Opinião
A esquina do Rio
Estamos perigosamente a caminhar para um mundo de fantasia onde o efémero se sobrepõe a qualquer estratégia coerente de salvaguarda do que existe e de desenvolvimento coerente. Vivemos na ilusão da prosperidade com um Estado que só pensa em pagar-se a si próprio sem cuidar das suas funções.
Back to basics
"O mais importante é nunca desistir."
Stephen Hawking
A vã ilusão
Estamos perigosamente a caminhar para um mundo de fantasia onde o efémero se sobrepõe a qualquer estratégia coerente de salvaguarda do que existe e de desenvolvimento coerente. Vivemos na ilusão da prosperidade com um Estado que só pensa em pagar-se a si próprio sem cuidar das suas funções. A nova austeridade mostra-se nos problemas que existem nos hospitais, na degradação de equipamentos públicos como os caminhos-de-ferro, nos atrasos em dar condições a que se realizem obras necessárias de manutenção em equipamentos cruciais. Quando a coligação de esquerda se regozija com o que diz ser o fim da austeridade engana-se a si própria e, pior, pretende enganar os incautos. A verdade é que a nova austeridade se faz à conta do não cumprimento das obrigações do Estado, prejudicando toda a sociedade e criando situações de desprezo pelo bem-estar e segurança das pessoas. A nova austeridade vive de manter o peso do Estado mas tirando-lhe os meios de agir - ou seja, tornando-o vazio de sentido. Os efeitos desta política, no médio e longo prazo vão ser terríveis e tudo o que à frente se reparar será bem mais caro do que aquilo que agora se devia fazer.
• A presença de ecstasy nos esgotos de Lisboa aumentou mais de 40% num ano • nos últimos dez anos, 49 produtos portugueses foram retirados do mercado europeu por não terem sido aprovados em testes de segurança • no ano lectivo de 2016/2017, registaram-se 1.797 crimes em escolas da Área Metropolitana de Lisboa, um aumento de 10% em relação ao ano lectivo anterior • segundo um estudo de opinião divulgado esta semana 70,2% dos adeptos não acreditam que exista verdade desportiva no futebol português • segundo a Marktest o número de portugueses que usa aplicações de Instant Messaging quase triplicou nos últimos cinco anos • o preço das casas aumentou 12,8% no ano passado • 800 médicos recém-formados não têm vaga para especialidades e está a aumentar o número de jovens médicos que deixam o país para fazer formação especializada no estrangeiro • em 2017, a Segurança Social mandou fechar 133 lares • no passado fim-de-semana o consumo de electricidade em Portugal foi assegurado na íntegra por fontes renováveis, sobretudo energia eólica, durante 69 horas seguidas • desde o início do ano já se verificaram 13 greves, o que dá a média de uma greve por semana e estão anunciadas novas greves de professores, médicos e enfermeiros.
Dixit
"O território a que chamamos Portugal é habitado pelo ser humano há um milhão de anos."
Arqueólogo João Zilhão
Folhear
Do panorama editorial português quase tinha desaparecido a figura de uma revista consagrada ao pensamento e ensaio. "Electra", a nova revista trimestral da Fundação EDP, ganha o seu nome da Grécia antiga e no editorial deste primeiro número, co-assinado pelo seu director José Manuel dos Santos e pelo subdirector António Soares, apresenta-se como "uma revista que interroga o espírito do tempo, as tendências, as ideias, as imagens, as mitologias que configuram e fazem mover a nossa época". O estatuto editorial define "Electra" como uma "revista de crítica, pesquisa, ensaio e reflexão cultural" apontando que deve ser "de actualidade, mas de uma actualidade que vai para além da imediatez mediática". "Electra" tem duas edições - uma em português e outra em inglês, manifestando assim a sua vontade em ter influência além das nossas fronteiras. Um dos destaques desta edição inaugural é uma entrevista feita por António Guerreiro a Boris Groys, um professor alemão, actualmente em Nova Iorque, crítico de arte, teórico dos media e filósofo que se tem debruçado sobre as relações entre a arte e a política e entre o artista e a sociedade. Groys estará sábado no MAAT onde proferirá uma conferência sobre "A Arte na Época da Internet". Com um grafismo minimalista e adequadamente conservador, em conformidade com o tom geral da edição, neste primeiro número de "Electra" destaca-se um ensaio de João Oliveira Duarte sobre o poeta António Franco Alexandre, o portefólio "Rainer Maria Rilke: Klage" de Lourdes Castro e o ensaio "Cada época sonha com a seguinte" de Maria Filomena Molder sobre a citação de Jules Michelet que lhe serviu de inspiração.
Gosto
97,4% dos alunos que participaram nos dois anos do projecto Tablets no Ensino e na Aprendizagem, da Fundação Calouste Gulbenkian, passaram de ano - uma taxa de quase 100% de sucesso escolar.
