e bilhetes à borla para assistirem a jogos de futebol da Seleção durante a pandemia, foram feitas 88 alterações a leis da área laboral há 242 mil doentes à espera de cirurgia, cerca de 100 mil destes já ultrapassaram o prazo definido para a sua patologia, e 45 mil estão à espera há mais de um ano • segundo a Marktest, a percentagem dos leitores de jornais que lêem exclusivamente as edições em papel é de 15%, inferior à dos que lêem apenas online (21%), mas grande parte dos leitores, 38%, utiliza ambas as plataformas segundo o estudo de audiências de rádio da Marktest, o auto-rádio é o principal suporte de escuta de emissões de rádio, com 6 milhões e 441 mil utilizadores, e o streaming através de telemóvel é agora o segundo suporte com mais utilizadores, com 22,8%, enquanto o rádio portátil baixou para terceiro, com 16% o mesmo estudo indica que, no total, um milhão e 954 mil portugueses ouvem rádio no telemóvel e mais de metade destes ouvintes, 52,6%, têm entre 25 e 44 anos  o cadáver de um cavalo foi abandonado no Estádio Universitário, junto ao hipódromo do Campo Grande, onde esteve alguns dias sem ser detectado.

Dixit
"A ministra da Solidariedade e Segurança Social demonstrou insensibilidade social e uma certa sobranceria, o que não é próprio de uma ministra da Solidariedade."
Marques Mendes

A ver o mar
Nestas férias de desconfinamento, rumei a Norte para rever alguns locais onde não ia há muitos anos. Um deles, bem perto de Lisboa, foi o Baleal e, de uma forma mais geral, a zona de Ferrel e de Peniche. A transformação é imensa, sobretudo em torno de actividades ligadas ao surf, mas, apesar da pressão turística que estas coisas sempre trazem, a boa conservação do património natural é assinalável. Fiquei emocionado quando voltei ao cabo Carvoeiro e revi as rochas, a forma como estão envolvidas no mar, a sua cor, a sua forma. Toda a zona, com aquela enorme baía - e as rochas estratificadas que lhe vão servindo de adorno -, é um dos melhores pedaços da costa atlântica portuguesa. O Baleal em si é uma preciosidade, com as suas casas bem conservadas, todas a olharem para o mar, com pequenas enseadas entre rochas. É curioso ver como coexiste uma população familiar, frequentadora habitual, com surfistas de várias nacionalidades e adeptos de pesca à linha ou de pesca submarina. Mesmo ao domingo, em que se nota uma enchente de quem ali vem de propósito passar umas horas à praia do Baleal Norte, a zona tem um ar tranquilo. Numerosas lojas de material de surf estão por todo o lado, assim como alojamentos locais para surfistas. A escolha da pernoita, aleatória, recaiu no Silver Coast Beach Residence, que ultrapassou as expectativas e onde a estadia rematou com um belo pequeno-almoço. A primeira etapa das férias foi bem conseguida.

A ver a ria
A segunda etapa das férias teve por destino a zona da ria de Aveiro. O contraste com a costa da zona de Peniche é total e prova a enorme diversidade de paisagens e experiências de que se pode desfrutar em Portugal em distâncias pequenas. Aveiro é uma cidade especial, nos últimos anos marcada, e bem, pela universidade local, por uma actividade económica intensa e, para mal, pela silhueta do estádio de futebol proveniente da megalomania socrática do Euro 2004, hoje em dia um espantalho que desfeia a paisagem e ali jaz sem utilização.

Bem perto de Aveiro está a Costa Nova, essa língua de terra que atravessa a ria, maravilhosa. A Costa Nova está bem preservada, com poucos acidentes arquitectónicos estranhos, no geral com estragos controlados. Há bons locais para comer, como o renovado Clube de Vela, onde um rodovalho foi o prato forte. O destino final desse dia foi a Pousada da Ria, numa localização absolutamente única, literalmente em cima da água. Esta era uma das emblemáticas Pousadas de Portugal, uma iniciativa lançada por ideia de António Ferro e que se desenvolveu sobretudo nas décadas de 1950 e 1960, com construções sólidas e em locais escolhidos a dedo. Localizada na freguesia da Torreira, faz parte do núcleo Pousadas da Natureza. Também conhecida por Pousada da Murtosa, pode lá chegar-se por estrada ou num "ferry" que sai da zona portuária de Aveiro. Há alguns anos, um processo de privatização colocou a rede das Pousadas de Portugal nas mãos do Grupo Pestana. Este ano, é a segunda vez que vou a uma destas pousadas, e tenho a mesma sensação: a gestão global das pousadas dentro do Grupo Pestana tem sérios problemas. Aqui, na Pousada da Ria, os poucos empregados são incansáveis e simpáticos. Esforçam-se mesmo. Mas há falhas graves, que mostram a falta de cuidados na administração da propriedade e na sua direção. O quarto tinha uma vista deslumbrante, mas a rede antimosquitos estava furada e não funcionava - e, estando em cima da ria, isso é um problema. E ficava por cima da sala de refeições - onde a porta de ligação à cozinha chiava de cada vez que alguém passava, ouvindo-se tudo no quarto logo bem cedo, quando se preparava a sala do pequeno-almoço. Entre melgas e chiadeira, o (des)conforto do quarto não valia o preço a que é cobrado. Em tempos, as pousadas já foram uma referência de hotelaria e da gastronomia regional, mas já não são. Na cozinha, a matéria-prima é má (no peixe ou na carne) e a confecção deixa muito a desejar, até nos acompanhamentos simples. A cozinha não funciona e a pobreza da oferta estende-se ao pequeno-almoço. Se não fosse a diligência dos empregados, a estadia na Pousada da Ria teria sido um pesadelo. Assim, foi só um caso para esquecer - e a culpa é de quem dirige a organização, não de quem, neste caso, está no terreno a fazer o melhor que pode e com poucas condições.

A saber a mar
Na zona de Peniche, onde não faltam sítios para petiscar, sugestão amiga encaminhou-me para o restaurante Profresco, perto do cabo Carvoeiro.

A entrada faz-se pela zona da peixaria, onde se pode comprar para levar para casa, ou então escolher o peixe que se comerá na zona de restaurante.

O preço é o de peixaria, a que acresce, no caso do restaurante, uma taxa de confecção de 9 euros por quilo do peixe pretendido. A escolha recaiu num sargo, fresquíssimo, grelhado no ponto certo, bem acompanhado por batatas assadas (muito boas) e uma generosa salada. Antes disso, tinham vindo para a mesa uns búzios, daqueles que sabem mesmo a mar. A lista inclui entradas de saladinhas de ovas, de búzios ou de polvo, lapas na chapa, mexilhão ao vapor, ostras e sapateira ou santola recheada. Só com entradas destas, estaria o petisco feito. Peixes grelhados à parte, as opções incluem caldeirada tradicional, pica-pau de atum, arroz do mar ou açorda de gambas. A sobremesa foi uma torta de pera-rocha, a saber ao fruto e sem demasiado açúcar, acompanhada por uma ginjinha de Óbidos. O serviço é atencioso, a sala é confortável, o vinho da casa é estimável e o preço final é justo. O telefone é o 262 785 186.

Arco da velha
Um homem de 73 anos vendia numa feira de Mirandela uma mistura de sumos industriais, que anunciava como remédio infalível contra a covid-19, a dez euros cada frasco. Vendeu vários, antes de a GNR lhe ter acabado com o negócio.

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