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19 de Março de 2021 às 11:37

A lenta Europa

Isto dava para uma série policial: o estranho caso das vacinas desaparecidas. O tema é a forma como a União Europeia tratou do assunto da compra das vacinas, da garantia da sua entrega, e de como está a reagir a atrasos e percalços diversos.

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Arte é fazer alguma coisa a partir de nada e depois conseguir vendê-la.
Frank Zappa

A lenta Europa
Isto dava para uma série policial: o estranho caso das vacinas desaparecidas. O tema é a forma como a União Europeia tratou do assunto da compra das vacinas, da garantia da sua entrega, e de como está a reagir a atrasos e percalços diversos. Todos já percebemos que Ursula von der Leyen tratou do assunto como se fosse uma compra pública, em vez de uma matéria urgente, sensível do ponto de vista da saúde pública da união dos Estados a que preside, e do ponto de vista da repercussão política das situações criadas. A impressão que dá é que a União Europeia colocou um amanuense habituado a tratar de compras de papel higiénico e consumíveis a negociar com as farmacêuticas que podiam fornecer as vacinas. O resultado está à vista: contratos não cumpridos, atrasos no fornecimento, ausência de atribuição de responsabilidades, um sensível atraso em relação ao calendário inicial, populações descontentes, Estados-membros a desalinharem-se das decisões da União. O caos, em suma. Eis o retrato perfeito das ineficiências da burocracia europeia. São efeitos que se estendem, desde o processo de avaliação das vacinas à interlocução e negociação com os fabricantes, e vão até à dificuldade em garantir que não seriam feitas exportações da vacina para fora do espaço da UE antes de cumpridos os compromissos de fornecimento assumidos. Já nem falo de se ter conseguido colocar mais fábricas a produzir. Recordo apenas que, nos Estados Unidos, a administração Biden conseguiu levar a Johnson & Johnson a licenciar a Merck para fabricar a sua vacina de dose única, aumentando assim a capacidade de produção e entrega. Na Europa, sabe-se que há várias instalações que podiam produzir vacinas, e não o estão a fazer. A presidência da União sobre estes assuntos não se pronuncia. Por acaso, a presidência, até Junho, cabe a Portugal.

Semanada

n Em 2020, os tribunais comunicaram ao Conselho de Prevenção da Corrupção 763 casos no âmbito da Administração Pública, os principais crimes foram de peculato e abuso de poder e a área da administração local surgiu associada a mais de metade dos casos n no ano passado, registaram-se 18.889 casamentos, o valor mais baixo desde que há registos n o número de nascimentos em 2020 caiu 2,6% e o número de mortes cresceu 10,2% n de acordo com dados da Marktest, no ano passado, o sector do comércio continuou a ser o maior investidor em publicidade, em segundo lugar ficou o sector das marcas de produtos alimentares e, em terceiro, a indústria farmacêutica n segundo a ANACOM, em 2020, cerca de 7,5 milhões de pessoas tinham acesso à internet através do telemóvel e o tráfego em banda larga móvel aumentou 28,1% face a 2019 n em 2020, o número de portugueses que viu filmes e séries na internet passou de 38 para 43%, e o número dos que fizeram videochamadas aumentou de 52 para 70% n ainda segundo a ANACOM, o número de famílias com acesso à internet em casa aumentou para 84,5% em 2020, o maior crescimento desde 2016, com o Alentejo, Algarve e Norte a registarem mais novas ligações n o centro do SEF, onde Ihor Homenyuk morreu, cobra às companhias aéreas 100 euros de diária por cada passageiro que ali fica retido.

Dixit
Podemos sair melhores ou piores da pandemia, mas não somos a mesma coisa.
Padre Manuel Barbosa, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa

O grande espião
Gosto de ler livros sobre espionagem e a figura de Richard Sorge sempre me interessou. Ian Fleming, o criador de 007, chamava-lhe "o espião mais formidável da História". Kim Philby, o espião russo infiltrado nos serviços secretos britânicos, disse que o trabalho efectuado por Sorge "foi impecável" e John Le Carré considerou-o o espião que se destacou entre os espiões, descrevendo-o como "um actor no sentido de Graham Greene, e um artista no sentido de Thomas Mann". "O Espião Perfeito", editado originalmente em 2019 e agora disponível em Portugal, é uma completa investigação sobre a vida de Sorge e a sua personalidade, a descrição minuciosa do que fez e das suas convicções, com o enquadramento histórico da época, desde o pacto Ribbentrop-Molotov até ao planeamento do ataque japonês a Pearl Harbor. Sorge foi um idealista que entregou a sua vida à causa da União Soviética, um militante comunista que não olhava a meios para atingir fins, um sedutor inteligente capaz de obter segredos dos maiores inimigos. Owen Matthews, o autor deste livro, vai além da vida de Sorge e mostra como era o clima na política e na diplomacia internacionais no período antes da II Grande Guerra e, depois, no seu decorrer. Conta como a "entourage" de Estaline escondia a realidade ao ditador, o que teve terríveis consequências. Sorge, que estava no Japão - onde criou uma formidável rede de espionagem -, tinha acesso às informações tanto da Alemanha como do exército japonês, e anunciou com antecedência a data precisa do ataque das tropas de Hitler à União Soviética. Mas em Moscovo os seus relatórios foram metidos na gaveta, porque contrariavam a convicção que Estaline tinha de que Hitler não o atacaria. Como se sabe, estava enganado, e este erro custou a vida a muitos milhares de soldados russos. Fascinante, a narrativa de Owen Matthews é um retrato desses tempos. Os interrogadores japoneses que o prenderam e executaram fazem dele este retrato: "Um exemplo devastador de brilhantismo na espionagem."

