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10 de Julho de 2015 às 11:43

A esquina do Rio

Até ao final do Verão, vamos viver rodeados por sondagens. Esta semana conheceram-se várias, que analisaram desde as preferências de votos nas próximas legislativas

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O sucesso e os resultados não se medem pela dimensão que se apregoa, mas pela riqueza das ideias e contributos que se oferecem. 
Robin S. Sharma

Tretas
Até ao final do Verão, vamos viver rodeados por sondagens. Esta semana conheceram-se várias, que analisaram desde as preferências de votos nas próximas legislativas até à opinião dos inquiridos sobre o comportamento da justiça no caso Sócrates e sobre o comportamento do cidadão Sócrates no seu caso com a Justiça - estas últimas com curiosos resultados, que podem fazer os advogados pensar os efeitos das suas estratégias na opinião pública.
Tudo indica, portanto, que este vai ser um bom ano de facturação para as empresas de sondagens. Os próximos estudos de opinião, quando a partir de final do corrente mês ficarem mais desenhadas as candidaturas presidenciais, vão também ser empolgantes. Pelas minhas contas, é provável que à primeira volta se apresentem praticamente uma dezena de candidatos, talvez com ligeira vantagem numérica dos do lado direito sobre os que estão do lado esquerdo do barómetro político. Se isto se confirmar, a primeira volta vai ser uma espécie de primárias simultâneas da esquerda e da direita, para ver quem vai ao combate final. A partir do fim do mês, vão começar as requisições de apoio, o desfilar de notáveis a opinar, e os painéis de comentadores partidários nas televisões vão fazer prodígios de ainda maior equilibrismo e vacuidade de pensamento para conseguirem sobreviver sem ofenderem demasiado nenhum dos candidatos das suas áreas político-partidárias - o que vai ser, sobretudo, saliente no PSD e no PS.
Vai ser engraçado ver como os opinadores de serviço se vão repartir. Os candidatos serão tantos que os comentadores partidários vão ter muitas solicitações nos próximos tempos, divididos entre puxarem a brasa às suas sardinhas nas legislativas e procurarem evitar tomar compromisso antecipado nas presidenciais. A coisa promete - já deve haver alguém a treinar equilibrismo.

Semanada
• Entre 2010 e 2014, ou seja, durante o período da troika, as dívidas à Segurança Social dispararam 60%; a produtividade portuguesa equivale a 64% da média europeia  desde 2011 que os bancos portugueses não concediam tantos empréstimos à aquisição de casa própria  a concessão do crédito à habitação subiu 50% nos primeiros cinco meses de 2015, em relação ao período homólogo do ano passado  em 2014, Portugal tinha a 4.ª maior dívida pública da OCDE, apenas atrás do Japão, Grécia e Itália  as importações à Alemanha foram as que mais aumentaram em 2014, cerca de 12%  o Porto de Sines movimentou mais 25% de mercadorias no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado  desde Janeiro faliram 2.484 empresas e o comércio a retalho é o mais afectado  o intermediário da venda da PT, amigo pessoal do seu novo presidente, que lhe encaminhou o assunto para a Altice, reclama uma comissão de 69 milhões de euros à Oi pela concretização do negócio  com mais de cinco milhões de pessoas de origem portuguesa espalhadas pelo mundo, Portugal apresenta actualmente a taxa de população emigrada mais elevada da União Europeia e é o sexto país em número de emigrantes  no ano passado, emigraram 387 médicos especialistas e um inquérito recente indica que 65% dos médicos que estão a fazer o internato da especialidade consideram a possibilidade de emigrarem  o PS conseguiu travar a proposta de que os registos de interesse dos responsáveis das secretas fossem públicos, para que assim não se saiba se pertencem ou não a associações secretas, como a maçonaria.

Folhear
A arte do editor é procurar formas de reinventar obras antigas e criar para elas focos de atenção. A editora Guerra & Paz, dirigida por Manuel S. Fonseca, tem feito isso ao longo da sua existência, num trabalho cuidado, que concilia a edição de novos autores com edições populares divulgadas com o apoio da SIC, mas também com edições especiais muito trabalhadas. Um dos grandes exemplos deste espírito de paixão pela edição é o belíssimo "Livro de Viagem", que nos traz como viajantes Fernando Pessoa, Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Bernardo Soares. Ousando uma heresia, é como se o espírito do poeta tomasse de assalto um tuk tuk voador e, através dele, fosse percorrendo paragens diversas.
A edição original, cuidadosamente elaborada por Manuel S. Fonseca, é de 2009, e é um exemplo do muito que se pode fazer com pouco, desde que haja imaginação - "Para que precisa de viajar com o corpo quem tão bem viaja com a alma!" Com esta citação resume o editor o seu trabalho no posfácio que encerra este livro dedicado a quem acha que a melhor maneira de viajar é sentir, lema comum da associação secreta de viajantes que agrupa os autores dos relatos publicados. Disponível, além das livrarias, no site da editora - www.guerraepaz.net .

Gosto
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa comprou a antiga Casa de Saúde Militar, na Estrela, para aí instalar unidades de cuidados paliativos e cuidados continuados para os mais carenciados.  

