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03 de Janeiro de 2014 às 10:25

A esquina do Rio

Nos últimos dias de 2013, Lisboa assistiu à demonstração do que é o Costismo: mais uma vez, medidas tomadas sem acautelar como podem ser cumpridas - no caso, a transferência de obrigações da Câmara Municipal para as Juntas de Freguesia

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A melhor forma de prever o futuro é inventá-lo. Alan Kay

 

 

 

Costismo

Nos últimos dias de 2013, Lisboa assistiu à demonstração do que é o Costismo: mais uma vez, medidas tomadas sem acautelar como podem ser cumpridas - no caso, a transferência de obrigações da Câmara Municipal para as Juntas de Freguesia. Não houve cuidado na preparação, não houve cuidado na negociação com as partes interessadas, não houve cuidado na criação de mecanismos sustentáveis que permitissem uma mudança de competências sem atribulações. António Costa é o exemplo do improviso - na decisão e na execução. E, depois, no laxismo na resolução dos problemas criados. O estado a que Lisboa chegou nestes dias deixa antever o que poderia acontecer ao país se Costa assumir outras responsabilidades. Para os lisboetas, Costa é sinónimo de caos no trânsito, de lixo nas ruas, da "política do quero, posso e mando"; é também quem deixou as ruas da cidade cheias de folhas e detritos que entupiram as sarjetas, perpetuamente por limpar, e provocaram inundações às primeiras chuvas. É quem piorou o trânsito na Avenida da Liberdade, onde agora há ainda mais engarrafamentos nos acessos das laterais, mais engarrafamentos nas faixas centrais, mais carros estacionados em segunda fila - tudo isto com um custo de centenas de milhares de euros para obras que apenas satisfizeram as vaidades do poder autárquico e nos transformaram a todos em cobaias. Cada vez que ouço que Costa é o putativo protagonista escolhido pelo PS para o próximo ciclo de poder no país fico a temer o que se passará: se ele não é capaz de governar uma cidade, o que sucederá se lhe cabe o país na rifa das eleições? É certo que discutir política não é discutir pessoas - mas as políticas avaliam-se com as acções feitas e as acções políticas de António Costa fazem um mau currículo de poder.

 

 

 

Dixit


Citação elegante do ano: "Não aceito lições de quem nunca fez a ponta de um corno."
Carlos Silva, secretário-geral da UGT, sobre Pedro Passos Coelho.

 

 

 

Semanada
• No início de 2014, a despesa pública continua excessiva e a reforma do Estado continua por fazer  os preços da electricidade e do gás subiram dia 1 de Janeiro  o Presidente da República promulgou o Orçamento do Estado e fez mais uma intervenção vazia  o Orçamento do Estado deixou de destinar verbas à RTP  para compensar, o ministro Maduro transferiu despesa do Estado para os cidadãos, aumentando a contribuição obrigatória para a RTP que todos pagam na factura da electricidade  só restam cinco dos 16 secretários de Estado independentes do primeiro Governo de Passos Coelho  registaram-se nove alterações na composição do Governo desde Junho de 2011  cinco secretarias de Estado já mudaram três vezes de detentor  em 2013, realizaram-se 81 greves nas empresas de transportes e comunicações  o Metropolitano de Lisboa fez 13 paralisações e a CP realizou 12  em dez anos, a Beira Interior perdeu dez mil habitantes  170 idosos foram dados como desaparecidos nos últimos 12 meses  em 2013, verificaram-se 67 ataques a caixas multibanco  em três meses, verificaram-se 29 roubos a carrinhas de transporte de tabaco  o Tribunal da Relação do Porto recusou classificar de jogo ilegal de fortuna e azar os casinos onde se joga mahjong  Portugal já atribuiu 471 vistos "gold", dos quais 295 a chineses, cerca de três quartos do total  já no ano passado, um tribunal de Guimarães havia decidido que a "lerpa" não é um jogo de fortuna e azar.

 

 

 

Arco da velha

Graças a malabarismos estatísticos, por cada euro a menos no défice a dívida pública sobe 1,1 euros porque o Governo e a troika optaram por meter na dívida o que não querem mostrar no défice.

 

 

 

Ouvir

Acho sempre curioso quando um disco de que gosto especialmente falha na lista das edições do ano do venerado "Atual" do Expresso. Acho isso ainda mais interessante quando o disco em causa provém de um país de cuja música se fala pouco - no caso, a Dinamarca. E ainda acho a coisa mais engraçada quando o disco não foi alvo de promoção especial e, portanto, os críticos não o receberam na caixa de correio - tiveram que o comprar, em formato físico, em digital ou então ouvi-lo em streaming. O pretexto para esta conversa é "Aventine", da dinamarquesa Agnes Obel - cuja educação clássica como pianista foge aos cânones da pop contemporânea. Neste seu segundo disco, onde é maioritariamente acompanhada por um violoncelo, esporadicamente por violino, guitarra e harpa, retoma a criação de ambientes sonoros inesperados, pouco convencionais e onde a inquietação e a procura andam de mãos dadas - neste caso, num cruzamento de rara sensibilidade entre a palavra, a forma de cantar e os arranjos musicais. CD Play It Again Sam, na Amazon.

