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30 de Janeiro de 2015 às 10:02

A esquina do Rio

Que papel deve ter a televisão na participação cívica e na actividade política? Em Portugal, a questão costuma resumir-se a alguma discussão sobre a forma dos debates pré-eleitorais e sobre a rotina das entrevistas a líderes políticos.

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Back to basics

O preço que os homens bons pagam pela sua indiferença face à coisa pública é virem a ser governados por homens sem valor.

Platão

 

 

Comentários

Que papel deve ter a televisão na participação cívica e na actividade política? Em Portugal, a questão costuma resumir-se a alguma discussão sobre a forma dos debates pré-eleitorais e sobre a rotina das entrevistas a líderes políticos. Ao longo de um ano, especialmente de um ano não eleitoral, há poucos debates. O problema não é exclusivamente televisivo - apesar dos 40 anos da Assembleia da República, há poucos debates, bastante retórica e maioritariamente chicana e propaganda partidária.
Não há o hábito de discussão de ideias, mas sim de afirmação de posições - o que leva a que acordos sejam uma palavra rara. Normalmente, nesta terra de brandos costumes, não nasce a luz da discussão, mas é frequente nascer a confusão da troca de galhardetes. Tirando isso, e regressando à televisão, ficam os comentários e os comentadores. Ora, a esmagadora maioria dos comentadores são paus de bandeira com o estandarte hasteado, cada um a marcar o respectivo território. O curioso é que a análise política e o comentário não partidário são bens escassíssimos nos media portugueses, em particular na televisão - e, sobretudo, por mais paradoxal que isto possa parecer, nos canais de cabo dedicados à informação. O debate político em Portugal é tratado ao nível de concursos de talentos e de imitadores em que os concorrentes são ex ou actuais notáveis das vidinhas partidárias. É curto, mesmo que às vezes seja divertido. E, claro, ajuda a fazer carreiras - "the show must go on".

 

 

Semanada

• No domingo passado, o Syriza, da esquerda radical, ganhou as eleições gregas; na segunda-feira, o seu líder, Alex Tsipras, anunciou uma coligação com um partido de direita nacionalista  depois de optar por uma tomada de posse sem referências religiosas, ao contrário do que é hábito na Grécia, reuniu-se com o chefe da Igreja Ortodoxa grega  Tsipras, que tem criticado as sanções europeias à Rússia, recebeu uma calorosa saudação de Vladimir Putin pela vitória eleitoral, propondo aumentar a cooperação entre os dois países  o primeiro encontro de Tsipras com um diplomata estrangeiro, depois de vencer as eleições, foi com o embaixador russo Andrey Maslov  o primeiro acto público oficial de Tsipras depois de ser empossado primeiro-ministro foi depositar flores num memorial a vítimas da ocupação nazi alemã na Grécia  Angela Merkel dirigiu uma mensagem de felicitação a Tsipras, dizendo desejar fortalecer a cooperação entre os dois países  em França, Marine Le Pen congratulou-se com o resultado das eleições gregas, classificando-o como o início do julgamento da euro-austeridade  o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, participou na campanha do derrotado ex-primeiro ministro Samaras e um porta-voz do seu Partido Popular disse que não se podiam fazer comparações entre a Espanha e a Grécia  o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi disse que é bom ter um aliado como Tsipras em Bruxelas  Mário Soares manifestou "uma grande alegria" com a vitória "do amigo" Alex Tsipras, com quem esteve no ano passado, nas eleições europeias, num comício do Bloco de Esquerda realizado no norte do país  ao segundo dia como primeiro-ministro, Tsipras anunciou ir "reestruturar dívida", subir já o salário mínimo, travar privatizações e contratar funcionários públicos despedidos no tempo da troika  a bolsa grega caiu a pique e os juros da dívida helénica dispararam; o primeiro conselho de ministros de Alex Tsipras foi transmitido em directo pela televisão.

 

 

Dixit

"Fala ao telemóvel com tranquilidade?
- Falo. Como se estivesse a falar para um gravador".

Paula Teixeira da Cruz
Ministra da Justiça, em entrevista ao Expresso

 

 

Folhear

A edição de Fevereiro da revista Monocle é dedicada à hospitalidade, nas suas diversas formas, desde maneiras hospitaleiras de receber, seja em casa, num hotel ou num restaurante, até à forma como algumas embaixadas acolhem convidados. É uma edição muito curiosa, pontuada entre o bom gosto e as boas maneiras. Na secção de cultura, há um destaque para o panorama das galerias e da arte em Nova Orleães, mas também uma história deliciosa de mil árvores, plantadas no ano passado na floresta norueguesa, árvores que darão origem ao papel que será usado em 2114 para imprimir uma antologia de 100 autores que já está a ser preparada.
Na área de media, um artigo pequeno, mas curioso, sobre o que está a acontecer na produção televisiva em França, em parte impulsionada pela chegada ao mercado local do Netflix. Regressando à hospitalidade, Lisboa merece duas referências, uma com o Hotel Valverde na Avenida da Liberdade, outra com o Café Lisboa e as suas receitas, criadas por José Avillez. Finalmente, nesta edição, aparece o anúncio da "Monocle Quality Of Life Conference", que se realizará em Lisboa nos dias 17 e 18 de Abril, à volta da questão do desenvolvimento das cidades, da sua arquitectura, de como colocar o artesanato e o design no centro do desenvolvimento de actividades económicas. Para terminar, na nota final de Tyler Brûlé, fica a saber-se que a edição especial "The Forecast", editada em Dezembro, terá igualmente uma edição no Verão, mais centrada na cultura e nos media.

