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20 de Setembro de 2013 às 00:01

A esquina do rio

A pior coisa que existe na política é a hipocrisia. Como se não fosse revoltante a hipocrisia de numerosos candidatos, agora temos a suprema hipocrisia da entidade que é suposta fiscalizar as eleições, a CNE.

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Uma coisa é passar a vida a falar, outra coisa é falar quando é mesmo preciso.

Sófocles

 

Gosto

O mestrado em Gestão da Universidade Nova foi considerado o 7º melhor do mundo

 

Não gosto

43% do total dos processos crime por corrupção envolvem câmaras municipais 

 

 

Arco da Velha

 

O Presidente da Câmara de Esposende ofereceu, a idosos da autarquia, 2000 terços numa festa que incluiu uma viagem a Fátima, tudo com um custo de cerca de 20 mil euros.

 

 

CNE

 

A pior coisa que existe na política é a hipocrisia. Como se não fosse revoltante a hipocrisia de numerosos candidatos, agora temos a suprema hipocrisia da entidade que é suposta fiscalizar as eleições, a CNE. Vou explicar a razão desta minha convicção: a lei eleitoral proíbe o recurso a publicidade comercial durante um período de tempo que excede a campanha propriamente dita. Acontece que, na época em que a lei foi feita, a realidade da comunicação em geral, e da actuação política partidária em particular, era bem diferente do que é hoje – nomeadamente o esforço e disponibilidade dos militantes.

 

O que acontece actualmente, e que é usado pela maioria dos partidos parlamentares, é o recurso a organizações comerciais especializadas na afixação de propaganda e na sua distribuição por várias formas, nomeadamente a colocação de suportes para cartazes de grande e média dimensão e sua utilização. Estes serviços são pagos como se se tratasse de um operador de publicidade exterior – na realidade, o que aparentemente parece tratar-se de actividade militante é, na maioria dos casos, uma operação comercial que cobra a instalação, o aluguer, a manutenção e afixação nos referidos suportes dos cartazes partidários.

 

É uma operação de facto de publicidade exterior paga, com a agravante de os referidos operadores não precisarem de licenças nem alvarás e de não pagarem taxas – uma espécie de concessionários de publicidade exterior clandestinos. Pois a mesma CNE que fecha os olhos a esta realidade, que dura há anos, é a que tomou as posições que se conhecem sobre a utilização do Facebook e de mensagens de "e-mail" ou sms pelas campanhas.

 

É a mesma CNE que, sobre a cobertura noticiosa destas eleições, se pronunciou no sentido de, no período eleitoral, não se aplicarem critérios editoriais pelas direcções de informação, limitando assim o exercício da actividade jornalística. E foi ainda a que anunciou ir perseguir quem, no período final antes de eleições, o chamado tempo de reflexão, opinar nas redes sociais sobre a política e o acto eleitoral. Palpita-me que vão ter muito que fazer – a menos que, como acontece em alguns países, o presidente da CNE, Fernando Costa Soares, passe a defender a proibição do Facebook ou do Twitter no território nacional. A actuação deste senhor começa a ser matéria de estudo sobre os efeitos da ausência de percepção da realidade no exercício de cargos públicos e políticos.  

 

 

Ver

 

Esta semana destaco a abertura de uma galeria que coexiste com uma editora, a Abysmo, dinamizada por João Paulo Cotrim e que tem no desenho e na banda desenhada uma das suas razões de ser. Pois a Abysmo mudou há uns meses para o nº 40 da  Rua da Horta Seca, ao Largo de Camões, e esta semana inaugurou o seu espaço de exposição - dedicado aos desenhos que Álvaro Siza fez para a edição de "A Casinha dos Prazeres", de Jean-François de Bastide. Outros pontos altos da semana são a abertura da exposição de Miguel Navas, na Bloco 103 (Rua Rodrigo da Fonseca 103), e a mostra evocativa dos 40 anos do AR.CO, que está desde esta semana no Museu do Chiado e que inclui, entre outros, trabalhos de Ana Jotta, Miguel Branco, Pedro Sousa Vieira e Rui Sanches. Finalmente, vale a pena conhecer a exposição que André Gomes criou para a Casa Museu Anastácio Gonçalves e que pode ser vista até Novembro - uma narrativa de imagens intitulada "A Sesta de Um Fauno", imagens que, ao contrário do que era a sua prática anterior, não são originalmente feitas a partir de polaroids, mas sim de fotografias digitais posteriormente manipuladas.