 

 

 

Provar

Se gostam da tradição culinária japonesa devem conhecer o Tomo, em Algés. Digo de propósito tradição culinária porque, no Tomo, a oferta não se reduz ao sushi, ao sashimi ou à tempura - tudo, aliás, excelente. Ali há também pratos cozinhados, na tradição de Quioto, de acordo com o que está disponível no dia. O menu kaiseki reflecte isso mesmo e deve ser encomendado com antecedência. Atrás do balcão está Tomoaki Kanazawa (na imagem) que, há década e meia em Portugal, decidiu há uns anos arriscar no seu próprio restaurante, depois de ter sido chef na Embaixada do Japão em Lisboa e, mais tarde, ter trabalhado no Aya original, da Rua das Trinas. O restaurante é despretensioso, não alinha em modas de sushi-fusão, é austero na decoração e exuberante na qualidade. Para os apreciadores da comida japonesa, o Tomo é o que resta de mais fiel às tradições deixadas por mestre Yoshitaki, o fundador do Aya. É na simplicidade das coisas que se vê e sente a diferença - é o que se passa no Tomo onde os caldos, a sopa e o arroz são diferentes do que geralmente se encontra por aí - na consistência, no sabor, na intensidade, na subtileza. Se tiver dúvidas face à lista, peça conselho a Saif, o chefe de sala, de origem paquistanesa, que lhe dará sugestões. No fim, aceite o que ele recomendar de sobremesa - é que o Tomo é o único restaurante japonês que se pode gabar de ter uma especialista em doçaria tradicional japonesa, Kayo Iwasaki. O restaurante Tomo fica na Avenida dos Bombeiros Voluntários 44, em Algés. O telefone é o 213 010 705 e encerra aos Domingos.

 

 

 

Gosto

As IPSS (Instituições Privadas de Solidariedade Social) criaram 1400 novos equipamentos sociais, incluindo creches e lares de idosos, entre 2000 e 2012.

 

 


Não gosto

Quase metade dos desempregados de longa duração irão ficar sem trabalho para o resto da vida.

 

 

 

Folhear
Neste começo de ano, destaco uma frase impressa, em jeito de manifesto, na primeira página da edição especial de inverno da "Monocle", em formato jornal: "A 'Monocle' acredita no poder da imprensa impressa e do papel que se folheia". Por muito que goste do digital e o use, sei que encontro refúgio seguro no papel quando quero ler alguma coisa mais profunda - algum dossier de investigação, um portfolio de fotografias, uma reportagem. A internet trouxe-nos a informação imediata, mas a reflexão e a descoberta ainda nos chegam pelo papel - e é no equilíbrio entre as duas coisas que reside o futuro da comunicação escrita. Por isso, as grandes marcas da informação - as que ganharam prestígio e reputação, as que apostam na qualidade e diversidade dos conteúdos - são as que estão melhor posicionadas para conseguirem estabelecer um bom modelo de negócio nos anos mais próximos. A importância crescente dos dispositivos móveis no consumo imediato de informação provoca o aumento de utilização de aplicações agregadoras de conteúdos como o Zte ou o Pulse - que vivem da citação de conteúdos de marcas informativas de prestígio. Hoje lê-se mais que se lia há uns anos - e essa é uma realidade. Mas só se lê aquilo que tiver interesse e qualidade. Sem bons conteúdos, o ciclo inverte-se. É a história mais velha do mundo, a seguir à outra que todos conhecemos.

 

 

 

Ver

Estes são os últimos dias, até 5 de Janeiro, para ver no Museu Berardo uma exposição que reúne, sob o mote das relações entre a fotografia e o arquivo nas práticas artísticas contemporâneas, o trabalho de cerca de vinte artistas, de várias épocas e localizações geográficas, como Helena Almeida, Daniel Blaufuks, Christian Boltanski, Marcel Duchamp, Tracey Moffatt, Umrao Singh Sher-Gil, Hiroshi Sugimoto, Vivan Sundaram, Jemima Stehli, Robert Wilson ou Francesca Woodman. Se lá for, aproveite para visitar a exposição "O Consumo Feliz - Publicidade e sociedade no século XX", que apresenta uma selecção de mais de 350 obras da Colecção Berardo de Arte Publicitária que, no total, reúne um conjunto de cerca de 1500 itens. Este acervo reúne exclusivamente originais de publicidade pintados à mão. As duas exposições, bem diferentes entre si, são um belo pretexto para passar pela área de exposições do Centro Cultural de Belém.

 

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