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Manuel Falcão - Jornalista 03 de Junho de 2016 às 10:24

A esquina do Rio

Há coisas em que a realidade ultrapassa a ficção. Quando a esquerda muda quadros com responsabilidade no aparelho de Estado

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Back to basics
A estupidez coloca-se na primeira fila para ser vista; a inteligência coloca-se na retaguarda para ver.
Bertrand Russell

Competências
Há coisas em que a realidade ultrapassa a ficção. Quando a esquerda muda quadros com responsabilidade no aparelho de Estado, o facto é encarado como uma substituição feita em nome da necessidade de dar uma nova orientação política; quando é a direita que faz idêntico movimento, a palavra mais doce que se ouve é "saneamento". Ou seja, a esquerda nunca saneia, limita-se a remodelar; a direita nunca remodela, pura e simplesmente saneia. Este Governo tem usado e abusado desta prática de forma transversal a todo o aparelho de Estado - desde a educação à economia, passando pela esfera das políticas sociais, cultura, economia, ou saúde, quem não é dos meus é contra mim, não interessa se está a fazer bem ou mal. A confiança política é mais valorizada por Costa e a sua tropa do que a competência. O emblema da lapela ou o cartão de associado partidário na carteira são os dados que interessa a quem promove os movimentos. O sempre diligente Vieira da Silva, ministro do Trabalho, limita-se a dizer que "a mudança de orientação política pode levar a mudanças de altos cargos dirigentes". Falava com esta bonomia sobre as mudanças que promoveu no IEFP e na Segurança Social quando um jornalista lhe perguntou se essas mudanças tinham sido saneamentos políticos. Claramente que não, respondeu o ministro, sem se desmanchar. Aqui está um autêntico momento "zen" da política contemporânea. Até o muito diplomata ministro da Cultura, imagino que por instrução do seu iluminado secretário de Estado, resolveu afastar, sem explicações nem justificações, o director-geral das Artes. Assim funciona a geringonça.

Semanada
• O número de reclusos nas prisões portuguesas aumentou 22,5%, entre 2010 e 2015, passando dos 11.613 para os 14.222  na sequência da detenção de um ex-espião português, o departamento de segurança da NATO tem desconfianças sobre a segurança dos documentos e informações que confia ao SIS  a função pública reduziu o horário para 35 horas semanais  no âmbito desta redução, de 40 para 35 horas, os serviços públicos poderão reduzir o horário de atendimento ao público  a dívida pública portuguesa atingiu os 235,8 mil milhões de euros em abril, o valor mais elevado desde Fevereiro de 2015, que é 2,8 mil milhões de euros superior ao registado em Março  a OCDE cortou a previsão de crescimento em 2016 para 1,2% - em Novembro, era 1,6% e o défice ficará acima do previsto pelo Governo  Portugal foi ultrapassado pela Espanha no ranking da competitividade e perdeu três posições graças aos indicadores de desempenho da economia  o Presidente da República foi ao Parlamento, ao Fórum das Políticas Públicas, para apelar aos consensos no centrão político  o investimento terá que crescer 7,3% nos próximos trimestres para atingir a meta dos 4,9% anuais  quase 70% dos portugueses tem excesso de peso, mais de metade tem colesterol e 36% sofre de hipertensão  o preço da sardinha atingiu, no fim de Maio, o valor mais elevado dos últimos 20 anos  os presidentes das Câmaras do Porto, Gaia, Matosinhos e Gondomar afirmaram-se contrários aos contratos para os planos estratégicos de desenvolvimento urbano apresentados pelo Governo  a Câmara Municipal de Lisboa já contratualizou 30,7 milhões de euros em obras este ano e 30 mil euros numa campanha de "outdoors" sobre essas mesmas obras, ao mesmo tempo que fez cortes na área da assistência social.

Dixit
Há medo no PS. Há pessoas que não falam por medo de retaliações.
António Galamba, Membro da Comissão Política do PS, onde deixou de ir porque uma vez o mandaram calar.

Folhear
Tenho a sensação de que hoje em dia a maioria das pessoas que estarão a ler este jornal olham para António Barreto e vêem nele o cronista acutilante, o apaixonado pelo despertar das flores dos jacarandás de Lisboa, um fotógrafo de mérito, um divulgador do seu Douro, um sociólogo dedicado à compilação dos dados que ajudam a conhecer uma sociedade, um autor de documentários de referência no panorama audiovisual mais recente. Poucos se recordarão já do político, do ministro da Agricultura que, em 1977, aos 34 anos, ousou enfrentar as ocupações de terras, feitas em nome de uma reforma agrária que pouco tinha de reformista; foi alvo de "slogans", de pinturas nas paredes e de manifestações. Retirou-se da vida política em 1991, com 49 anos, portanto há um quarto de século. Mas nunca deixou de pensar Portugal e de analisar o que se passava no seu país - de uma forma independente, com um raciocínio tranquilo, com um discurso claro e compreensível.
Nos últimos 25 anos, António Barreto foi um tradutor da realidade que nos rodeia, ajudando-nos a percebê-la como poucos. No recente livro "António Barreto - Política e Pensamento", a historiadora Maria de Fátima Bonifácio percorre o percurso público de António Barreto, enquadrando-o no tempo e nos acontecimentos de cada época - o que ajuda a percebê-lo e ajuda também a reviver momentos de Portugal. Mais de metade do livro retrata a sua rápida e marcante carreira política e governamental; o resto mostra o cidadão interessado, o estudioso da sociedade, o homem curioso por fazer descobrir Portugal pelos portugueses. É um relato fascinante, não só da vida de António Barreto, mas também destes anos de Portugal e de vários dos seus protagonistas. Edição Leya/D.Quixote.