Não gosto
Que os CTT me entreguem avisos ilegíveis de cartas registadas, que ainda por cima não me eram dirigidas e que foram parar à minha caixa de correio -está a piorar a entrega de correspondência postal aos seus destinatários. 

Ver
Todos os anos, por esta altura, a Galeria João Esteves de Oliveira revisita o seu acervo e expõe obras de artistas com quem tem trabalhado ao longo dos anos, desde consagrados a novos talentos. Especializada em trabalhos em papel, a Galeria ganhou um espaço próprio pela escolha cuidada dos trabalhos que apresenta. Sob o título "Regresso Ao Acervo", são mostradas obras de nomes que vão de Álvaro Lapa a Sofia Areal, passando por António Palolo, Cecília Costa, Jorge Martins, Jorge Nesbitt, José Pedro Croft, Júlio Pomar, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes ou Pedro Calapez (na imagem). Incluídas na exposição estão também obras de três dos finalistas do Prémio EDP Novos Artistas deste ano - Vasco Futscher, Manuel Caldeira e Marco Pires. "Regresso Ao Acervo" fica até 11 de Setembro na Rua Ivens 38, frente ao Grémio Literário, e permite ter uma visão de conjunto, rara, do trabalho de uma série de grandes nomes da arte contemporânea portuguesa. Além das duas aguarelas de Calapez, merecem destaque o desenho a carvão de Cecília Costa, um tríptico de José Pedro Croft, os desenhos de Cabrita Reis e Rui Sanches e os trabalhos de Vasco Futscher.

Arco da velha
O Conselho Superior da Magistratura considerou que a proposta do Governo, que visa alterar o regime jurídico do Sistema de Informações da República Portuguesa, viola a Constituição em matéria de inviolabilidade de correspondência, telecomunicações e demais meios de comunicação.

Ouvir
Tenho especial apreço pelos músicos que ensaiam fusões de géneros, pelos que não hesitam em ser hereges e contrariam os princípios estabelecidos. O pianista norueguês Bugge Wesseltoft gosta de descobrir novas texturas sonoras a partir de sonoridades e ambientes e combina jazz tradicional com música de dança electrónica, funk, ritmos latinos ou soul. A combinação pode parecer estranha, mas o resultado é bem conseguido. Sob o título "Bugge & Friends" e a referência "N.º3 Jazzland Norway", este grupo de músicos de várias nacionalidades, liderados por Bugge, vai buscar influências muito diversas, numa sucessão de cruzamentos de inspirações. Para citar Bugge, imaginem, por exemplo, que Miles Davis toca a passear por Cuba ou que Monk está em Ipanema.
No trabalho incluído neste CD, que nasceu da evolução de actuações ao vivo ao longo de dois anos, há também a influência de DJ - e a síntese mais resumida do que se ouve é um cruzamento conseguido de jazz com música de dança, ou club music se preferirem. Como diz o mentor do projecto, "este género de música é exclusivamente sobre o prazer que os artistas e a sua audiência podem ter em conjunto, sobre a partilha de forças com o objectivo de criar boa energia e viver um bom momento". O CD é distribuído em Portugal pela Universal Music.

Dixit
Você passa a vida a falar de reformas, mas nunca vemos propostas concretas.
Afirmou esta semana o deputado europeu belga Guy Verhofstadt, dirigindo-se Alexis Tsipras.

Provar
Nestes bons dias de Verão, uma esplanada com vista e desafogada, se possível abrigada do vento, é sempre uma benção. Se tiver alguma coisa para petiscar enquanto a tarde acaba e a noite começa, ainda melhor. É o caso do Le Chat, uma estrutura basicamente de vidro, mas aberta, com um grande terraço, ao lado da entrada lateral do Museu Nacional de Arte Antiga, com uma vista única do estuário do Tejo, de Alcântara até ao desenhar da baía de Cascais em dias de boa visibilidade. E, claro, também se vê a margem sul - agora extraordinariamente baptizada por South Bay num assomo de americanismo de algum autarca local. O Le Chat é protegido do vento que às vezes dificulta os fins de tarde lisboetas neste mês de Julho, tem um serviço simpático e é garantidamente uma das melhores esplanadas de Lisboa - ainda por cima a construção, colocada num sítio magnífico, é muito bem conseguida e não se sobrepõe à paisagem. Nesta recente incursão, provou-se um pica-pau de lombo de atum fresco com molho cítrico, que estava excelente, mal passado no ponto, e muito bem temperado, acompanhado de chips de batata doce. É este, aliás, também o acompanhamento do hambúrguer da casa, boa carne, sem ser compactada em demasia e também bem temperada. Bebeu-se uma imperial bem tirada e um Assobio tinto, do Douro, servido a copo. Belo fim de tarde.
Le Chat, no Jardim 9 de Abril, à Rua das Janelas Verdes, tel. 213 963 668. A revista do New York Times considerou-o como um dos locais a não perder numa visita a Lisboa, por mais rápida que seja. E acertou em cheio.

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