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Opinião
04 de Dezembro de 2015 às 10:01

A esquina do Rio

A CGTP regressou esta semana, com estrondo, ao centro da actividade política. O pontapé de saída foi dado, com a elegância que se lhe conhece, por Arménio Carlos à porta do Conselho Permanente da Concertação.

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Back to basics
Há diferenças significativas entre o ser humano e outros animais: os animais têm instintos, nós temos impostos.
Erving Goffman

Minas & armadilhas
A CGTP regressou esta semana, com estrondo, ao centro da actividade política. O pontapé de saída foi dado, com a elegância que se lhe conhece, por Arménio Carlos à porta do Conselho Permanente da Concertação. Ali defendeu que aquele organismo, onde a CGTP participa, não vale para nada e o que interessa é o Parlamento. Segundo o líder da CGTP, só os deputados devem ter palavra a dizer sobre aumentos, impostos, reformas ou leis laborais e não há necessidade de acordos de concertação social. Este pronunciamento mostra o estado de espírito deste sector político: alteram-se as regras do jogo conforme as conveniências e aproveitam-se as circunstâncias para subverter o funcionamento anteriormente aceite e até perfilhado. As declarações de Arménio Carlos mostram o guião que o PCP vai seguir: pressionar o PS, fazer depender o seu voto parlamentar do cumprimento de medidas que serão apresentadas por reivindicações populares, desde que, bem entendido, venham da CGTP. É como se fosse Arménio Carlos a comandar Jerónimo de Sousa, confirmando que a CGTP reverteu a relação com o PCP e que foi este partido que passou a ser a correia de transmissão da central sindical e não o contrário, como aconteceu durante anos. A nova narrativa mostra, desta vez, um PCP que está sossegado, sentado no Parlamento, parecendo empenhado em actuar de forma construtiva na nova maioria mas, claro, atento ao clamor popular. Na dúvida, a CGTP já começou a criar amplificadores para o fabrico do seu muito próprio e dedicado clamor popular, convocando greves no sector dos transportes, na CP, STCP e Metro de Lisboa, ao longo deste mês de Dezembro, por acaso com início uma escassa de dezena de dias depois da votação do programa de Governo da nova coligação na Assembleia. O pontapé de saída está dado. Vamos ver como Costa joga em campo minado depois de lá ter semeado flores.

Dixit
A culpa (da demora na indicação de António Costa para primeiro-ministro) é do sistema republicano e semipresidencialista, que torna obrigatória a interferência do Chefe de Estado no exercício democrático e parlamentar dos partidos eleitos.
Miguel Esteves Cardoso

Semanada
• A economia portuguesa continua baseada na procura interna e são o consumo e o investimento que marcam o ritmo do país - revelam números divulgados esta semana pelo INE; os lucros das empresas portuguesas do PSI 20 aumentaram 1,1 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano;  o investimento em produtos associados à inovação caiu nos primeiros três trimestres deste ano face ao período homólogo de 2014; segundo um estudo da OCDE e da UE, os portugueses, sobretudo os mais jovens, estão mais confiantes que a média europeia na capacidade de lançar negócios; o desemprego está estável nos 12,4%; os portugueses compraram mais 39 mil carros em 2015; a receita mensal dos operadores de telecomunicações com pacotes de serviços subiu 18%, segundo a ANACOM; a NOS fechou um negócio que pode chegar aos 400 milhões de euros pelos direitos televisivos do Benfica; os prejuízos das empresas públicas no primeiro semestre de 2015 recuou 30% face ao mesmo período de  2014; os portugueses são quem mais recorre às urgências hospitalares entre os 21 países da OCDE; a nova ministra da Justiça defende correcções ao mapa judiciário implementado pelo anterior Governo; Sampaio da Nóvoa prometeu ser aliado do novo Governo; foram instaladas 2,1 milhões de lâmpadas nas iluminações de Natal em Lisboa; o aeroporto do Porto quadruplicou passageiros numa década; o fabrico de chocalhos no Alentejo foi classificado como Património Imaterial da Humanidade depois de chocalheiros de Alcáçovas terem ido tocar à Namíbia.

Ver
Hoje proponho uma exposição invulgar. É feita a partir de marcas portuguesas e dos seus autores, no caso Carlos Coelho e Paulo Rocha, da Ivity Brand Corp, que antes, há 30 anos, fundaram a Novodesign, e depois, a Brandia. A aventura dos dois data, portanto, de há três décadas e esse foi o pretexto para esta exposição onde Catarina Piteira, uma artista portuguesa que trabalha em Londres, reinterpretou algumas dessas marcas feitas ao longo dos tempos.
De facto, foram Carlos Coelho e Paulo Rocha, ambos também retratados por Carolina Piteira, que nos puseram na memória as imagens que hoje temos de marcas como o Multibanco, a Fidelidade, a Telecel, a Yorn, a RTP, a Leya, a TAP, os cafés Delta, a Sonae, o Licor Beirão ou os papéis Navigator, entre outros. A venda destas obras de Carolina Piteira reverte para a Associação Portugal Genial, fundada por Carlos Coelho e Paulo Rocha, e que vai apoiar projectos que contribuam para uma economia mais criativa e para a divulgação do melhor que Portugal tem para oferecer. A exposição está patente até 20 de Janeiro no Espaço Fidelidade, Largo do Chiado 8.

