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Manuel Falcão - Jornalista 19 de Dezembro de 2014 às 09:36

A esquina do Rio

Costa foi visitar Sócrates a Évora, mas estou a falar de Pinto da Costa; um amigo meu, a ver a cena na TV, saiu-se com esta: "les beaux esprits se rencontrent"

 

Back to basics

Há uma grande diferença entre saber governar e ocupar um lugar no Governo. H.L. Mencken 

 

 

Semanada

• Costa foi visitar Sócrates a Évora, mas estou a falar de Pinto da Costa; um amigo meu, a ver a cena na TV, saiu-se com esta: "les beaux esprits se rencontrent" • os EUA declararam o fim do embargo a Cuba • no mesmo dia, o rublo teve uma queda histórica • o Papa Francisco disse que a resolução das relações entre Cuba e os EUA era o melhor presente que podia ter no seu aniversário • Putin começou o ano a ameaçar e parece ir fechá-lo a meditar; num cenário próximo da deflação, a Entidade Reguladora do Sector Energético efectuou, para 2015, um aumento de 3,3% nos custos da electricidade para uso doméstico • um terço do novo crédito ao consumo destinou-se à compra de automóveis • o fundo de resgate municipal já recebeu pedidos de 14 câmaras • o ministro Poiares Maduro escreveu, num artigo de opinião, que o Conselho Geral Independente da RTP "contribui para um serviço mais dinâmico e inovador" • Marques Mendes disse, na SIC, que o CGI "está morto e enterrado" • Nuno Morais Sarmento afirmou que o modelo proposto por Maduro para a RTP "não faz sentido" • Alberto da Ponte, presidente da RTP, pediu "bom senso" ao Governo • Passos Coelho disse, no Conselho Nacional do PSD, que não precisa do CDS para ganhar eleições • escolas de diversos pontos do país abrem as suas cantinas nas férias escolares para prestarem ajuda alimentar a famílias carenciadas • 30% dos portugueses nunca utilizaram a Internet • um estudo do Ministério da Economia indica que quase 90% das reivindicações dos trabalhadores em greve são rejeitadas • o Instituto de Medicina Legal tem 57 mortos que não foram reclamados • Ricardo Salgado foi eleito o pior CEO de 2014 pela BBC • os sócios brasileiros da PT, acordados entre Lula-Dilma e Sócrates, são frescos: a Andrade Gutierrez, accionista da Oi, está a ser investigada no âmbito de um caso de corrupção de grandes dimensões no Brasil.

 

 

Quarentões

Olhando para trás, para o início de 2013, o que me apetece dizer é que este foi um ano perdido. O Governo deixou muito por fazer e, nos últimos meses, as indecisões, os atrasos e a falta de capacidade de concretização tornaram-se regra. É como se a ideologia reinante fosse a procrastinação - não faças hoje o que não te apetece que aconteça amanhã. Isto aplica-se desde a gestão dos fundos comunitários a acordos de coligação para as próximas eleições, passando pela RTP ou até pelo novo Banco de Fomento.
Este é, sobretudo, o ano daquilo que não aconteceu - mesmo que alguns episódios laterais, como o caso da corrupção nos vistos gold, a queda do BES e de Ricardo Salgado e a detenção de José Sócrates possam parecer indícios de mudança. Lamento muito ter opinião contrária - tudo isto foram distracções, areia lançada para a ventoinha de forma a tornar a visão menos clara e fazer esquecer a falta de mudanças de fundo. Nada do que se passou faz mudar o regime, embora até possa ser justo que algumas coisas tenham acontecido. Os corporativismos continuam, tanto na TAP como noutras greves de transportes, o preconceito ideológico voltou a ser dominante sobre o raciocínio e nada disto encerra boas notícias.
Este é o ano em que se completam quatro décadas sobre a mudança de regime, em 1974. Seria curioso estudar quanto dessas décadas foi tempo perdido, agora que temos quase tanto tempo de democracia como de ditadura. Hoje, finalmente, começamos a ter uma ideia de que, em termos de país, a nossa mudança foi fraca, pouco produtiva e que gerou muita corrupção e um sistema político-partidário mais do que suspeito. Não é um bom retrato de quem entra nos quarentas.

 

 

Dixit

"Quem é que em Portugal não confiava no Dr. Ricardo Salgado?"
José Manuel Espírito Santo

 

 

Folhear

Ainda há espaço para criar novas publicações em papel? Depois de ter reinventado o conceito de publicação mensal, a Monocle avança agora para o conceito de anuário - o novíssimo Forecast, assinado by Monocle, pretende ser lido ao longo dos próximos meses para que o possamos recordar ao longo de 2015. Dantes, chamava-se a isto um almanaque - temos entre nós o belo exemplo do Borda d'Água, muito mais modesto na abrangência e no número de páginas, mas tivemos, durante anos, o Anuário editado pela empresa que hoje detém, por exemplo, o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias. Os anuários - a Bertrand edita hoje o melhor anuário português - são peças centrais de leitura porque são feitos para perdurar. A revista mensal Monocle ganhou relevância pela forma inovadora com que passou a tratar de alguns assuntos, como descobriu temáticas inesperadas e como fomentou diálogos e debates pouco ensaiados. O número inaugural de Forecast foi publicado por estes dias e tem como tema principal descobrir quais os pontos que devem ser o centro das nossas atenções em 2015. Não se trata apenas de tendências, como acontece na edição da Wired que aqui referi na semana passada. É mais do que isso. Por exemplo, como deve ser a televisão quando fala de política - que leitura tão interessante para o serviço público da RTP, este artigo, quase provocatório no nosso contexto, que relata experiências de outros países, a começar pela vizinha Espanha. Do design à comida, passando pela ficção, com incursões na fotografia, na moda, nos comportamentos, o lema da Forecast é "A View Beyond The Horizon": que slogan perfeito.

