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19 de Abril de 2013 às 09:51

A esquina do Rio

Às vezes a política não é uma encenação, mas é raro tal acontecer; às vezes a política consegue ser coerente, mas não é nada frequente; às vezes os políticos são sinceros, mas não é costume.

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Fantasia

Às vezes a política não é uma encenação, mas é raro tal acontecer; às vezes a política consegue ser coerente, mas não é nada frequente; às vezes os políticos são sinceros, mas não é costume. A semana que agora acabou foi pródiga em tudo isto. Por momentos, parecia um ensaio de bailado entre Passos Coelho e Seguro - só que ambos escorregavam e caíam, sem conseguirem completar os movimentos. Na época da comunicação digital, o primeiro-ministro e o líder do maior partido da oposição correspondem-se por carta para criar um ambiente de romance - uma coisa para inglês ver, melhor dizendo, para troika observar. Nesta última semana, não houve dia em que Passos e Seguro não falassem. Falaram demais - dias de cacofonia, de simulações e de muito poucos actos. Até a cena final - a conferência de imprensa matinal de quinta-feira, depois da dramatização de um Conselho de Ministros ao longo da madrugada, foi um triste espectáculo de vazio, uma ilusão de óptica. No fim da conferência de imprensa, fiquei com a certeza de que a troika vai saber, antes dos cidadãos, os cortes orçamentais que não foram revelados. Fecho os olhos e imagino tudo isto como se fosse um filme: o Governo retocou-se, escolheu uma nova maquilhagem, até fez um "casting" interessante para novos personagens. Mas mesmo bons actores podem aparecer em maus filmes, quando o realizador falha o seu serviço e o produtor está apenas interessado em tapar as evidências de que as coisas não vão bem. Olho para o Governo e tenho a sensação de que estou a ver um filme que é uma produção falhada, um filme que ultrapassou o orçamento, falhou a história, um filme onde os actores não se entendem e realizador e produtor não conseguem concretizar o projecto. Vítor Gaspar falhou estrondosamente no orçamento de produção, e Passos Coelho é um realizador que deixa a história degradar-se, por causa das dificuldades do produtor, e que não consegue dirigir os seus actores. Espero que nunca se candidatem a um subsídio à produção de cinema.

 


Ouvir
José James podia ser considerado simplesmente um músico de jazz. Mas vale a pena pensar que a música soul que lhe corre nas veias e impulsiona a voz é de facto o seu toque diferenciador, mesmo quando ronda o hip-hop. Neste seu novo álbum, "No Beginning, No End", o primeiro para a Blue Note, ele deixa de lado sonoridades mais electrónicas do trabalho anterior, "Blackmagic", e percorre arranjos mais acústicos e, de alguma forma, mais genuínos, e o efeito final é mais intimista, mais intenso. Temas como "Trouble", "Vanguard", "No Beginning, No End", "Tomorrow" ou a versão de "Come To My Door" com Emily King, são provas do talento de José James. E razões mais que suficientes para ouvir este disco.

 


Provar
Há uma razão líquida para ir ao Vélocité Café na Duque de Ávila - é a cerveja artesanal "Sovina", na variedade Bock. Combina muito bem com o hambúrguer de bacalhau com aioli em pão pita, uma das especialidades da casa. Outra é o prego em bolo de caco de alfarroba, e uma outra é a tosta de broa de milho com pasta de chouriço. A lista é razoavelmente extensa, entre saladas e snacks e alguns pratos do dia, muitas vezes com uma opção vegetariana. Se gosta de cerveja, não hesite em provar esta "Sovina", feita no Porto e ainda uma raridade em Lisboa. Tem um paladar único - e apesar dos seus 7,5 graus de álcool, o que exige prudência, é de uma grande leveza. O estabelecimento onde tudo isto se passa é um misto de restaurante e cafetaria com oficina de bicicletas, loja de acessórios e, claro, também de diversos modelos de bicicletas para várias idades. Boa decoração, boa onda, bom espaço e, ainda por cima, uma cozinha simples, mas bem cuidada. Para os adeptos do petisco, a tábua de queijos com doces da estação é também uma boa experiência e ao fim-de-semana há brunch. O Vélocité Café fica na Avenida Duque de Ávila 120, mesmo ao pé da ciclovia, e tem o telefone 213 545 252.