Gosto
Da escolha de Maria José Morgado para Procuradora-Geral Distrital de Lisboa.

Não gosto
Em Portugal, as mulheres que, para cuidar dos filhos, ficam durante dez anos fora do mercado de trabalho, perdem até um quinto da valor da reforma e são as mais prejudicadas nos 34 países da OCDE.

Folhear
A edição de Dezembro da revista Wallpaper tem esta belíssima capa desenhada pelo Studio Job, uma dupla de designers holandeses, sob o mote House Of Fun, desenvolvido no interior da edição - que tem por tema o entretenimento. Revista de design e arquitectura por excelência, a Wallpaper (que foi fundada por Tyler Brûlé, hoje a dirigir a Monocle), ocupa um lugar único, acompanhando as mais modernas tendências e divulgando novos criadores, quer seja em Amsterdão, no México ou em Miami, como se pode ver nesta edição. Como parte do entretenimento passa pela mesa, a Wallpaper de Dezembro dedica parte da sua edição a utensílios relacionados com o vinho, sugestões de bebidas, restaurantes e até algumas receitas culinárias. Esta é também a edição onde está a selecção dos melhores cinco novos hotéis de 2015 que são a Soho House em Istambul, o Aman em Tóquio, a Blossom Hill Inn em Hangzhou, o Riad Goloboy de Marraquexe e o Miami Beach Edition, em Miami. Há ainda 30 dezenas de sugestões de hotéis a seguir, entre os quais está o Vincci Hotel do Porto e o Principal, de Madrid.

Arco da velha
Cerca de 100 pessoas estão inscritas para uma corrida nocturna a realizar nos túneis do Metropolitano de Lisboa, entre as estações de São Sebastião e o Aeroporto, na madrugada do dia 13, logo a seguir à greve.

Ouvir
Vladimir Horowitz foi um dos mais brilhantes pianistas do século XX. Nascido na Ucrânia, ele fez carreira primeiro na Alemanha e depois, fundamentalmente, a partir dos Estados Unidos. Em Chicago, actuou 37 vezes entre 1928 e 1986. O seu derradeiro concerto na cidade foi precisamente em 1986 - e três anos depois ele morria aos 86 anos. Como homenagem ao seu público de Chicago, Horowitz quis que esse derradeiro concerto na cidade fosse transmitido por uma rádio local, focada na música erudita, a WFMT. O recital foi transmitido em directo , a 26 de Outubro de 86, e emitido apenas mais uma única vez. Desde então, a gravação estava nos arquivos da estação, de onde foi descoberta em Outubro de 2013 pelo produtor Jon M. Samuels, que se entregou à sua edição. A gravação, restaurada e agora editada pela Deutsche Grammophon, num duplo CD, é um tributo à última fase da carreira de Horowitz, que interpreta com a sua forma vibrante, Scarlatti, Mozart, Scriabin, Schumann, Liszt, Chopin e Moszkowski. O segundo CD inclui ainda duas entrevistas com Horowitz, uma feita na véspera do recital e da sua transmissão e outra, realizada anos antes, e conduzida pelo crítico de música clássica do Chicago Tribune. Ambas são documentos excepcionais.

Provar
Nos últimos anos, assistimos ao ressurgir da indústria conserveira portuguesa e algumas marcas praticamente extintas ressurgiram. As conservas Nero fizeram história com marcas como a Georgette, a Naval, a Luças e a Catraio. José Nero decidiu, há alguns anos, regressar à actividade e voltar a comercializar as marcas que fizeram a história da família, não descurando de inovar. É o caso da Georgette, que comercializa petiscos como um delicioso salmão em azeite, temperado com tomilho bela-luz da serra da Arrábida, e a marca Nero que apresenta filetes de anchova em moscatel do Douro. Ambas são um petisco que recomendo. Acompanhadas de bom pão e uma salada simples, fazem uma belíssima entrada. Sugiro que se juntem a um vinho jovem, de qualidade, como o Lybra, da Quinta do Monte d'Oiro, feito a partir da casta Syrah e envelhecido pelo menos 12 meses em barricas de carvalho francês. Vão ver que a combinação resulta bem.

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