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24 de Janeiro de 2014 às 10:22

A esquina do Rio

No espaço de uma semana, Pedro Passos Coelho conseguiu que acontecessem duas coisas inesperadas

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Back to basics

Os políticos deviam ler ficção científica em vez de 'coboiadas', histórias de aventuras e romances policiais.
Arthur C. Clarke

 

 


Dramaturgia

No espaço de uma semana, Pedro Passos Coelho conseguiu que acontecessem duas coisas inesperadas: primeiro, com a inabilidade com que tratou da proposta senil de um referendo sobre a co-adopção, levou a que uma sua fiel apoiante, Teresa Leal Coelho, se visse obrigada a demarcar-se da forma como os deputados foram obrigados a disciplina de voto - a deputada manteve a coerência, demitiu-se de vice-presidente da bancada social-democrata e o PSD mostrou o seu lado mais oportunista; e, em segundo lugar, com as considerações que o líder do PSD fez sobre as características que, no seu entender, deve ter um candidato presidencial, deu a Marcelo Rebelo de Sousa a oportunidade de encenar o seu momento irrevogável, abriu campo para que ele fique a controlar o tabuleiro do xadrez político e precipitou um debate interno sobre os candidatos presidenciais quando ainda nem os europeus se conhecem. A dúvida está em saber se tudo isto são sinais de desorientação ou apenas o regresso da arrogância do poder. Sob o signo do unanimismo, da obediência cega e de guiões preparados com definições de personagens muito fechadas, o próximo congresso do PSD promete ter o contexto dramático de uma farsa. Quando os políticos preferem fazer teatro a discutir ideias, abrem o caminho para o desinteresse dos que não precisam dos partidos para viverem. Ficam com a plateia cheia dos que são pagos para bater palmas.

 


Dixit

Teremos uma campanha populista como poucas vezes se viu em Portugal.
Francisco Louçã na SIC Notícias, sobre as próximas eleições europeias.

 

 


Semanada
• O Tribunal Constitucional aceitou que nos Açores, em nome da insularidade, os funcionários públicos recebam subsídios do Governo Regional que compensam os cortes orçamentais  depois de Lisboa, a Câmara Municipal de Sintra decidiu manter o horário de 35 horas semanais para todos os funcionários municipais  as exportações portuguesas para Espanha subiram 9,8% nos primeiros 11 meses de 2013  a dívida pública espanhola caiu para 93,12% do PIB  segundo as previsões do Eurostat, a dívida pública portuguesa rondará os 128% do PIB o número de desempregados no final de Dezembro era de 690.535, menos 2,8% que no final de 2012  o número de licenciados no desemprego é de 93 mil, mais 5,3% que há um ano; os hipermercados extinguiram, em dois anos, mais de seis mil empregos  o investimento de portugueses em produtos de poupança do Estado ficou 813 milhões de euros acima do previsto  a Inspecção-Geral da Administração Interna acusou a escola de oficiais da PSP de más práticas de gestão  os colégios do grupo GPS, suspeitos de uso ilegal de dinheiro do Estado, estavam ligados a responsáveis da área da educação de governos PS e PSD e receberam financiamentos públicos no valor de 81 milhões de euros em 2012 e 2013  o ex-bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho e Pinto, é candidato às eleições europeias pelo Partido da Terra, que no anterior acto eleitoral obteve 0,66% dos votos.

 


Arco da velha

A Casa Fernando Pessoa e a EGEAC, a empresa municipal que a gere, adjudicaram vários serviços por ajuste directo, desde o final de 2012, a uma empresa que está sedeada em casa da sua directora, a escritora Inês Pedrosa.

 


Ver

A partir desta semana e até 15 de Março, a Galeria Baginski (Rua Capitão Leitão 51-53, ao Beato) acolhe duas exposições bem diversas. De um lado está Cecília Costa, na sua quarta mostra individual na Galeria, desta vez constituída exclusivamente por fotografia, e que ilustra esta nota. São imagens trabalhadas em torno da luz, a luz que marca o instante em que foram feitas. São olhares íntimos sobre momentos apenas aparentemente banais, sempre a deixar alguma coisa subentendida para além da imagem evidente - como aliás acontece também nos seus desenhos. Do outro lado da Baginski está "A Viagem da Sala 53", um projecto com curadoria de João Silvério onde se destaca a peça de Ana Vidigal, mais uma vez construída de frases banais mas certeiras e intencionais, elas próprias fragmentos de memórias, colocadas sobre documentações que evocam tempos reais e já passados, numa dimensão impositiva, tanto quanto permite a rotina de folhas seguidas de um livro de registos tiradas do seu contexto e forma.