 

 

Gosto

O número de falências baixou pela primeira vez desde 2010.

 

 

Não gosto

Mais de um terço dos professores chumbaram na prova de avaliação e os erros básicos de português foram abundantes - apenas 34,7% dos avaliados não deram erros ortográficos.

 

 

Ver

Até 17 de Fevereiro, ainda pode ser vista, nos Paços do Concelho, em Lisboa, a exposição de imagens de fotojornalismo da agência noticiosa espanhola EFE. A mostra pretende dar a conhecer a actividade fotográfica da agência desde que ela se iniciou, há 75 anos.
A EFE tem mais de 13 milhões de imagens no arquivo, e destas, cerca de 2,5 milhões podem ser visitadas em www.lafototeca.com. Diariamente, a agência produz cerca de mil imagens em todo o mundo, mas predominantemente nas zonas de influência de Espanha, nomeadamente a América do Sul. Olhando para este trabalho de preservação da memória do fotojornalismo, fico a pensar como seria oportuno fazer idêntico trabalho na portuguesa agência LUSA e nas suas antecessoras, Notícias de Portugal, ANOP, ANI e Lusitânia, a precursora, fundada em 1944, há 70 anos portanto. Um bom complemento desta exposição da EFE, embora de natureza diversa, pode ser visto no Arquivo Fotográfico (Rua da Palma 246), onde até 14 de Março pode ser visitada a exposição de postais ilustrados "Palavra Arquivada" (na imagem) , comissariada por Carla Cabanas, a partir de um conjunto de postais do início do século XX provenientes da sua colecção particular e da colecção de Eduardo Portugal.

 

 

Ouvir

David Virelles é um pianista cubano que se tornou num dos novos cartões de visita da prestigiada editora alemã de jazz ECM, infelizmente cada vez mais difícil de encontrar em Portugal. Neste seu disco de estreia para a ECM, "Mbókò", Virelles é acompanhado por uma formação inusitada - dois baixistas, dois percussionistas (um deles também vocalista) e ele próprio no piano. Interpretam o que classificam de música sacra e ritual afro-cubana, com incursões de fusão frequentes em sonoridades contemporâneas. Os dois duplo-baixos, e as improvisações que desenham, são uma peça fundamental na construção da sonoridade, assim como as percussões, às quais é deixado um papel essencialmente de pontuação melódica. É difícil catalogar o disco, com raízes evidentes na world music, mas com pontes constantes ao jazz num trabalho de evidente exploração e inovação. O disco inclui dez temas do próprio Virelles e merece ser referido o papel de Thomas Morgan e Robert Hurst, ambos no duplo baixo, do baterista Marcus Gilmore e de Róman Diaz, um percussionista que toca biankoméko, um conjunto de percussões de quatro tambores, sinos e maracas. O meu exemplar de "Mbókò" veio da Amazon do Reino Unido.

 

 

Arco da velha

O negócio dos submarinos rendeu em comissões 27 milhões de euros, que foram distribuídos por accionistas da ESCOM e do GES.

 

 

Provar

Uma edição recente da revista norte-americana Time dedicava a sua capa inteirinha a elogiar os benefícios da manteiga e a contrariar a ideia de que ela poderia ser perigosa para o regime alimentar. Confesso que não resisto à boa manteiga, mas ela não é fácil de encontrar. Nos últimos anos, tenho usado a "Nova Açores", mas há dias descobri uma nova marca do arquipélago, a "Manteiga Rainha do Pico". Comprei-a na Garrafeira Néctar das Avenidas (Avenida Luís Bívar 40B, junto à esquina com a Duque de Ávila). Uma embalagem de 500 gramas custa 5,20 euros e garanto que uma torrada com esta manteiga faz toda a diferença. As minhas manhãs são outras desde que a descobri - ainda por cima com a consciência menos pesada graças à Time. Este espaço, Garrafeira Néctar das Avenidas, que recomendo vivamente, tem uma bela escolha de vinhos, incluindo alguns de pequena produção com boa relação qualidade/preço e distingue-se por uma cuidada selecção de vinhos do Porto. A casa é propriedade de um açoriano, recebe semanalmente produtos do arquipélago, desde a manteiga e compotas, como a de capucho, a biscoitos de canela, passando por massa sovada e bolo lêvedo das Furnas. Este deve ser dos poucos sítios do Continente onde se pode comprar o maravilhoso vinho generoso Czar, originário da ilha do Pico, e que deve o seu nome ao facto de, em tempos idos, a produção ser quase integralmente comprada pela corte imperial russa.

 

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