 

Folhear

 

"Playtime" é o título de capa da edição 212, de Outono, da "Aperture Magazine", uma das mais estimulantes revistas dedicadas à fotografia e que pode ser adquirida através da Amazon. Nesta edição, há um artigo excelente sobre as ligações dos planos cinematográficos do filme "Playtime", de Jacques Tati, com a fotografia e um outro, muito curioso, que analisa a relutância de muitos fotógrafos ao humor. Mas o mais estimulante dos artigos é o que fala da relação de Italo Calvino com a fotografia, por exemplo através da evocação que fez da obra "A Câmara Clara", de Roland Barthes, mas sobretudo por um pequeno conto que Calvino publicou em meados dos anos 50, intitulado "A Aventura de Um Fotógrafo", que mais tarde veio a ser incluído na colectânea "Difficult Loves". O autor deste artigo da "Aperture", Aveek Sen, um ensaísta premiado pelo International Center Of Photography, defende que este conto de Calvino é mais importante para a compreensão do meio fotografia que os textos posteriores de Barthes e de Susan Sontag, sobretudo pela ideia expressa de que tudo o que não é fotografado inevitavelmente se perde. O fotógrafo que protagoniza a aventura de Calvino vive entre a obsessão de não conseguir fixar todas as imagens da realidade à sua volta e o desejo da encenação de imagens que são a sua própria fuga a essa realidade - aquilo que são as duas correntes opostas que têm marcado a fotografia das últimas décadas. Nesta edição da "Aperture", destaque ainda para seis portfolios de outros tantos fotógrafos de várias nacionalidades, que mostram, de forma elucidativa, os diversos caminhos que a fotografia contemporânea percorre.

 

Provar

 

Quando a fome aperta a meio da noite, uma das possibilidades recomendáveis em Lisboa é o Café do Paço. O grosso da equipa veio há uns anos do D. Pedro V, que ficava na rua do mesmo nome. Este fica no Paço da Rainha, ao Campo dos Mártires da Pátria, e tem estacionamento facilitado. Só abre ao fim da tarde, para bar, jantar e ceias. Tem um ambiente confortável e acolhedor, boa iluminação e uma acústica excelente, ideal para uma conversa sossegada ao fim de um dia agitado. Recomendam-se os bifes, um impecável prego no pão e os já históricos pastéis de bacalhau com arroz de tomate e o pato assado à Alice. Os preços são sensatos, a garrafeira é curta mas equilibrada, o serviço é muito bom. Da clientela fazem parte políticos e jornalistas. Paço da Rainha 62-A, tel. 218 880 185.

 

Ouvir

 

"Sunrise" tem a particularidade de ser o disco de estreia do pianista Masabumi Kikuchi na editora ECM e, também, o de ter sido o último registo gravado em estúdio (em 2009) pelo baterista Paul Motian que, com o baixista Thomas Morgan, completava o trio que gravou este CD. Editado no final de 2012, um ano depois da morte de Motian, "Sunrise" é uma montra de talentos, das capacidades destes três músicos, mas sobretudo da inesperada forma que Masabuki Kikuchi tem de lançar temas e guiar improvisações. Neste disco, é disso que se trata: três músicos que bem se entendem, e todos de gerações diferentes, sendo Thomas Morgan o mais novo. Improvisam sobre dez temas que se vão desenrolando ao longo de quase uma hora. Uma das notas que li sobre esta gravação sintetiza assim o que se passa: "este trabalho favorece a substância ao estilo, o significado aos malabarismos e o espaço à densidade". Mas, sobretudo, o que cativa é o espaço e o tempo dado à improvisação, num gesto raro, hoje em dia, de exercício colectivo. (CD ECM, na Amazon.)

 

Semanada

 

 Os juros da dívida a dez anos andam de novo acima dos 7%; o fisco ganhou 404 milhões de euros em processos nos tribunais, 60% dos quais em processos onde estão em causa cobranças acima de um milhão de euros; devido à quebra de procura nos mercados internacionais, a Auto-Europa deverá produzir este ano menos 20% de veículos que os fabricados no ano passado; a venda de automóveis em Portugal cresceu 16% em Agosto, a segunda maior subida em toda a União Europeia; a ministra das Finanças continuou a meter os pés pelas mãos no caso dos "swaps"; Luís Filipe Menezes já excedeu em 70%, só na pré-campanha, o orçamento para propaganda de rua; as autarquias ainda devem mais de 200 milhões de despesas relacionadas com o Euro 2004; 120 autarcas já se reformaram, mas continuam em funções; certamente pensando no Marquês do Pombal e na Avenida da Liberdade, António Costa sublinhou que o seu programa eleitoral "não é o da grande obra, tem sido o de fazer as pequenas obras que mudam a vida das pessoas"; Reboredo Seara, referindo-se a comentários sobre notícias que nos últimos meses colocaram dúvidas sobre a possibilidade legal da sua candidatura, avisou que, por sua iniciativa, "alguma gente há-de ir aos tribunais".

 

Dixit 

"Enquanto não houver solução para o crescimento da dívida, Portugal está pior".

Daniel Bessa


 

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