 

 


Provar

Localizado no Cais do Sodré, onde durante anos funcionou o Bar do Rio, o novo Station combina um restaurante no piso térreo com um bar de música no primeiro andar - um palco para DJ, ou não fosse Tó Ricciardi um dos promotores desta casa. O restaurante, dirigido pela chef Leonor Manita, baseia-se em sabores asiáticos, principalmente o tailandês e o vietnamita. Comecemos pela sala - confortável e espaçosa, o serviço é simpático e as empregadas de mesa usam uns originais aventais da G-Star Raw. A lista de vinhos é comedida na variedade e honesta nos preços. Provou-se, de entrada, uma sopa tailandesa com camarão, citronela e coentros, que excedeu as expectativas, e umas espetadas de camarão grelhado com molho teriaki, que estavam um pouco secas. Nos pratos principais, muito boa nota para o caril vermelho de gambas, vieiras e lulas, uma receita tailandesa, e também para uma phad thai, uma massa com frango e gambas que estava bem no ponto. Para rematar, o gelado de manjericão - que era o gelado do dia - ganhou aplauso. A banda sonora foi soul music em bom nível e a vista, magnífica, do Tejo, esteve em pano de fundo. Era uma quinta-feira à noite e o restaurante estava praticamente cheio. Aqui está um local onde voltarei com prazer. Reservas pelo telefone 210 116 546 ou o e-mail reservas@station-club.com.

 

 


Gosto

Da vivacidade com que o novo ano começa em termos de novos projectos de informação, com o sector digital particularmente animado.

 

 

Não gosto

De praxes académicas, da mesma forma que não gosto de praxes em geral, e da mesma forma que não entendo como podem as universidades tolerar a humilhação como uma rotina.

 

 

 

Folhear

Chama-se "Fragmentos - Poemas, Cartas e Notas Íntimas de Marilyn Monroe" e são 270 páginas de memórias de Marilyn. O livro já foi editado há algum tempo, mas só agora me chegou às mãos. A direcção de edição é de Stanley Buchthal e Bernard Comment e foi editado pela Objectiva. O prefácio desta edição, intitulado "O Pó da Borboleta", foi escrito por António Tabucchi e ele salienta: "A imagem que Marilyn Monroe deixou no mundo das imagens esconde uma alma de que poucos suspeitavam (...) Este livro, com os documentos inéditos que contém, revela a complexidade que está por detrás da imagem". O livro termina com o elogio fúnebre de Lee Strasberg na morte de Marilyn, onde ele diz: "Ela tinha uma qualidade luminosa, uma combinação de melancolia, de esplendor e de desejo, que a colocava numa categoria à parte e, no entanto, dava a todos o desejo de participar, de partilhar esta ingenuidade infantil ao mesmo tempo tão tímida e tão vibrante. Esta qualidade era ainda mais evidente quando estava no palco (...) Não há dúvida de que se tornaria numa das maiores actrizes do teatro".
O livro inclui reproduções de páginas dos cadernos pessoais de Marilyn - as suas notas, mas também os seus desabafos, poemas que foi escrevendo, sobretudo nos anos 50, referências às leituras que ia fazendo, algumas inesperadas para muitos. Tem também relatos que ela foi escrevendo de episódios da sua vida, numerosas fotografias, descrições do quotidiano. No fim, o que nos fica é uma imagem de sensibilidade, para além do mito do desejo.

 

 


Ouvir

Leyla McCalla tem formação clássica como violoncelista e foi criada em Nova Iorque numa família de origem haitiana. Nesta sua estreia em disco a solo, pegou em poemas de Langston Hughes, um dos mais influentes representantes de um movimento dos anos 20 do século passado, que ficou conhecido como The Harlem Renaissance - poeta, dramaturgo, novelista, colunista, Hughes desenvolveu nos seus poemas, feitos a pensar no jazz, um estilo lacónico e sincopado. E é a partir dos seus poemas que McCalla trabalhou e compôs, para os interpretar de forma inesperada. Como ela agora vive em Nova Orleães, escolheu também cinco canções crioulas tradicionais que funcionam como contraponto às de Hughes. O resultado, muito graças ao estilo vocal de McCalla, desprendido, simples, mas quente e aveludado, é surpreendente - tal como os arranjos: ela dedilha o violoncelo, usa um pouco de banjo e de baixo e umas percussões ocasionais. Procurem o vídeo de uma das melhores canções do disco, "Heart Of Gold", no YouTube e, se gostarem, encomendem o CD na Amazon que por cá dificilmente o encontram. Uma curiosidade, o álbum chama-se "Vari-Colored Songs: a Tribute to Langston Hughes" e foi fruto de um processo de "crowdfunding", pela plataforma kickstarter, que angariou cerca de 20 mil dólares e que permitiu a Leyla concretizar o projecto.

 

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