O que é um NFT?
Esta imagem mostra a aparência de "Everydays - The First 5000 Days", uma obra virtual criada digitalmente. Não tem existência física e o seu NFT (Non Fungible Token), ou ficheiro digital insubstituível, é o que tem valor por ser peça única, impossível de copiar. Foi leiloado no passado dia 11 de Março por 69,3 milhões de dólares. O seu autor é um artista digital norte-americano relativamente pouco conhecido, que assina como Beeple, mas cujo nome real é Mike Winkelmann. Trata-se do terceiro valor mais alto alcançado por um artista vivo (os outros são Jeff Koons e David Hockney). Winkelmann iniciou este trabalho a 1 de Maio de 2007 e, desde então, todos os dias criou um novo desenho. O NFT leiloado incorpora a junção digital de todas essas cinco mil peças feitas ao longo de 13 anos. A Christie’s, responsável pelo leilão, revelou que a quantia final foi alcançada nos últimos 10 minutos do prazo, quando o valor disparou dos 14 milhões para 30 milhões, e depois, num único lance, para o valor final da licitação. E quem foi o comprador? Uma empresa sediada em Singapura, a Metapurse (um fundo financeiro que colecciona NFT desde 2016), dirigida por Metakovan, o pseudónimo do comprador da obra de Beeple. A Christie’s aceitou que o pagamento fosse feito através da criptomoeda Ether, a segunda maior depois da Bitcoin, desenvolvida pela Ethereum, criadora da tecnologia blockchain, utilizada em transacções digitais e que permite a criação de NFT.

Twobadour, outro pseudónimo, que se apresenta como o porta-voz de Metakovan, afirmou numa entrevista ao site Artnet News que a peça que adquiriram tem valor, não só por ser digital e um NFT, "mas porque representa tempo, os 13 anos que demorou a fazer, e tempo é a única coisa que não pode ser pirateada nesta época digital". Em relação à utilização que pretendem dar à peça, Twobadour explica: "Queremos construir um grande monumento que só exista no mundo virtual para albergar as obras que vamos comprar. Temos em mente alguns dos maiores arquitectos contemporâneos, a quem vamos pedir que pensem no projecto. A ideia é construí-lo de forma virtual, colocar lá as obras de arte virtuais que tivermos, e depois abri-lo a todos os que o queiram visitar, à distância de um clique."

Arco da velha
Um depósito clandestino de mais de 120 mil toneladas de resíduos perigosos, que existe há quase 20 anos, em Setúbal, na Zona Protegida do Estuário do Sado, e que está a contaminar o lençol freático da Mitrena e as águas do rio, só agora foi detectado pelas entidades oficiais.

Dez cordas mágicas
A origem da viola campaniça, instrumento típico do Alentejo, é disputada entre Vila Verde de Ficalho e Castro Verde. Mas, na realidade, tornou-se popular em todo o Baixo Alentejo. Habitualmente usada para acompanhar os célebres cantes a despique, é a maior das violas portuguesas e possui dez cordas metálicas tocadas tradicionalmente de dedilhado apenas com o polegar. Após anos de esquecimento, na década de 1980 a viola campaniça começou a ser estudada e recuperada, aproveitando ainda os artesãos que a sabiam construir. O seu ressurgimento fez com que alguns músicos contemporâneos se interessassem por ela. Um deles é João Morais, com carreira feita na guitarra eléctrica do rock, que há uns anos se virou para outras músicas. Morais, que assina como "O Gajo", acabou de editar o seu terceiro disco, "Subterrâneos". Toca ao longo de uma dezena de faixas que ele próprio compôs, ao lado de Carlos Barreto no contrabaixo e de José Salgueiro na percussão: dois músicos muito ligados ao jazz. É uma boa surpresa ver como a viola campaniça vive bem fora do regime de instrumento quase sempre a solo, para conviver com sonoridades que não são suas companheiras habituais. O resultado é um dos melhores trabalhos discográficos portugueses dos últimos meses. Editado por discos Rastilho, o novo trabalho de "O Gajo" está disponível numa tiragem limitada de vinil, em CD e nas plataformas de streaming.

Sanduíche de salada
Gosto de sanduíches, com bom pão. Aqui a ideia é que o principal elemento da sanduíche seja uma boa dose de vegetais: alface de boa qualidade, espinafres, rúcula. O que gostarem ou tiverem à mão, mas em boa quantidade. Ao contrário de outras sanduíches, deixem a maionese de lado. Temperem os vegetais com bom azeite e limão, deixem-nos a marinar um bom bocado. Quando chegar a altura de fazer a sanduíche, levem as fatias de pão à torradeira até ficar um pouco tostado, barrem cada fatia com uma generosa porção de queijo fresco de cabra. Partam o que sobrar do queijo fresco em pedaços e misturem na salada entretanto preparada, e depois forrem as fatias de pão abundantemente com essa salada. Não sejam tímidos, deixem o verde com uma boa altura entre as fatias, e não se importem que transborde do pão. Bom apetite - agora com o tempo a começar a aquecer, é um petisco.

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