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19 de Fevereiro de 2016 às 09:45

A esquina do Rio

António Costa mandou os ministros falarem com o PS pelo país fora, no fim-de-semana passado, para explicar o que o Governo anda a fazer

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Back to basics
Estudem o passado se quiserem definir o futuro.
Confúcio

Habilidosos
No meio das desgraças que assolam Lisboa, fiquei a saber que a grande preocupação do presidente não eleito da autarquia, Fernando Medina, é descobrir o que fazer à Moda Lisboa, que vai estar na Praça do Município, no dia da tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa, o qual gostaria de patrocinar uma festa no local, nessa ocasião, para celebrar a sua investidura.
Reparei agora que estamos perante uma conjugação interessantíssima de factores - em São Bento, temos um primeiro-ministro que não ganhou em eleições e que deixou na Câmara Municipal de Lisboa, para lhe suceder, um seu correligionário, que também não ganhou eleições para o cargo que ocupa. Deve ser uma coisa nova da malta do PS - conseguir estar no poder, de forma habilidosa, à revelia dos resultados eleitorais. Enfim, já se sabe que o mundo é feito de mudança. O pior é que Medina resolveu dar cabo do sossego aos lisboetas e começou uma série de obras que prometem o caos para durante a sua existência e depois da sua conclusão. Os vereadores Salgado e Medina estão a querer ser réplicas contemporâneas do Marquês do Pombal, mas a verdade é que se assemelham mais a réplicas do terramoto.
Já está à vista o resultado dos desvarios na Avenida da Liberdade - maior concentração de trânsito e maior poluição, ao contrário do que se apregoava. Vai ser assim no resto, sobretudo no tal eixo central. Mas o pior de tudo é que, para esta gente, a comodidade de quem vive na cidade não interessa para nada. Apenas interessa arranjar o jardim para os visitantes passearem. É sabido que, nos anos de Costa, o centro da cidade perdeu habitantes, que muito comércio tradicional foi encerrado, que os lisboetas perderam qualidade de vida. É muito engraçado, embora pouco realista, querer fazer-se uma cidade contra o automóvel, mas à autarquia sabe-lhe bem cobrar os impostos de circulação e os estacionamentos, mantendo transportes públicos ineficazes. Que nome dar a quem ocupa o poder para fazer obras em interesse próprio e em desrespeito pelo interesse colectivo?

Dixit
"Está toda a gente a querer fazer desaparecer Cavaco Silva, a fazer de conta que já não existe".
Joaquim Aguiar, Sobre as audiências que o presidente eleito, Marcelo Rebelo de Sousa, tem realizado com protagonistas governamentais e políticos

Semanada
• António Costa mandou os ministros falarem com o PS pelo país fora, no fim-de-semana passado, para explicar o que o Governo anda a fazer  o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais desdobrou-se em entrevistas e assustou meio Portugal com o que disse sobre o imposto sucessório  António Costa fez vídeos a explicar as contas do Orçamento - não sei bem em qual das versões das contas se baseou  a ideia dos vídeos governamentais no YouTube é boa como conceito de propaganda, só que o actor é péssimo  fiquei a ver um dos vídeos, convencido de que estava a ver um daqueles canais de compras que passam de madrugada a vender bruxedos  um amigo meu diz que o Costa, nos vídeos, parece aqueles "spots" dos canais regionais de televisão norte-americanos com vendedores de carros em segunda mão a fazerem contas, provando que vendem mais barato que os outros  os vídeos fizeram-me pensar se António Costa não estaria a querer ser o Chávez da Europa em versão tecnológica  no resto da pátria está tudo tranquilo  Passos Coelho inaugurou uma escola - de repente, pensei que era notícia antiga mas não, foi mesmo desta semana  Mário Centeno anunciou que vai injectar mais 567 milhões de euros no defunto BPN  um amigo meu diz que Mário Centeno é parecido com Zé Colmeia, uma figura de banda desenhada que gosta de ir ao pote do mel  outro diz que, com as confusões do Orçamento, António Costa parece um daqueles condutores que entram em sentido contrário numa auto-estrada e começam a barafustar contra quem vem contra ele.

Ver
Recomendações para esta semana: na Galeria Belo-Galsterer, a exposição colectiva "PAPERWORKS III - Paisagem sem Paisagem", com C. B. Aragão, Claudia Fischer, João Grama e Marta Alvim (Rua Castilho 71, r/c esq); na Pequena Galeria (Av 24 de Julho 4c), a exposição RETRATOS, dos fotógrafos Marilene Bittencourt e Fernando Ricardo; "AS PALAVRAS", "assemblages" de José Pinto Correia, na Corclínica, Campo Grande 28 - 2º-C; mas o meu destaque, embora tardio, vai para a belíssima exposição "MÃOS", de Teresa Dias Coelho, na Galeria Monumental, que encerra já neste sábado dia 20 - a partir das 16h00 desse dia tem uma "finissage", aproveite para ir ao Campo dos Mártires da Pátria 101 ver outras obras como esta que aqui se reproduz.

