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Manuel Falcão - Jornalista 12 de Dezembro de 2014 às 09:53

A esquina do Rio

Banqueiros e administradores do BES e do GES encontram-se entre os principais doadores da campanha de Cavaco Silva em 2011. Ricardo Salgado disse, na Comissão Parlamentar, que "o BES não faliu, foi forçado a desaparecer"

 

Back to basics

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
Ditado popular

 

 

Semanada

• Banqueiros e administradores do BES e do GES encontram-se entre os principais doadores da campanha de Cavaco Silva em 2011 • Ricardo Salgado disse, na Comissão Parlamentar, que "o BES não faliu, foi forçado a desaparecer" • desde que foi preso, José Sócrates já escreveu quatro cartas a órgãos de informação • António Costa admitiu erros no governo de Sócrates e anunciou que o irá visitar à prisão de Évora mais perto do Natal • uma das primeiras propostas de António Costa, depois de ser confirmado à frente do PS, foi a de repor os feriados que foram suspensos • segundo a Marktest, em Novembro de 2014, António Costa foi líder em termos de duração total das notícias nos canais generalistas de televisão - esteve em 92 notícias com um total de 4 horas e 20 minutos de duração • apenas 7% do volume de negócios da área da construção civil é proveniente da reabilitação de edifícios • o Serviço Nacional de Saúde perdeu 3 mil enfermeiros em dois anos • Portugal tem a taxa de mortalidade por pneumonia mais elevada no conjunto dos países da União Europeia • no "ranking" das melhores unidades de saúde, os hospitais de Lisboa ficaram pior classificados do que os do Porto e do Alentejo • mais de 60% dos doentes internados chegam aos hospitais pelas urgências • 1.560 médicos recém-formados estão a aguardar indicação sobre onde vão fazer o internato a partir de 2 de Janeiro • as fraudes no Serviço Nacional de Saúde ascendem, no ano de 2014, a 118 milhões de euros • nas prisões portuguesas, há 51 reclusos por crimes de corrupção • na bolsa portuguesa, das 47 cotadas há 22, quase metade, a valer menos de um euro • na Europa, foram criados 100 mil empregos relacionados com marcas de luxo • as empresas e lojas instaladas na Avenida da Liberdade representam um volume de negócios anual de quase 14 mil milhões de euros • na Avenida, há somente 11 fogos ocupados com habitação.

 

 

Alerta

Silva Peneda, o Presidente do Conselho Económico e Social, que se tem revelado autor de algumas das mais certeiras opiniões sobre o que se passa na sociedade portuguesa, disse esta semana que "é preciso perceber que não foi o mercado que falhou, o que falhou foi o sistema político, que não foi capaz de prever, fiscalizar e disciplinar o funcionamento dos sistemas financeiros". Reivindicou que "as políticas públicas deverão penalizar a especulação" e defendeu que "os apoios financeiros têm de estar, prioritariamente, ao serviço de quem cria emprego e riqueza".
Sublinhou que "a suposta autoregulação dos mercados é uma teoria sem qualquer adesão à realidade" e, por isso, defendeu que "a intervenção dos poderes públicos seja decisiva". Mas, talvez, o momento mais importante tenha sido quando sublinhou que não basta querer reformar o Estado, é fundamental reformar e rever o modelo de governação, que deverá ter como bases a visão a longo prazo, o diálogo estruturado e a concertação, em vez da visão a curto prazo, que predomina e incentiva a disputa partidária. E não resisto a citar mais este excerto: "É costume dizer que o maior problema é o desemprego. E é verdade. É preciso ter a consciência de que, a manterem-se os valores elevados de desemprego - e o fenómeno de pobreza que lhe está associado e a debilidade do investimento -, o que está verdadeiramente em causa é a perda da confiança no futuro. O que inquieta é saber que os cidadãos vítimas do desemprego correm o sério risco de, com o tempo, perderem a confiança em si próprios e nos que os rodeiam. O que assusta é sabermos que, quando se perde a confiança em nós próprios, já não há mais nada a perder."

 

 

Dixit

"Ricardo Salgado não lida maravilhosamente com a verdade".

Pedro Queiroz Pereira

 

 

Folhear

2015 vai ser o ano do robot? Essa é uma das apostas da edição especial da revista Wired, dedicada à antevisão do próximo ano, sob o título genérico de "What's Next". Editado pela Wired britânica, este anuário explora o que pode acontecer em campos tão diversos como os negócios, a tecnologia, a medicina, a política e actuação dos governos, a evolução dos media, ambiente e "lifestyle". Nas 104 páginas da publicação, cabem ainda artigos de James Dyson sobre os novos robots, de Saul Klein sobre o crescimento económico das indústrias criativas, e de Carlo Ratti sobre os automóveis sem condutor e as cidades do futuro - isto para além de 101 ideias que vão mudar o mundo e um catálogo de gadgets, de bicicletas e sistemas de som. Boa leitura para nos situarmos no planeta. Mas, talvez o mais fascinante artigo, seja o de David Hambling sobre o grande salto que pode ser proporcionado pelos novos processadores que permitem o desenvolvimento da computação neuromórfica - processadores que não só são mais eficazes como, de alguma forma, podem tornar os aparelhos que usamos no dia a dia mais humanos - porque a forma de concretizar o processamento dos dados assemelha-se à forma como o cérebro compreende e age em função de imagens ou de sons, por exemplo.

 

 

Gosto

Da ideia de viagens "low cost" para os Açores.

 

 

Não gosto

Da ideia de que o Serviço Público de Televisão deve ser concorrencial em relação aos privados.

