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Chapa ganha, chapa gasta

É crível que o ministro das Finanças não ceda ao populismo da extrema-esquerda e mantenha a sua rota de moderação no alívio dos contribuintes e na reposição gradual de alguns benefícios e rendimentos confiscados pela troika.

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1- A recuperação da economia e das finanças públicas prossegue o seu caminho. Os números falam por si - crescimento previsível do PIB na ordem dos 3%, investimento e emprego em alta, défice orçamental de 1,5%, redução do rácio da dívida pública. Os dados da execução orçamental do primeiro semestre confirmam a trajectória positiva das contas do Estado, embora os resultados homólogos do segundo semestre possam vir a ser afectados pelos efeitos da reconcentração do subsídio de Natal e da ausência de PERES. Numa boa casa portuguesa, de gente prudente e sensata, os ganhos alcançados seriam geridos com parcimónia, presentes como estão as agruras do passado recente. Só que os impulsos de cigarra e os primos gastadores estão sempre à espreita. 

Tudo recomendaria - como bem salienta Vital Moreira no blogue Causa Nossa - uma gestão criteriosa e porventura mais ousada dos objectivos orçamentais, aliviando o garrote da dívida externa e criando uma folga razoável para a eventualidade de uma desaceleração do crescimento económico, aquém e além-fronteiras. É que, apesar do bom comportamento exportador das empresas portuguesas e do efeito Madonna nos ingressos turísticos, nada garante que a retoma europeia não venha a ser afectada por cisnes negros de matiz financeiro ou geopolítico.

2 - Indiferentes à razão da prudência, os primos gastadores e o seu séquito de alegres companheiros não querem ouvir falar de rigor nem de poupanças. Tudo o que se recuperou, tudo o mais que se prevê recuperar por via do (incerto) crescimento económico, é para gastar já. Baixe-se o IRS, aumentem-se as pensões, descongelem-se as carreiras, contratem-se milhares de novos funcionários públicos, nem que seja preciso - para dar algum sinal de critério e moralidade festiva - voltar a carregar nos impostos das empresas e dos ricalhaços das taxas de IRS que começam por 4. 

É crível que o ministro das Finanças não ceda ao populismo da extrema-esquerda e mantenha a sua rota de moderação no alívio dos contribuintes e na reposição gradual de alguns benefícios e rendimentos confiscados pela troika. Mas é certo que os Gastões da vida lhe vão dar muito trabalho.

3 - Alegria é o que não tem faltado aos consumidores portugueses em 2017. Quais incêndios qual quê, toca a gastar dinheiro, que agora há mais uns cobres e amanhã sabe deus. Sem surpresa, o povo desatou a comprar frigoríficos, máquinas de lavar, tablets e telemóveis. Aumentam as vendas de combustíveis, os gastos em entretenimento e na restauração. Rejubilam os hipermercados, as gasolineiras, os produtores de festivais e as casas de pasto mais ou menos gourmet

É certo que não há forma de conter a pulsão consumista de quem se viu tão duramente apertado durante sete anos consecutivos e que, nalgumas rubricas, a procura absorve factores de produção nacionais, o que é bom para o PIB. Acontece que a maior fatia se dirige a bens importados, o que agrava a situação da nossa balança comercial. Tudo bem, diz o Gastão, mas qual é a alternativa? Deixar o dinheiro nos bancos, para o levarem em comissões?

 

A figura do mês: António Chora

 

O ex-líder da Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa (AE), hoje reformado, é o homem que todos recordam perante o assalto da CGTP ao castelo laboral da empresa. Durante 20 anos, este militante do Bloco de Esquerda assegurou um clima negocial são e relações estáveis com a administração da empresa alemã. Não foram precisos mais do que seis meses para que a máquina sindical do PCP alcançasse um velho objectivo - substituir-se à CT e aliciar os trabalhadores da AE para a sua habitual estratégia de confronto e ruptura.

 

"Orgulho-me de ter sido membro de uma CT que começou numa fábrica com 144 pessoas. Saí de lá com 4 mil, contrariamente a muitos sindicatos que entraram com 11 mil trabalhadores e saíram com ninguém, como na Lisnave, CUF ou Quimigal" - afirma (ao Negócios de 30 de Agosto) António Chora, sem papas na língua.

 

Os tempos são outros e não é de supor que o PCP/CGTP aposte na destruição da empresa, como em tempos idos. Resta saber como reagirão doravante os trabalhadores e a VW face aos destroços da greve.

 

Número do mês: 1 milhão de dólares

 

É o valor que a Coca-Cola está disposta a atribuir a quem encontrar uma alternativa "saudável" ao açúcar na composição do seu refrigerante histórico. O desafio, válido até Janeiro de 2018, está recheado de especificações técnicas.

 

A nova substância, se surgir, terá de ser natural, não calórica, saborosa, estável e umas quantas características mais, além de não poder ser extraída de espécies vegetais classificadas como protegidas ou de onde actualmente se retirem componentes adoçantes considerados nocivos (e porque será que ainda não foram proibidos?).

 

É conhecida a extrema sensibilidade gustativa dos indefectíveis da Coca-Cola. Recorde-se que, em 1985, depois de a empresa ter torrado dezenas de milhões de dólares em testes e estudos de mercado, a New Coke foi lançada com estrondo como a substituta do produto clássico. O resultado foi um flop total - a velha Coke manteve-se e a nova acabou por ser retirada do mercado em 2002. O mundo Coca-Cola fervilha agora de curiosidade para provar este novo açúcar. Não há uma sem duas?

 

Economista; Professor do ISEG/ULisboa

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