 

 

Gosto

De saber que Horta Osório foi designado Chairman da Wallace Collection, uma das mais importantes instituições culturais britânicas. 

 

 

Não gosto

Da sucessão de greves no sector dos transportes, dos interesses corporativos que recusam a mudança e prejudicam tantas pessoas. 

 

 

Ouvir

Uma das incontornáveis edições musicais deste ano é a nova colectânea, de seis discos, "The Basement Tapes", resultado de um período, na Primavera e Verão de 1967, durante o qual um Bob Dylan convalescente de um acidente de moto, em conjunto com The Band, compôs e gravou cerca de 100 canções. O mais extraordinário é que, além destes temas, que eram mais ou menos conhecidos, houvesse mais umas dezenas de letras escritas por Dylan, não musicadas, mas feitas nessa época, e absolutamente desconhecidas durante todos estes anos. Esta foi a matéria-prima de uma outra colectânea, recente, que é outra das grandes edições de 2014, "Lost On The River". T. Bone Burnett, um dos mais importantes e históricos produtores discográficos norte-americanos, encarregou-se de providenciar a junção de talentos que musicou e interpretou alguns desses temas, que deu melodia às letras de Dylan, com a ajuda de nomes como Elvis Costello, Marcus Mumford, Jim James (My Morning Jacket), Rhiannon Giddens (Carolina Chocolate Drops) e Taylor Goldsmith (Dawes). Esses meses de 1967 foram uma época particularmente fértil para Bob Dylan, e mesmo as canções deixadas por acabar, e que aqui se revelam, mostram a enorme criatividade do seu autor naquela época. Os convidados desempenham com esmero o que deles se esperava - que não fossem traidores à ideia original. Pela surpresa e talentos envolvidos, esta é a minha colectânea do ano - "Lost on the River: The New Basement Tapes" (editado pela Harvest/Electromagnetic, comprado na Amazon).

 

 

Arco da velha

O Arcebispo de Braga recusou a investigação, no Tribunal Eclesiástico da sua Arquidiocese, de acusações de pedofilia que recaem sobre um padre de Fafe, preferindo que a investigação seja desenvolvida pela congregação dos Dehonianos, a que o padre pertencia. 

 

 

Ver

Cada vez que me sinto inquieto e não sei onde hei-de descobrir coisas para ver, tenho a tendência de visitar o "site" da Saatchi Gallery. O local físico, próximo de Sloane Square, em Londres, onde antes foi um antigo quartel militar, tornou-se um incontornável radar de arte contemporânea. Com base no acervo da colecção Saatchi, e mantendo o mesmo espírito de abertura e descoberta que marcaram aquela colecção, a Gallery, que na verdade nos poucos anos de vida já ganhou direito a ser considerada uma instituição, é um dos motivos pelos quais lamento não ir mais frequentemente a Londres. Presentemente, apresenta duas exposições colectivas que, cada uma à sua maneira, se revelam novas fontes de descoberta. A primeira, "Pangea - New Art From Africa and Latin America" é um catálogo vivo daquilo que mais interessante se produz agora na arte contemporânea daquelas regiões. Ainda mais interessante é a colectiva "Post Pop: East meets West" (na imagem), onde algumas dezenas de obras artistas, de Keith Haring a Ai Weiwei, passando por Jenny Holzer, são postas em confronto. Felizmente, o "site" www.saatchigallery.com permite, mesmo à distância, explorar e descobrir grande parte do que por lá se passa.

 

 

Provar

Confesso ter uma especial tentação por figos secos nesta altura do ano. Um dia destes, fui surpreendido por uns figos secos invulgares: à primeira dentada, revelaram amêndoas no seu interior em vez da polpa natural. São figos especialíssimos - diria que quase vigaristas: mete-se-lhes o dente e, em vez do sabor esperado, fui assaltado pelo paladar da boa amêndoa algarvia. Uma curta investigação detectou a origem: www.portugalclick.com, uma loja online inspirada na qualidade, proximidade e serviço das antigas mercearias de bairro. Se quiser os figos com um acompanhamento adequado, a mesma loja online tem "A Velhinha dos Vermelhos", nome de origens desconhecidas e certamente provocatório, que alberga um medronho artesanal suave e que é capaz, com vantagem, de bater o pé a uma qualquer grappa importada. Estes figos cheios, assim se chamam, são uma especialidade algarvia. A www.portugalclick.com tem ainda produtos de outras regiões, vinhos das melhores proveniências, como Flor do Tua, a Quinta da Cinchorra Reserva 2010 ou o superior Quinta do Crasto reserva 2012, além de produtos pré-cozinhados, como perdizes estufadas e de escabeche. Experimente viajar no "site" e veja esta montra de produtos portugueses que farão a delícia de muita gente no Natal: entregas à medida do freguês e em 24 horas.

 

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