Gosto
Das lojas antigas de Lisboa.

Não gosto
Da destruição das lojas antigas de Lisboa.

Ouvir
Este segundo disco do saxofonista Charles LLoyd para a Blue Note tem o feeling dos blues, a descoberta de temas originais do próprio Lloyd, o encanto de algumas versões e a perenidade de tradicionais folk. Se o saxofone é a imagem de marca do disco, o retoque da diferença é dado pelas guitarras de Bill Frisell e Greg Leisz, sobretudo a do primeiro. Nas versões, destaco "Masters Of War", de Dylan, onde as guitarras estão em primeiro plano, a versão de "Last Night I Had The Stangest Dream", um original de Ed McCurdy, que aqui conta com a participação especial de Willie Nelson e de "You Are So Beautiful", de Billy Preston, aqui interpretado por Norah Jones. Se escolher um dos originais vou para o tema final, "Barche Lamsel" e se escolher um dos tradicionais vou para "Shenandoah", onde Frisell mostra todo o seu talento na guitarra. Este é daqueles discos onde se percebe que todos os participantes tiveram mesmo gozo em tocar. Uma belíssima surpresa este "I Long To See You" - Charles Lloyd & The Marvels, edição Blue Note/Universal - claro que com uma mãozinha de Don Was na produção.

Arco da velha
Este Orçamento já vai em três versões - uma que foi para Bruxelas, outra que foi feita depois para cá, corrigindo o que Bruxelas achou excessivo, um rol de erratas que corrigia diversas coisas e, finalmente, mais umas rectificaçõezitas sobre uns mapas que estavam com números um bocadinho errados.

Folhear
Quando leio um livro como "M Train", de Patti Smith, interrogo-me sobre o sentido da vida e sobre o que algumas pessoas, cuja obra admiramos, dela fazem. O livro anterior de Patti Smith, "Just Kids", apesar de relatar os anos 70 em New York e a relação de Patti com Robert Mapplethorpe, parece uma reportagem num jardim escola quando comparado com este "M Train" - o relato da vida e da cumplicidade que ela desenvolveu com Fred "Sonic" Smith, o guitarrista dos MC5, um dos génios da guitarra eléctrica, desaparecido prematuramente em 1994. Patti Smith e Fred viveram, tiveram filhos, fizeram música e viagens. Este livro é o relato de uma paixão e de uma cumplicidade, do que fizeram e do que ficou por fazer, das viagens que ela ainda faz pensando em Fred, das suas obsessões, dos seus hábitos e rotinas, mas é sobretudo uma viagem ao processo criativo de uma artista marcante da sua geração. Não é nem uma biografia nem uma memória - é um ensaio sobre o dia-a-dia. E é um dos melhores livros que se pode ler para perceber o que vai dentro da cabeça de uma artista cheio de talento. (Edição Bloomsbury, na Amazon).

Provar
Frequentemente, gosto de comer sozinho, ao almoço, sentado, na calma, a ler uma revista e às vezes, hoje em dia, a folhear no iPhone o Flipboard ou outra aplicação do género. Mas do que mais gosto mesmo nesses momentos é de ficar a olhar à minha volta: o movimento da sala, os clientes, os empregados. Tenho, deste ponto de vista, saudades das Galerias Ritz, onde se podia ficar sentado ao balcão em algumas posições estratégicas que dominavam a entrada e permitiam ter uma boa visão das coisas. E, para o género, a comida era boa.
A única sala que ainda permite isto hoje em dia é a do Galeto, um bastião da tradição do snack-bar e talvez o restaurante lisboeta que junta maior número de clientes solitários regulares, sobretudo à noite - e continua a servir até tarde. Hoje vou lá pouco nesse horário, mas volta e meia gosto de lá ir ao almoço. A comida é mediana, mas sem sobressaltos, o balcão é confortável - um bom balcão sentado como há poucos hoje em dia em Lisboa.
O bife à Galeto não engana com as suas batatas fritas semi sintéticas, o ovo a cavalo bem estrelado e um esparregado com uns torneados incomparáveis. Continua a ter combinados, que convivem com alheiras e outros petiscos como iscas à portuguesa. Pronto - isto é mesmo vício de ficar a devanear enquanto se petisca e se faz uma viagem ao passado - às vezes, parece que de repente entrámos nos anos 70. Galeto - 213 544 544, Avenida da República 14, das 07h30 às 03h30.

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