Gosto
A BBC World destacou o trabalho da artista plástica angolana Daniela Ribeiro, em exposição em Londres na Gallery Of African Art.

Não gosto
Os gastos com as parcerias público-privadas ficaram 16% acima do previsto.

Ver
Depois de um fim-de-semana animado pela ARCO em Lisboa, retoma-se a actividade normal. Dois destaques: na Galeria João Esteves de Oliveira, ao Chiado (Rua Ivens 38), estão desenhos de António Olaio, artista plástico e músico, personagem polifacetada e de referência na Coimbra, onde vive e trabalha. A exposição chama-se "Young People Thinking About Each Other (cabeças em trânsito)" e mostra uma série de desenhos em grafite sobre papel (um deles na imagem). Fica até 1 de Julho. Outra exposição a ver está na nova localização da p4 Gallery, espaço dedicado à fotografia que se mudou para a porta ao lado de "A Pequena Galeria", no número 4B, armazém 12, da 24 de Julho. Desde esta semana, lá está uma curiosa exposição de imagens no formato 6x6, "Vintage Prints, de Gérard Castello Lopes e Victor Palla", que fazem parte dos álbuns pessoais dos autores, tiradas com as suas Rolleiflex. Aqui ao lado, em Madrid, até 26 de Agosto, decorre o PhotoEspaña, com várias exposições, "workshops" e conferências: incontornável para quem gosta de fotografia. Finalmente, se por acaso planeiam ir a Londres em Julho, não percam a exposição "82 Portraiits and 1 still life", trabalhos de David Hockney na Royal Academy Of Arts, de 2 de Julho a 2 de Outubro, em antecipação da sua retrospectiva que será um dos pontos altos da programação da Tate no próximo ano.

Arco da velha
O chefe do serviço de tesouraria da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo desviou, durante cinco anos, cerca de 300 mil euros que gastava com várias amantes - segundo reza a acusação.

Ouvir
Quem escutar os mais recentes trabalhos de Emily Jane White, agora com 33 anos, não a imaginará em bandas punk e de heavy metal nos seus tempos de estudante. Nascida e criada na Califórnia, passou uma temporada em Paris e, no regresso a São Francisco, deu uma viragem marcante na sua carreira. Foi buscar às raízes folk a forma como passou a apresentar-se. Este ano, lançou "They Moved in Shadow All Together", o seu quinto álbum, cujo nome é tirado de uma frase de um romance de Cormac McCarthy. Há um contraste sensível entre a sua voz delicada e a produção discreta e alguma dureza nas palavras que canta, sobre diversas formas de violência. Há uma espécie de encantamento na maneira como usa a voz, que, às vezes, como alguns fazem notar, recorda a entoação de dinamarquesa Agnes Obel. Há uma perfeição impressionante nas vocalizações e nos arranjos de guitarra e piano que atravessam este disco. Onze temas originais, melodias envolventes, palavras marcantes. Uma das mais belas surpresas deste ano. Na Apple Music, em "streaming".

Provar
Aqui há uns anos atrás, a forma mais certa para conseguir um bom leitão da Bairrada em Lisboa era procurar uns recantos escondidos, sobretudo na zona oriental da cidade, que recebiam o animal ainda quente, e que replicavam em Lisboa o ambiente dos restaurantes da estrada que atravessa a Mealhada. Mais tarde, surgiram umas modernices aleitoadas em centros comerciais, sem grande graça e, depois, apareceram alguns sítios onde o bicho mostra atestado de proveniência e de boa preparação.
É o caso da Boutique dos Leitões, nome pomposo para um pequeno restaurante de Campo de Ourique, que recebe a iguaria diariamente, que a serve no local aos almoços e aceita encomendas para levar para casa ao fim da tarde. Quem lá for experimentar o bicho à hora de almoço, ficará bem animado, ainda por cima porque o vinho frisante que acompanha é bem vindo nestes dias de calor. Se em vez do frisante quiser uma coisa mais encorpada pode sempre aproveitar a cerveja artesanal Maldita, da região de Aveiro, que recentemente foi considerada uma das melhores da Europa e que está disponível na casa. Além do leitão tradicional e do seu adequado molho, há croquetes, rissóis e sandes do dito. E, nesta altura do ano, a partir do meio da tarde, também há caracóis para a pequena esplanada de que a casa dispõe. O leitão é sempre fresco e tem muita procura, mais vale reservar dose se o quiser provar lá ou levar para casa - Boutique dos Leitões, Francisco Metrass 34 A, telefone 966 706 853. Tem página no Facebook.

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