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15 de Dezembro de 2017 às 10:06

A esquina do Rio

Esta semana, soube-se que o PS decidiu excluir José Sócrates das comemorações do 10.º aniversário da aprovação do Tratado de Lisboa.

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Insanidade é continuar a fazer a mesma coisa e esperar obter resultados diferentes.
Albert Einstein

Pântano
Esta semana, soube-se que o PS decidiu excluir José Sócrates das comemorações do 10.º aniversário da aprovação do Tratado de Lisboa. Há dez anos, essa cimeira acabou com o ex-primeiro-ministro a dar uma palmada nas costas de Durão Barroso, então presidente da Comissão Europeia, e a dizer-lhe "porreiro, pá" uma vez assinado o acordo, que aliás se veio a revelar essencialmente inútil. Mas há que reconhecer que o excluído está muito bem representado nestas comemorações: Vieira da Silva, um dos homens que participava nos almoços íntimos de Sócrates, e Santos Silva, seu terrorista verbal de serviço, lá estarão na bancada do Governo, mostrando como o pantanal socrático perdura, em cargos de destaque, no PS de António Costa e que, como por estes dias se viu, continua com duvidosos métodos. A propósito do caso Raríssimas, estes dois nomes socráticos deram que falar: Vieira da Silva por se ter prestado a dar o nome para a instituição agora investigada, aceitando ser vice-presidente da assembleia-geral da Raríssimas e jurando agora não saber o que lá se passava - certamente da mesma forma como nunca percebeu o que Sócrates ia fazendo; e Santos Silva, retomando os seus melhores tempos de aprendiz de rottweiler, a classificar como "razões pessoais" aquilo que levou o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, a sair do Governo: as razões pessoais, tirando incidentes laterais, são os 63 mil euros e viagens recebidos enquanto consultor da instituição, para a qual foi convidado pela presidente agora investigada. Paula Brito e Costa convidou-o por, nas suas próprias palavras citadas pela imprensa, ele ser um homem do PS bem colocado na área da saúde. O que esta semana mostrou, em relação ao PS, é que ou Costa acaba com a peçonha ou a peçonha acaba com ele.  

Semanada
 A despesa das famílias portuguesas em cultura afundou mais de 21% em cinco anos  na última década, o ensino público perdeu 127 mil alunos  o número de alunos do pré-escolar tem vindo a diminuir nos últimos quatro anos em termos percentuais face à população dos quatro e cinco anos de idade  os bancos emprestaram mais de 3,4 mil milhões de euros para crédito ao consumo nos primeiros dez meses do ano, o maior valor desde há uma década  os novos créditos à habitação concedidos em Outubro significam um aumento de 54,8% face a igual período do ano passado  a produção industrial aumentou em Outubro na Zona Euro e União Europeia face ao mês homólogo, mas recuou na comparação com Setembro, tendo Portugal registado a segunda maior quebra mensal  a dívida dos hospitais públicos a fornecedores já atingiu 1.090 milhões de euros  metade dos jovens médicos admite emigrar depois de ter obtido a especialidade em Portugal  a legionela foi responsável pela morte de 40 pessoas em Portugal nos últimos quatro anos  Rui Rio declarou-se indisponível para fazer debates com Santana Lopes nas três televisões generalistas  a TV por cabo já chega a 92% das famílias portuguesas  ocorreu esta semana a sexta remodelação governamental  em dois anos, Costa já teve 14 baixas no Governo desde que a Frente de Esquerda chegou ao poder; em Seia, um homem tentou vender a um GNR a fotocópia de uma cautela da Lotaria de Natal como se fosse verdadeira.

Dixit
"O que é o presidente do Eurogrupo? É um presidente de porra nenhuma."
António Lobo Xavier, na "Quadratura do Círculo"

Ouvir
Entre 1966 e 1968, Amália Rodrigues fez várias sessões de gravação com o Conjunto de Guitarras de Raul Nery. Dessas sessões saíram alguns discos, entre os quais um registo de referência da carreira da fadista, o LP "Vou Dar de Beber à Dor". Agora, pela primeira vez, são disponibilizadas, numa única edição discográfica, todas as sessões gravadas nesse período de tempo. Numa nova edição feita a partir de um cuidado trabalho de pesquisa nos arquivos da Valentim de Carvalho, reúnem-se três CD com 81 registos de quase outros tantos temas, nas diversas versões que foram sendo registadas em estúdio. O primeiro disco reproduz o original LP "Fados 67", o álbum da Amália que incluía maior número de fados tradicionais. No segundo disco, estão outros fados tradicionais e algum repertório internacional que então Amália costumava cantar nas suas digressões, sobretudo em França. Finalmente, o terceiro disco tem várias versões inéditas de gravações conhecidas, ensaios de estúdio e outros registos, hoje raros, que foram originalmente editados em EP. Não só a qualidade e variedade do repertório é assinalável, como aqui se encontram as primeiras gravações de Amália em captação estereofónica. Além disso, durante o período de tempo em que estas gravações foram feitas, a voz de Amália estava num período excepcional - há mesmo quem diga que foi o seu melhor momento. Destaque ainda para os textos de enquadramento de Frederico Santiago (o responsável pelo trabalho de pesquisa nos arquivos da Valentim de Carvalho) e para um notável ensaio de Nuno Vieira de Almeida, "Amália - Algumas razões para a amar". "Fados 67", triplo CD, edição Valentim de Carvalho. 

Gosto
"Fátima", de João Canijo, foi seleccionado para o Festival Internacional de Cinema de Roterdão, na Holanda, a realizar em Janeiro do próximo ano. 

Não gosto
Em Outubro, as importações cresceram duas vezes mais do que as exportações.

