Opinião
A esquina do Rio
Sobre a actualidade política, digo apenas isto: a disputa pela liderança do PS é um bom "case-study" do que afasta as pessoas da política
Back to basics
Os políticos são todos semelhantes em qualquer país: prometem fazer pontes onde nem sequer existe um rio. Nikita Khrushchev
Semanada
• Na noite de São João, no Porto, registaram-se três esfaqueamentos e quatro agressões a polícias • Na reunião da Comissão Nacional do PS, em Ermesinde, registaram-se altercações, insultos e desacatos entre apoiantes de Costa e de Seguro • Cada rapaz internado em 2013 em centros educativos - as "prisões" para jovens entre os 12 e 16 anos - cometeu, em média, nove crimes, enquanto as raparigas nas mesmas circunstâncias praticaram sete • A cobrança de mais impostos foi a responsável por 60% da redução do défice • Quase metade do aumento de 477 milhões de euros da receita fiscal foi para pagar juros da dívida • O número de devedores fiscais aumentou 22% • Os processos parados nos centros de arbitragem subiram 21% em três anos • Há mais de 265 escolas do 1º ciclo em risco de encerrar por falta de alunos • Os chineses foram a comunidade estrangeira que mais cresceu em Portugal em 2013, com um aumento de 6,8%, para um total de 18 637 imigrantes • Portugal tem a segunda taxa mais alta da União Europeia em contratos a prazo involuntários • Estudos da Marktest indicam que 85% dos portugueses têm contacto regular com jornais e revistas e que, ao longo do mês de Maio, 5,5 milhões de portugueses navegaram na internet a partir de computadores pessoais. E cada utilizador esteve ligado uma média mensal de 23 horas e 19 minutos • Num almoço público, em Lisboa, Rui Rio remeteu para o Destino a hipótese de ser primeiro-ministro • Tony de Matos cantava, em 1970 a canção "O Destino Marca a Hora", no filme do mesmo nome.
Tristeza
Sobre a actualidade política, digo apenas isto: a disputa pela liderança do PS é um bom "case-study" do que afasta as pessoas da política: barões e figurões que incentivam revisões apressadas dos estatutos, velhos do Restelo que se juntam para esquecer o presente e fazer do futuro um regresso ao passado, uma actividade de permanente agressão nas redes sociais - tudo isto mostra o pior do sistema partidário que temos. Como escreveu no "Observador" Manuel Villaverde Cabral, "o caldo está a entornar-se".
Ver
António Pinto Ribeiro é o criador e programador do "Próximo Futuro", uma iniciativa tão inovadora e disruptiva que nem parece saída das teias de aranha, tradicionais ou contemporâneas, que infelizmente se tornaram a imagem de marca da acomodada Gulbenkian. Ao longo dos últimos anos, o "Próximo Futuro" tem vindo a construir o cruzamento de ideias e de práticas artísticas entre Portugal e a Europa, África, América Latina e Caraíbas. Por estes dias, iniciou-se o ciclo de Verão, que vai até Setembro, particularmente focado na América Latina. Além das exposições, há debates e, sobretudo, um jornal que sazonalmente dá conta do Programa e recolhe ideias, mostra imagens e incentiva, de facto, à leitura. Na Galeria de Exposições temporárias, de terça a domingo, infelizmente sempre apenas das 10 às 18, está a exposição que reúne obras de 21 artistas de diversos países e continentes. Há, no jardim da Fundação, uma peça de arquitectura criada de propósito para a ocasião, apresentada como um tótem desenvolvido por Tiago Rebelo de Andrade e Diogo Ramalho, da Subvert, "que permite às pessoas experienciarem o seu interior". De 20 a 22 de Julho decorreu a Festa da Literatura e do Pensamento da América Latina, que pretendeu debater se existe, ou não, uma identidade latino-americana. Ao mesmo tempo, houve já música e cinema, que em Setembro se repetem, ao lado de teatro e de dança. Sigam o programa em www.proximofuturo.gulbenkian.pt
Provar
Numa boa e cúmplice surpresa, descobri, a meia centena de quilómetros de Lisboa, um segredo bem escondido chamado Areias do Seixo, um hotel com uma dúzia de quartos, num local único, em cima do oceano, entre a Lourinhã e Santa Cruz, no meio das dunas, sobre uma falésia que desce para o mar. Além do bem conseguido projecto de arquitectura, de exterior e interiores, há um cuidado com os pormenores na utilização de materiais naturais e da região e na utilização de materiais reciclados no mobiliário. O sítio combina, em doses invulgarmente certas, o rústico com o conforto e o contemporâneo. O hotel tem uma pequena área de horta e outra de estufa, onde se cultivam produtos que são servidos no restaurante - legumes, fruta, ervas a infusões e, também, noutro plano, ovos frescos. O "buffet" do pequeno-almoço é exemplar no aproveitamento dos recursos naturais e da região, sem coisas desnecessárias e com muita atenção a proporcionar um bom começo de dia. O peixe é fresquíssimo e é, porventura, o maior trunfo da cozinha, privilegiando os temperos naturais e os processos culinários simples. A carne é bem cozinhada, no ponto, sem margem para dúvidas. No bar, além dos biscoitos e dos chás do lanche, há petiscos, que se repetem na carta de entradas. Pessoalmente, abomino menus de degustação impostos, que é o ponto fraco da proposta do jantar, onde os itens, infelizmente, não se podem separar. Mas, tirando isso, a lista tem alternativas e a coisa corre muito bem, embora fosse desnecessário o encanto pela espuma servida numa sobremesa que não era mais que um chantilly disfarçado - síndrome de chef com complexo molecular, digo eu. O serviço é geralmente atento, eficaz e discreto, embora por vezes renitente a críticas na zona da restauração. Há bons vinhos da região, os inevitáveis gins da moda, mas abertura suficiente para servir um gin tónico à antiga, à moda do império britânico. Na mercearia, além das infusões, há peças artesanais, compotas, vinhos e azeites. O balanço geral é francamente positivo, pelo conforto, pela atenção, pelo descanso que é possível ter entre as areias do seixo. Reservas para 261 936 350 ou info@areiasdoseixo.com.
