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De regresso ao futuro

O peso do passado, os media que vivem do dia a dia, o conservadorismo da política, não estimulam a reflexão sobre o que realmente está a desenhar o futuro. Mas é fundamental fazê-lo sob pena de perdermos o contacto com a realidade.

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Neste exercício escolhi quatro temas que estão em pleno desenvolvimento e começam a ter implicações nos dias de hoje.

 

Três pais

 

Muito a propósito, da recente polémica com a adoção de crianças por homossexuais, começa hoje a praticar-se uma técnica em que a futura criança não tem dois, mas três pais. Um vem do óvulo, outro do esperma e um terceiro de mitocôndrias "limpas" de defeitos genéticos. No Reino Unido já se pratica, ainda que experimentalmente, nos Estados Unidos está em avaliação.

 

Se o tema dos casais homossexuais perturba o conceito de família, a ideia de que alguém possa ter três pais biológicos, pois não se trata de uma figura tutelar, um tio, amigo ou amiga, representa uma rutura radical com aquilo que tantos consideram ser a base mesma da nossa civilização, cada um ter um pai e uma mãe.

 

É claro que esta ideia tem vindo a ser desconstruída. Desde logo pela realidade. Mortes prematuras, nas guerras por exemplo, separações e divórcios geram cada vez mais crianças de um só pai ou uma só mãe, a que se acrescentam novas ligações, adoções, transferências para tios, avós ou para as malfadadas instituições. Mas é sobretudo no campo da ciência médica que a família nuclear tem vindo a ser desmontada. É difícil continuar a ver um Adão e Eva na fertilização "in vitro" ou noutras técnicas combinatórias. Mas ainda menos num indivíduo nascido a partir do material genético de três dadores.

 

Desemprego tecnológico

 

Que as máquinas inteligentes e robôs estão a substituir os humanos em muitas tarefas é uma evidência. Que esta dinâmica está a criar desemprego e destruição acelerada de profissões também. Veja-se, por exemplo, a polémica entre taxistas e Uber, quando começam a surgir os primeiros veículos não-tripulados (por humanos) e a profissão de motorista em breve estará praticamente extinta. Risos? Lembrem-se das costureiras, telefonistas, estenógrafos, tipógrafos, cartógrafos, encadernadores e tantos outros.

 

A questão que se coloca hoje é contudo outra. Dada a rapidez da mudança haverá tempo para a requalificação? Ou vamos ter legiões de desempregados, frustrados e enraivecidos a reeditar provavelmente as ações do movimento ludita que destruía as máquinas da primeira revolução industrial? Agora com uma "nuance". É que já vamos na quarta revolução industrial, dita 4.0, quando as coisas começam a falar umas com as outras e desafiam o controlo humano. Tema importante quando se prepara um ambicioso programa de requalificação dos portugueses. Resta saber se se vão qualificar a fazer tarefas que em breve estarão obsoletas.

 

Prolongamento da vida

 

Tema cada vez mais frequente, visto sobretudo na perspetiva do viver mais tempo, tem vastas e profundas implicações na própria organização social. Além dos aspetos individuais, importantes, já que viver mais e com saúde é o que todos desejamos, há quem, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, veja benefícios no campo da sustentabilidade financeira do sistema de segurança social. Mais tempo de reformas a pagar, mas menos despesa com a saúde. Contas feitas, parece que compensa. Contudo, como acontece em tanto domínio na nossa sociedade capitalista, o mais provável é que também aqui o fosso entre ricos e pobres vá aumentando. Agora, não só em riqueza. Os pobres viverão menos tempo do que os ricos. Já acontece aliás. E isso vai criar um desfasamento social de consequências imprevisíveis.

 

Copiar o cérebro

 

De certa forma na linha do tema anterior começa também a discutir-se seriamente a possibilidade de a breve trecho se conseguir copiar o conteúdo integral do nosso cérebro para um suporte digital. Teríamos assim um prolongamento da vida teoricamente "ad eternum", a menos que alguém faça "delete".

 

Emular o cérebro, por simulação ou cópia, é um dos objetivos principais do ramo da Inteligência Artificial que toma como modelo o ser humano. Há outros ramos. Mas todos apontam para um tempo em que partilharemos o planeta, e o universo, com formas de inteligência tão ou mais sofisticadas e capazes do que a nossa. Ninguém sabe o que sucederá. Continuaremos a ser a espécie dominante ou passaremos à condição de criaturas exóticas, mas primitivas?

 

Artista Plástico

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

 

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