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Uma escola é outra coisa 

Todos os anos o Ministério da Educação reavalia os contratos com muitas entidades, professores, pessoal não docente, fornecedores de todo o género, escolas e serviços educativos particulares. Contrata-se o que falta, não o que já existe.

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Não se compram mais cadeiras ou mesas numa escola que as tem em número suficiente. Banal, portanto.

 

O ministro Tiago Brandão Rodrigues disse uma coisa igualmente banal. Vai reavaliar os contratos de associação com os colégios privados que fornecem um serviço supletivo. Se esse serviço continuar a ser preciso, o contrato é renovado. De contrário, não é. Sendo que o ciclo não é quebrado e os alunos não terão de mudar de escola. Mais claro e transparente não se pode ser.

 

A revolta de uns quantos colégios privados é, por isso, no mínimo extemporânea. Mas é também muito reveladora. À sombra da bondade do ensino existe um negócio privado que vive quase exclusivamente e, nalguns casos, mesmo exclusivamente à conta do dinheiro público. É legítimo? É racional? É justo para o ensino privado que não recebe qualquer apoio? Onde fica a santa concorrência? Que iniciativa privada é esta que só se financia com o dinheiro dos contribuintes?

 

Os colégios que se manifestam são quase todos religiosos. Deve um Estado laico financiar a doutrinação religiosa? Esta realidade não atenta contra princípios constitucionais? Já para não falar no mal que faz às crianças. Muitas passarão uma boa parte da sua vida a tentarem livrar-se dos pavores, sentimentos de culpa e fantasias que estes padres e freiras lhes metem na cabeça, numa idade em que não têm meios de poder decidir no que querem acreditar. Devia ser proibido ensinar religião às crianças. É uma opção de adultos.

 

Em caso algum se pode aceitar a manipulação das crianças. É aliás o aspeto mais chocante deste episódio. Quem confia o seu filho a uma escola que tão descaradamente o manipula? Afinal o que e como se ensina nestas escolas? Pelo que se observa, com as crianças todas vestidas com camisolas da mesma cor e cartazes feitos pelos professores, estamos perante ambientes escolares muito pouco saudáveis. De liberdade é que não têm nada.

 

Mas talvez o pior de tudo não seja este degradante episódio. Mas a cortina de fumo que impede que se discuta o que realmente importa em matéria de educação. Toda a gente fala do pequeno problema dos colégios privados. Mas poucos falam dos grandes problemas do nosso ensino. A escola não está a ser capaz de evoluir à velocidade de um tipo de conhecimento, de base tecnológica, que provoca enormes mudanças na forma de trabalhar, pensar, viver. O ensino, tal como está, é um obstáculo à inovação. Puxa para baixo, bloqueia a imaginação, é superficial no essencial e reticente no experimental. Devíamos estar a discutir intensamente o que fazer com a escola neste século XXI. Não certamente com a visão retrógrada da direita que ainda imagina que os exames e o autoritarismo são solução para alguma coisa. Veja-se como alguns países, que já aboliram os exames há muito, vão agora acabando com as disciplinas. É o caso da Finlândia, onde, acrescente-se, todo o ensino é público e gratuito. Não por acaso é também um dos países mais avançados do mundo.

 

Portugal precisa de empreender mudanças radicais no sistema de ensino. Nos métodos, nos conteúdos, nos ambientes. Essas mudanças afetam rotinas, preconceitos e ignorâncias de todo o tipo. Mas sem elas são as próprias crianças de hoje que terão mais dificuldades no seu próprio futuro.

 

Artista Plástico

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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