Ver
Pode uma só obra justificar uma exposição? A resposta é sim e remete para "Eco", o trabalho de Rui Sanches, apresentado no Projecto Travessa da Ermida (Travessa do Mata Pinto 21) até 31 de Dezembro. A partir de um texto de Ovídio, o artista revisita o significado do que pode ser o eco e sugere uma sua tradução espacial (na imagem). Mudando completamente de registo, vale a pena ir nestes próximos dias - até domingo, 17 - ver a peça "Nathan, O Sábio" ao Teatro Municipal Joaquim Benite, em  Almada - um texto de Gotthold Ephraim Lessing, que aborda a relação entre religiões, mais precisamente a tolerância numa cidade, simbolicamente Jerusalém, onde muçulmanos, judeus e cristãos se cruzam. A peça, numa tradução de Yvette Centeno, é apresentada pela primeira vez em Portugal, com encenação de Rodrigo Francisco, cenários de Pedro Calapez e figurinos de António Lagarto, um conjunto coerente, particularmente bem pensado para a peça, cuja acção decorre no século XII mas que, com a envolvente cenográfica criada, ganha uma dimensão de intemporalidade - ou, mais precisamente, de uma actualidade particularmente relevante. Outras sugestões: a partir deste fim-de-semana, as obras de José Pedro Croft, que representaram Portugal na Bienal de Veneza, vão estar expostas no espaço da Real Vinícola em Matosinhos; "Na Penumbra" é o título do conjunto de fotografias de Augusto Brázio patentes na Galeria das Salgadeiras, Rua da Atalaia 12, no Bairro Alto; finalmente, a ExperimentaDesign, pela mão da sua fundadora Guta Moura Guedes, inaugurou um espaço próprio, a Lisbon Gallery, inteiramente dedicado à arquitectura e ao design, com peças de Amanda Levete, Fernando Brízio, Jasper Morrison, Michael Anastassiades e Miguel Vieira Baptista, entre outros.

Arco da velha
O ministro Vieira da Silva mandou agora auditar as contas da Raríssimas, exactamente as mesmas que ele próprio aprovou numa assembleia-geral da instituição antes de ir para o Governo. E o ex-tesoureiro da Raríssimas revelou que o ministro da Segurança Social não lhe respondeu a denúncias que lhe enviou em Setembro. 

Folhear
Todos os anos, a editora Guerra & Paz tem lançado por esta altura edições especiais, os chamados "beaux livres", como o editor Manuel S. Fonseca gosta de se lhes referir. Estas obras constituem a colecção "Três Sinais", onde se combina um lado artesanal com um design gráfico contemporâneo. "O Físico Prodigioso", que dá corpo à edição deste ano, é um texto de Jorge de Sena, publicado pela primeira vez em 1966 na colectânea de contos do escritor, intitulada "Novas Andanças do Demónio". "O Físico Prodigioso" pode ser, como o próprio Jorge de Sena explicava, um médico ou mágico medieval, imaginado pelo escritor quando vivia no Brasil em 1964, como símbolo da liberdade e do amor. Eugénio Melo e Castro, que incluiu o texto em "Antologia do Conto Fantástico Português", de 1974, considerava "O Físico Prodigioso" como "um modelo superlativo do conto fantástico". Nas notas introdutórias que escreveu em 1977 para uma nova edição, Jorge de Sena faz notar que "O Físico Prodigioso" não é uma escrita clássica, antes preferindo "o experimentalismo narrativo, jogando com o espaço, o tempo, a repetição variada do texto". A nova edição inclui um conjunto de 21 ilustrações inéditas feitas propositadamente para esta obra por Mariana Viana, uma capa articulada, dourada, e acabamento com faces do miolo pintadas à mão. O grafismo é de Ilídio Viana, foram feitos 1.500 exemplares numerados. O editor refere que esta foi "a forma que a Guerra e Paz encontrou para, num tempo de mudança de paradigma do livro, reforçar a singularidade de uma obra de conteúdo audacioso e perturbador". Se está à procura de uma prenda de Natal que não se desvaneça no tempo, esta é uma boa ideia. 

Provar
Construído nos anos 90 do século passado na Doca do Bom Sucesso, em Belém, o restaurante Vela Latina impôs-se ao longo dos anos como uma referência da restauração lisboeta. Era um local clássico, com boa comida e uma garrafeira com vinhos muito acima da média. O restaurante tinha um bar, quando se subiam as escadas, antes de entrar na sala principal, e em baixo tinha uma sala privada para um grupo pequeno, que continua a existir. A meio deste ano, sofreu obras profundas e o bar passou a ser uma sala dedicada ao cruzamento das cozinhas do Japão e do Peru. O restaurante antigo foi todo redecorado, mas a lista mantém-se com bons clássicos que fizeram a fama da casa, como os filetes de pescada com arroz de berbigão e salsa, os rolinhos de linguados com gambas, ou os fígados de aves em tarte de maçã. Nesta primeira visita, as atenções foram para o antigo bar, agora Nikkei, o espaço de fusão entre Oriente e América Latina, que foi roubar o seu nome ao índice da bolsa de Tóquio. A boa influência peruana faz-se notar nas sugestões de ceviche que contrastam, e completam bem, as variedades de sushi. Em qualquer caso, a qualidade do peixe é impecável, assim como o seu corte, tal como o preparo do arroz, o ponto decisivo para aferir a honestidade do sushi. A lista de vinhos do Nikkei tem propostas diversificadas, muito pensada em função da comida que serve, sobretudo nos brancos. Nas sobremesas, aparecem surpresas como churros, servidos com molho de chocolate derretido. O ambiente é simpático, o serviço é atencioso. Um dia destes, regresso à sala grande para ver como se comportam os clássicos… Nikkei, Doca do Bom Sucesso, telefone 213 017 118. 


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