Não gosto
Cerca de 60% das linhas de comboio estão em mau estado de conservação e condicionam a circulação ferroviária - revela um relatório da Infraestruturas de Portugal.
Ver
O desenho é a raiz de toda a criatividade visual - quer esteja esboçado ou sugerido. Sob a aparência da simplicidade pode ser surpreendente ao conseguir transmitir ideias complexas ou, em contraste, ao ordenar sucintamente o espaço onde se desenvolve. É isto que acontece com os novos desenhos de Pedro Calapez patentes na exposição "Desenho e Construção", uma mostra simultaneamente tranquila e arrebatadora nos vários momentos em que está organizada - as séries "Vagos", "Variações Num Quadrado" e "Plano Duplo". "Construir é a acção de organizar linhas, traços ou manchas, numa superfície com a finalidade de criar níveis distintos de intervenção que dialogam entre si" - escreveu Calapez nas suas notas sobre esta exposição. "Cada desenho - sublinhou - só acaba quando as orientações das linhas estão suficientemente definidas e a mão cansada decide não continuar." Desenho e construção ficam até 20 de Abril, na Galeria João Esteves de Oliveira, Rua Ivens 38. Outras sugestões: na Galeria Monumental (Campo dos Mártires da Pátria 101) Teresa Dias Coelho mostra até 7 de Abril novos desenhos sob o título "Turn Again". No Porto, na Galeria Municipal, Palácio de Cristal, até 20 de Maio a Fundação EDP apresenta "Germinal", que expõe obras do núcleo Cabrita Reis que desde o ano passado faz parte da colecção desta Fundação.
Arco da velha
No Liceu Camões, em Lisboa, apenas dez professores, num total de 70, aderiram à greve do início desta semana - mas os sindicatos de Mário Nogueira garantiram que a adesão ficou entre os 60 e os 70%.
Ouvir
David Byrne habituou-nos, nas várias fases da sua carreira, com os Talking Heads e, depois, a solo ou nos diversos projectos em que tem colaborado, a mostrar as suas observações sobre a América, surgindo repetidamente como uma espécie de barómetro com um humor fino. "American Utopia", o seu primeiro álbum de há 14 anos, prossegue esse caminho e, de certa forma, é surpreendente. Como acontece a alguns dos seus contemporâneos, Byrne podia ter seguido o caminho de fazer um álbum de versões ou de imitações de si próprio. Em vez disso atreveu-se a, mais uma vez, surpreender e provocar - quer em palavras quer nos arranjos das dez canções aqui apresentadas, todas feitas a partir de composições originais de Brian Eno às quais Byrne juntou as palavras. "I Dance Like This", a faixa de abertura, é um regresso ao pop; "It's Not Dark Up Here" é um manifesto dançante que apela ao optimismo mesmo em tempos negros e "Every Day Is A Miracle" é uma balada que ganha ritmo à medida que recomenda que se sobreviva aos maus momentos. No final do disco estão dois dos temas mais marcantes, "Doing The Right Thing" e "Everybody's Coming To My House", a minha canção preferida, que inclui uma frase que resume todo o sentimento do disco , "We are only tourists in this life". Ao longo do disco as teclas misturam-se com as guitarras, vozes e percussões, numa explosão de sons hoje em dia rara. Quase nos 66 anos, não se pode dizer que David Byrne esteja sentado na varanda a curtir a reforma. CD Nonesuch, Distribuição Warner.
Provar
Há pouco mais de um ano surgiu na restauração lisboeta o conceito "Topo" , que deu origem a um grupo que já tem restaurantes no alto de edifícios no Martim Moniz, no Largo do Carmo e agora no CCB, onde antes estava o Bar Terraço. A localização do Topo do CCB é privilegiada, com vista sobre o rio, 40 lugares na sala e, quando estiver melhor tempo, 30 adicionais na esplanada. A cozinha, liderada pelo chef Luís Martins, tem inspiração nacional e propõe ao longo do dia e fim de tarde petiscos diversos. Ao almoço há um menu executivo que por 14 euros propõe couvert, sopa ou sobremesa, o prato do dia e uma bebida. A carta, mudada há poucas semanas, oferece várias possibilidades. Numa recente visita experimentaram-se duas entradas para partilhar: chamuças de coelho bravo com puré de escabeche de cheróvia e peixe-espada à madeirense marinado com abacate e acompanhado por chips de batata-doce. Ambos muito bem, as chamuças estaladiças e de fritura correcta, o peixe-espada com um sabor inesperado. A seguir veio um robalo real com xerém de bivalves e coentros - peixe fresquíssimo e cozinhado no ponto, o xerém a merecer elogios. Para uma próxima visita ficará o arroz de javali, castanhas e cogumelos. Nos doces, há propostas como pão-de-ló com creme de ovo, pudim Abade de Priscos e uma mousse de chocolate com flor de sal e azeite. A carta de vinhos não é muito extensa, mas oferece boas propostas a preços razoáveis. Telefone 213 010 524.
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