Folhear
Ivan Carvalho é um luso-descendente nascido nos Estados Unidos, correspondente da Monocle, sediado em Milão, e que nos últimos tempos tem sido o autor de uma série de artigos que a revista tem publicado sobre Portugal. A edição especial de Julho/Agosto da Monocle, agora distribuída, vem cheia de referências ao nosso país, a começar por um belo portfolio fotográfico de Cascais (com chamada de capa), acompanhado por um texto de Ivan Carvalho que percorre a influência do mar, mas também da gastronomia e das actividades culturais, seja na Casa das Histórias Paula Rego ou as galerias e ateliers de artistas na Pousada da Cidadela. Pelo meio, ficam os gelados Santini, relatos de estrangeiros que escolheram Cascais para viver e, sempre, a atracção do oceano. Mas a Monocle foi também ao Porto (com um guia de compras no Mercado do Bolhão), fala do surf na Ericeira, enaltece em Lisboa a recuperação do rio que a cidade começou a fazer há uns anos atrás, antes de Costa, elogia os desenhos dos passeios tradicionais que o actual Executivo camarário pretende extinguir, chama a atenção para as debilidades na reabilitação, mostra o Bar Oslo, no Cais do Sodré, sugere os quiosques recuperados onde se bebem refrescos e se petisca. Na habitual lista das melhores 25 cidades para viver que a Monocle publica nesta altura do ano, Lisboa volta a entrar na 22ª posição, após uma ausência de dois anos, atrás de Barcelona e à frente de Oslo. A melhor cidade, diz a Monocle, é Copenhaga. Destaco ainda os dez ensaios que são o prato de substância desta edição, muito focada na boa utilização das cidades. Finalmente, há artigos sobre bons exemplos de imprensa local e sobre a recuperação de velhas salas de cinema como espaço de convívio de cinéfilos.
Gosto
Da decisão de criar, a curto prazo, uma Film Commission que permita captar mais produções audiovisuais internacionais para Portugal.
Não gosto
Do sacudir água do capote dos responsáveis da Federação Portuguesa de Futebol a propósito do Mundial.
Arco da Velha
Os comboios do Metro de Lisboa estão, desde 2010, sem um dos sistemas de extinção de incêndios e os travões de emergência estão desactivados em toda a frota há dois anos - a Procuradoria-Geral da República admitiu estar a investigar falhas de segurança naquele meio de transporte.
Ouvir
Tiago Bettencourt começou a sua carreira em 2003 com os Toranja e logo se fez notado. Em 2007, acompanhado pelos Mantha, fez "O Jardim", que incluía o tema "Canção Simples". Meia dúzia de anos e de discos depois, surge "Do Princípio", talvez o seu álbum mais maduro. Como sempre, as canções são integralmente da sua autoria, a banda que o acompanha integra agora João Lencastre na bateria, Tiago Maia no baixo (muito bom) e Daniel Lima nos teclados. Há colaborações de Fred Ferreira, Jaques Morelenbaum e Mário Laginha, entre outros, e a produção executiva é de João Pedro Ruela. Gosto muito da maneira como Tiago Bettencourt escreve, embora por vezes o ache entre o previsível e o inconstante na interpretação. Mas, neste disco, há temas incontornáveis, como "Maria", "Fúria e Paz", um quase hino chamado "Ameaça", o belíssimo "Sol de Março" ou um momento que evoca Jorge Palma e que é perfeitamente contemporâneo mesmo que Tiago Bettencourt, nas entrevistas, lhe queira tirar a carga política de crítica da actualidade: "Aquilo Que Eu Não Fiz", o grande tema deste disco, que certamente ficará entre as grandes canções portuguesas deste ano: "Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz (...) Não fui eu que gastei mais do que era para mim/ não fui eu que tirei, não fui eu que comi, não fui eu que comprei, não fui eu que escondi quando não estavam a olhar, não fui eu que fugi". (CD Universal)
Dixit
"Sócrates não antecipou a gravidade da crise financeira nem travou as PPP".
João Proença, Membro do secretariado do PS e ex-dirigente da UGT.