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Manuel Falcão - Jornalista 11 de Novembro de 2016 às 10:19

A esquina do Rio

Durante meses, muita gente andou a tapar o sol com a peneira, a ver se as eleições americanas se safavam com um mal menor, uma espécie de bloco central entre os directórios dos partidos Democrata e Republicano, que apenas ofereciam mais do mesmo.

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Back to basics
Qualquer americano que se disponha a candidatar-se a Presidente devia, automaticamente e por definição, ser impedido de o fazer.
Gore Vidal

Novo mundo
Durante meses, muita gente andou a tapar o sol com a peneira, a ver se as eleições americanas se safavam com um mal menor, uma espécie de bloco central entre os directórios dos partidos Democrata e Republicano, que apenas ofereciam mais do mesmo. Hillary, cujo prazo de validade na política americana, de acordo com os parâmetros de Washington, já estava expirado, era a sua proposta comum. Acontece que ela foi percepcionada como uma candidata do sistema, das manhosices políticas instituídas, sem trazer nada de novo. Atrás dela estavam os democratas, mas também a elite republicana que se incomodava com o estilo de Trump. Ora, estes bem pensantes são, como se viu, de uma arrogância insuportável aos olhos de uma parte importante da América. Já muito foi dito sobre o olhar distorcido e a imagem tendenciosa que os media passaram sobre as eleições e os candidatos. No fundo, o resultado destas eleições americanas reafirmou que a característica mais importante de um político é a de ser autêntico, de sentir e acreditar no seu projecto de tal maneira que consiga transmitir essa energia aos seus apoiantes, independentemente de tradições, elites e de manobras partidárias e de comunicação. Os derradeiros "spots" de publicidade dos dois candidatos antes do dia das eleições mostram uma Clinton conformista e um Donald confiante e desafiador. Ao longo dos 600 dias de campanha, Trump perdeu apoiantes de peso na direcção dos republicanos, mudou várias vezes a sua equipa operacional, ignorou conselhos do aparelho e foi em frente, baseado no seu núcleo duro. E, assim, acabou por dar aos republicanos uma vitória inesperada em toda a linha - para além da sua presidência, também no Senado e na Câmara dos Representantes. Li algures, num blogue americano, uma frase que me ficou na memória destes dias: "Já passámos por derrocadas económicas e guerras devastadoras - mas, hoje em dia, as pessoas levam nos seus bolsos aparelhos que são supercomputadores e que ajudam a mudar o que nos rodeia todos os dias e a influenciar quotidianamente as nossas vidas, e isso é algo de novo e que tem um impacto enorme na maneira como o mundo funciona." A Web Summit, que aí está, no fundo, é sobre isto. E é neste novo mundo que tudo se passará.

Semanada
 O Ministério da Cultura vai nomear mais três vigilantes para o Museu Nacional de Arte Antiga onde, há dias, um visitante derrubou e partiu uma escultura do século XVII, do Arcanjo Miguel  a estação do metropolitano de Arroios fechou devido ao elevado tráfego para a Web Summit  soube-se esta semana que o IPO do Porto despediu uma farmacêutica que estava em período experimental quando se apercebeu que estava grávida  o consumo actual de leite em Portugal é o mais baixo desde há 32 anos  no último ano, emigraram 101.203 portugueses, 32.301 dos quais com destino ao Reino Unido  um estudo da Universidade de Aveiro indica que 70% das farmácias dão prejuízo  estão à venda, na internet, licenças de táxis com valores que vão dos 100 aos 200 mil euros  o crédito à habitação voltou aos níveis de 2010  uma sondagem publicada esta semana para o Negócios e Correio da Manhã indica que Rui Rio pode obter melhores resultados do que Passos Coelho em todos os cenários de confronto com António Costa  o número de professores que se aposentaram este ano é o mais baixo desde 2004  o peso da economia paralela aumentou nos últimos dois anos e já ultrapassa os 25% do PIB.

Dixit
O que sei é que pessoas como eu e, provavelmente, a maioria dos leitores do New York Times, de facto, não perceberam o país em que vivem.
Paul Krugman, Sobre a vitória de Trump.

Ver
Nos últimos 14 anos, o fotógrafo português Rui Calçada Bastos viveu em Berlim e fez dessa cidade o centro das suas expedições pela Europa. Foi registando imagens, observações aparentemente banais, mas que exprimem as suas memórias e a sua visão pessoal dos locais por onde andou, efectuadas em Berlim, mas também em Lisboa, Budapeste, Paris,
Estocolmo e Riga, cidades com que o autor confessa ter particulares motivos de afeição. Intitulada "Walking Distance" (na imagem), esta é a mais interessante mostra da nova série de exposições que ficou patente no MAAT, neste caso a partir desta semana e até 16 de Janeiro. Há também uma exposição que assinala os 50 anos de actividade de Eduardo Batarda, intitulada "Misquoteros - A Selection of T-Shirts", um pretexto para um jogo de palavras que formam 646 frases espalhadas em 30 pinturas. A série completa-se com "Liquid Skin", uma instalação montada a partir de excertos de filmes de Joaquim Sapinho e Apichatpong Weerasethakul.

