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A eficiência alemã eleva-se aos céus

Um piloto com repetidos e conhecidos problemas psicológicos (e de visão, ao que parece), em situação de baixa médica, com autorização para voar é uma rábula terceiro-mundista.

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1. A tragédia provocada por Andreas Lubitz aos comandos do avião da Lufthansa não só consternou a Europa e o mundo da aviação civil como suscitou um amplo debate sobre as normas operacionais de voo. Do turbilhão informativo que se lhe seguiu, duas constatações se impõem. A primeira é que o relativismo moral perante situações de horror se manifestou de forma flagrante. Se o desastre tivesse sido provocado por um agente da Al-Qaeda, fazendo-se explodir a bordo em nome de Alá, estaríamos perante um acto de terrorismo ignóbil, mas como o seu autor se limitou a fazer despenhar o avião em nome dos seus problemas emocionais, o veredicto foi simplesmente clínico - o suicida-homicida sofria de uma infeliz patologia depressiva. Ponto final. Fica por saber se doravante as taras dos islamitas servirão de desculpa para os seus actos.

 

A segunda constatação é que a segurança aeronáutica no espaço europeu não é, afinal, melhor do que a de outras regiões do planeta. Mais - o normativo e os procedimentos de controlo na Alemanha são surpreendentemente lassos. Um piloto com repetidos e conhecidos problemas psicológicos (e de visão, ao que parece), em situação de baixa médica, com autorização para voar é uma rábula terceiro-mundista. Como reagiria a Alemanha e a União Europeia se o caso não fosse da responsabilidade da emblemática Lufthansa e sim de uma companhia aérea de segundo plano, por exemplo, africana? A esta hora, a Comissão já teria concluído um processo sumário de averiguações e decretado a suspensão dos seus voos no espaço aéreo europeu.

 

O único efeito positivo da tragédia dos Alpes será presumivelmente o repensar das normas de segurança europeias no domínio da aviação civil, algo que o processo de liberalização e desregulamentação acelerada da indústria não tratou de acautelar. Há já uma dezena de anos, um director-geral da Comissão Europeia confidenciou-me as suas preocupações quanto ao rumo do sector face à guerra de preços que se avizinhava e as consequências que daí adviriam em matéria de segurança. Recordo agora as suas palavras premonitórias: "Não se esqueça - vamos assistir a um aumento sensível do número de acidentes". No caminho, os consumidores passaram a beneficiar de tarifas inimagináveis no século passado e estão contentes. As depressões ficam para os pilotos.

 

2. "A produtividade em Portugal é elevada?", pergunta a jornalista Ilídia Pinto, do Diário de Notícias (edição de 6 de Abril). "Muito! Temos conseguido conquistar, em várias áreas, posições de benchmark. E nós comparamo-nos (…) com o mercado global porque estamos a actuar (…) nessa escala, [competindo] com outras empresas. Por outro lado, [destaco] a excelente qualificação da mão-de-obra e as excelentes condições de infra-estruturas no país. Do ponto de vista logístico, é muito atractivo fazer negócios em Portugal". A inesperada resposta não provém de um qualquer desenvolvimentista fervoroso nem de um quadro da AICEP, mas sim do alemão Johannes Sommerhäuser, administrador comercial da Bosch em Portugal.

 

Excelentes infra-estruturas, elevada produtividade, mão-de-obra altamente qualificada, herr Sommerhäuser? Há definitivamente algo que não bate certo no reino dos teutões, quando os seus responsáveis políticos nos acusam de desbaratar fundos em obras sumptuárias e de termos índices de produtividade lamentáveis (um eufemismo para a convicção mais popular de sermos um povo mandrião), no que são secundados por grande parte da intelligentzia nacional. Num só ponto parece haver alguma coerência - a qualificação da mão-de-obra. De tão alta, suscitou já o memorável reparo da chancelerina Merkel quanto à sobrequalificação académica dos portugueses. Confuso? Não. A chave afinal é simples - com gestão alemã as inutilidades tornam-se virtuosas.

 

Economista; Professor do ISEG/ULisboa 

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