 

 

Ver

Semana rica em possibilidades. Começo por destacar, no MUDE (Museu do Design e da Moda), a exposição dedicada à obra de António Lagarto enquanto figurinista. Sob o título "De Matrix à Bela Adormecida", inclui cerca de 200 figurinos feitos nas últimas três décadas para o ballet Gulbenkian, para os teatros nacionais de São João e D. Maria II, e ainda para o São Carlos e para a Companhia Nacional de Bailado. Finalmente, é possível ter uma visão de conjunto da obra de um dos grandes cenógrafos e figurinistas portugueses contemporâneos. Até 29 de Março, de terça a domingo, entre as 10 e as 18h00. Como disse um dia António Lagarto: "fazer figurinos é contar uma história que é paralela à história do espectáculo". Vale a pena destacar também a exposição "Almada Negreiros - O Que Nunca Ninguém Soube Que Houve" que, na Sala Cinzeiro 8 do Museu da Electricidade, apresenta desenhos, pinturas e livros de artista de Almada Negreiros - até 29 de Março (na imagem). Outra exposição a não perder é "Toda a Memória do Mundo, Parte Um", de Daniel Blaufuks, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado. Esta exposição de fotografias e vídeo de Blaufuks nasceu em torno das obras de dois escritores, Georges Perec e W.G. Sebald, e pode ser vista até 22 de Março. Na Garagem Sul do CCB, está a exposição "Homeland - News From Portugal", organizada e produzida pela trienal de Arquitectura para a 14ª Mostra Internacional de Arquitectura da Bienal de Veneza. Finalmente, vale a pena referir a exposição de Miguel Telles da Gama, "Azul Profundo", na Casa Museu Medeiros e Almeida, até 31 de Janeiro.

 

 

Arco da velha

O índice da economia paralela aumentou em 2013 e atinge um recorde de 26,81% do PIB - as principais causas deste aumento são "o peso dos impostos directos e indirectos e das contribuições para a segurança social, e a taxa de desemprego". 

 

 

Ouvir

O tempo tem destas coisas: levar-nos a esquecer onde tudo nasceu. Uma das maiores discográficas do mundo foi a EMI, de Londres, com instalações em Abbey Road, empresa que assim se chamava porque queria dizer Electric And Musical Industries, designação de que poucos se lembrarão nas Bolsas onde está cotada. Se podemos encontrar um paralelo português para este caso, a escolha cai na Valentim de Carvalho, dedicada à electrónica e à música a partir de uma loja no coração de Lisboa, na Rua Nova do Almada, desde o início do século passado. Em 1951, na histórica loja do Chiado, consumida pelo incêndio de Agosto de 1988, Amália Rodrigues gravou pela primeira vez para disco. Tinha, na altura, 31 anos e já uma carreira assinalável no teatro e no cinema. Pela mão de Rui Valentim de Carvalho e Hugo Ribeiro, o técnico de som com quem ela sempre quis trabalhar, gravaram-se numerosas bobines de fita magnética, que a empresa sempre salvaguardou. Muitos desses registos nunca viram a luz do dia: alguns fragmentos foram usados ao longo dos anos, mas nunca se teve a noção da essência do tempo. Até agora. O duplo CD "Amália no Chiado" é um trabalho exemplar de recuperação de memória. Permite-nos ouvir Amália em 46 fados e canções, com uma voz fresquíssima, à vontade, a cantar aquilo de que gostava, da "Perdição" à "Libertação" - os inéditos do Chiado. No segundo disco, gravações antigas, algumas já editadas, mas dispersas, ou de "la Vie en Rose" até à "Falsa Baiana". "Amália no Chiado", uma belíssima edição coordenada por Frederico Santiago, tem ainda vantagem de incluir um texto original sobre a carreira de Amália, escrito por Vítor Pavão dos Santos, o seu mais notável estudioso, um texto cheio de histórias de época e de memórias. Poucas edições discográficas em Portugal têm esta qualidade. É verdadeiramente um álbum exemplar que nos ajuda a entender a vida de Amália e a ouvir o seu génio. (Duplo CD, Valentim de Carvalho).

 

 

Provar

Um bom disco, um bom restaurante, um bom livro ou um bom vinho têm uma coisa em comum: são um trabalho de amor, talento e perseverança. Já aqui tenho louvado a obra de José Bento dos Santos na sua Quinta do Monte D'Oiro, onde introduziu castas poucos frequentes em Portugal, desde que adquiriu a propriedade em 1986. Também ganhou fama de fazer vinhos invulgares, como estes três de que hoje vos falo. Enquanto o sol dura neste Outono, começo por um branco, o Madrigal 2012, um monocasta viognier elaborado pela enóloga Graça Gonçalves, com o apoio de Grégory Viennois, a equipa que elabora os vinhos da Quinta. A casta viognier, oriunda das encostas do Rhône, que começa a aparecer com maior frequência em Portugal, permite vinhos brancos de uma grande elegância e paladar, frescos e levemente florados, de que este Madrigal é um bom exemplo; depois sugiro a prova do Têmpera 2011, um vinho feito com a portuguesa Tinta Roriz  - um tinto com toques de frutos silvestres, muito adequado para pratos tradicionais de cozinha portuguesa; e, finalmente, a estrela da casa, o Syrah 24 de 2011, proveniente da parcela 24 da vinha, com apenas dois hectares e plantada em 2004 - é um vinho reserva que estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês, muito envolvente e suave, com notas de frutos pretos, chocolate e especiarias. São três vinhos sedutores e inesperados, à venda nas boas garrafeiras.

 

 

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