Outras sugestões: "Os Meus Álbuns de Família Um a Um", que agrupa pela primeira vez os 36 álbuns que Lourdes Castro fez, na Culturgest, até 8 de Janeiro. No Atelier-Museu Júlio Pomar, o novo convidado é Julião Sarmento. Esta série de convidados, cujas obras dialogam com as de Pomar, foi iniciada por Rui Chafes e terá, a seguir, Pedro Cabrita Reis, Rua do Vale, até 29 de Janeiro. Passando para o Porto, destaque para a grande exposição de Amadeo de Souza Cardoso no Museu Nacional Soares dos Reis que, em Janeiro, vem para Lisboa (Museu do Chiado). E, por fim, também no Porto, na Galeria Fernando dos Santos, "Configurações" - pinturas recentes de Pedro Calapez, que inaugura este sábado e fica até 7 de Janeiro, na Rua Miguel Bombarda 526.

Gosto
Da plataforma GPS (Global Portuguese Scientists), que visa juntar os talentos portugueses espalhados pelo mundo em diversos centros de investigação e que, até aqui, não tinham qualquer ligação entre si.

Não gosto
Da forma como a RTP se prestou a ser manobrada por um fugitivo procurado pelas autoridades, servindo-lhe de escudo e acedendo às suas exigências - coisa pouco consentânea com a noção de serviço público. 

Ouvir
Paolo Conte é um compositor e músico italiano que navega pelo jazz com influências de valsas, milongas e do charleston. O seu álbum mais recente, "Amazing Game - Instrumental Music", tem 23 temas feitos desde os anos 90 até agora, inicialmente destinados a bandas sonoras de peças de teatro, filmes, alguns trabalhos experimentais. A improvisação joga também um importante papel em algumas das faixas onde Paolo Conte comanda os seus músicos com o piano, mas deixando-os soltos em momentos de virtuosismo instrumental e de evidente cumplicidade. A música de Paolo Conte é feita de uma hábil combinação de melodias e de ritmos, frequentemente evocando memórias de outras sonoridades. Conte nasceu em 1937, estudou Direito, foi advogado e tornou-se conhecido como músico a partir da segunda metade dos anos 60, graças a versões de composições suas tornadas populares por nomes como Adriano Celentano, que tornou "Azzuro" num êxito. Além de compositor e músico, o trabalho e o talento de Paolo Conte em áreas como a poesia e a pintura têm sido distinguidos e é conhecida a sua proximidade a nomes como Hugo Pratt, com quem trabalhou em diversos projectos. O seu primeiro disco a solo data de 1974 e, desde então, editou 16 álbuns de originais e outros tantos de gravações ao vivo e compilações. Este "Amazing Game" é um exemplo da sua versatilidade musical e é um belíssimo guia para descobrir a sua obra em diversas fases. Edição Decca/ Universal, distribuída em Portugal.

Folhear
Nesta semana em que meio mundo pensa como vai ser a América de Trump, proponho uma escritora norte-americana, politicamente incorrecta e vocacionada para contar episódios picantes com sentido de humor. Chama-se Therese ONeill (writerthereseoneill.com) e escreveu um delicioso livro sobre os bons costumes intitulado "Indecoroso - O Guia da Dama Vitoriana Para o Sexo, Casamento e Conduta". Se o começar a ler desprevenido, poderá pensar que é um texto escrito no século XIX nos tempos da rainha Vitória. A escritora vive no Oregon, um dos estados onde Hillary venceu, embora por reduzida margem. Therese ONeill escreve textos de humor e artigos sobre História para diversas publicações e este é o seu primeiro livro, publicado em Portugal em simultâneo com a edição norte-americana pela Guerra & Paz. Os títulos dos capítulos são todo um episódio: "Baldes para evacuação intestinal", "A Arte traiçoeira de tomar banho", "Fazer a corte", "A noite de núpcias", "Ser uma boa esposa", "Orgasmos medicinais e outras ficções" e o "Vício secreto", para citar só alguns. Ilustrado com desenhos que evocam a época vitoriana,  este "indecoroso" é uma lufada de ar fresco nos ventos que vêm da América.  

Arco da velha
Em todo o mundo, são tiradas cerca de 93 milhões de "selfies" por dia. 

Provar
Gosto de ovos verdes, mas há muito que não provava uns tão bons como os de uma pequena petisqueira situada em Campo de Ourique, chamada Chiringuito Tapas Bar. O menu está cheio de boas ideias, inclui propostas bem tradicionais, como peixinhos de horta, migas de tomate, tábuas de queijos e enchidos, uma variedade de ovos - desde mexidos com espargos ou farinheira, até ovos rotos, tortilha de batata e cebola, e os tais ovos verdes que constituíram uma boa entrada. Depois, veio rim frito com esparregado e bacalhau dourado à Brás, ambos muito satisfatórios. Fiquei com curiosidade pela coroa de tamboril e gambas e pela empada de perdiz e as costeletas de borrego panadas. O serviço é familiar e atento, um dos vinhos a copo é o Chaminé, que foi o escolhido. Ao longo da semana, há propostas de pratos para cada dia, desde feijoada à transmontana até ensopado de borrego ou pataniscas. Ao domingo, há buffet de cozido e, à segunda, fecha para descanso. Rua Correia Teles 31 B, telefone 211 314 432.



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