 


Folhear
Enquanto não chega a nova encomenda, de Primavera, tenho nas mãos a edição de Inverno de 2012 da "Aperture", uma revista que se edita quatro vezes por ano, destinada a mostrar os caminhos da fotografia, fundada por Minor White e que pertence à Aperture Foundation, de Nova Iorque. A "Aperture" é a minha maneira de me manter ligado ao que se faz, aos melhores trabalhos no campo da fotografia. É, de alguma maneira, a minha galeria privada de fotografia que, graças à Amazon, recebo em casa. Vive da imagem fotográfica e não liga muito às modas passageiras. Sinto que os curadores que, por cá, vivem dos equívocos de imagens de jogos florais têm pouco interesse nesta publicação, até porque contraria o pensamento dominante por estas bandas. Nesta edição gostei muito dos retratos da holandesa Rineke Dijkstra, do trabalho, algo revivalista, de Alec Soth, em busca dos subúrbios num misto de técnica datada e factos contemporâneos, e das paisagens urbanas de Tim Davis. Mas a peça de reflexão é um excelente trabalho sobre cinco livros de fotografia que marcam a história da América, feitos por Walker Evans, Robert Frank, Joel Sternfeld, Jacob Holdt e Doug Rickard. Dei por mim a pensar que, por cá, muito pouco trabalho, como o que está em qualquer destes livros, foi feito e editado.

 


Arco da velha
A ASAE só detectou 12 infracções de menores a beber em locais públicos em 2012.

 


Semanada
Pinto da Costa anunciou ir avançar para o 13.º mandato no FCP; Paulo Portas ainda não confirmou se vai ser candidato à liderança do CDS-PP; George Soros defendeu uma Zona Euro sem a Alemanha; Miguel Relvas renunciou ao cargo de deputado na sequência da sua saída do Governo; o Governo foi retocado; António José Seguro foi reeleito líder do PS com 96,53% dos votos expressos; o secretário-geral do Parlamento demitiu-se ao fim de 10 meses na função por questões relacionadas com o controlo das despesas dos partidos; a Assembleia da República tem pago o funcionamento da Comissão Nacional de Eleições e dos seus funcionários à margem das normas legais; trabalhadores com salários em atraso triplicaram em 2012; Mário Soares, falando sobre a situação presente, avisou Cavaco que, "por menos, houve o regicídio" que matou D. Carlos; no início da sua actuação em Portugal, a troika previa uma taxa de desemprego de 13,5%, agora a previsão já vai em 18,5%; a procura por novos automóveis caiu 9,8% no primeiro trimestre em toda a Europa e em Portugal aumentou 2,7%; na Alemanha, nasceu um partido político cujo programa defende o fim do Euro; várias empresas públicas perderam mais de três mil milhões de euros com contratações de produtos financeiros de risco - entre elas, as dos Metropolitanos de Lisboa e Porto, que, juntas, perderam dois mil milhões de euros a brincarem à especulação financeira.

 


Ver
No Museu Berardo, no CCB, está patente mais uma edição do BES Photo: quatro exposições de outros tantos autores, num critério de escolha que continua polémico. Dois dos escolhidos - Pedro Motta e Sofia Borges - são brasileiros e usam apenas a fotografia como vago suporte de manipulações, não se entendendo de todo o sentido da sua presença, ainda por cima com ambos num mesmo registo pós-fotográfico. O português Albano da Silva Pereira, que ganhou reputação a fazer os Encontros de Fotografia de Coimbra, mostra fotografias da sua vida de viajante, intercaladas com recordações, numa montagem que evoca um "cabinet d'artiste" encenado como um caderno de viagem e com um recurso, desnecessário, a um vídeo. Resta o moçambicano Filipe Branquinho, o único a apresentar uma ideia fotográfica, que como ele próprio refere, evoca o trabalho de Ricardo Rangel ou José Cabral, nomes maiores da fotografia do seu país. Tenho, desde há muito, grande dificuldade em compreender os critérios do BES Photo, que insiste em misturar meios e processos que usam apenas a fixação da imagem fotográfica como uma das etapas do processo, em detrimento do registo da forma de ver. O estreito corredor onde os trabalhos de Filipe Branquinho estão presentes vale uma deslocação ao CCB. E, noutro registo, as memórias de Albano da Silva Pereira introduzem um espírito coleccionista que remete para a descoberta e a memória.

 



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