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Um homem contrariado

O aniversário do JN foi o evento político da semana passada. Em dia de debate no Parlamento foi num hotel de Lisboa, perante uma plateia de centenas de decisores, que houve debate entre os dois candidatos a primeiro-ministro.

 

O que aconteceu foi desarmante e terá deixado surpreendida a maioria da assistência. A intervenção de António Costa fez mais do que perder na comparação. Até seria injusto ir por aí… Foi uma espécie de ilustração, ao vivo, do que as sondagens do fim-de-semana viriam a confirmar.

 

António Costa agarrou-se, literalmente, a um discurso monocórdico, sem se afastar uma linha do que trazia escrito de casa. Identificou os problemas estruturais da economia portuguesa, numa análise com que qualquer um se pode identificar, sem se comprometer com uma única solução em concreto.

 

A sala já estava preparada para mais do mesmo que tem acontecido: António Costa ou não tem alternativa ou não a estudou.

 

Mas, o que se seguiu ainda foi pior. Cada um dos palestrantes era, no modelo da conferência, entrevistado pela directora do Negócios. E aí António Costa ofereceu várias pérolas demagógicas, em estilo Sampaio da Nóvoa, o seu novo candidato presidencial. Na mesma frase foi possível elogiar com aparente coerência, em simultâneo, a estabilidade e a ruptura. 

 

O verbo fácil pode cativar os distraídos e os militantes... Mas o que a plateia, muito atenta, presenciou foi um sucessivo adiar de respostas para estudos vindouros, nenhuma resposta à iniciativa política do Governo e, após muita insistência, a única resposta em concreto ficou por concretizar, mas deixou a sala estarrecida com a, digamos, originalidade: alargar a base de financiamento da Segurança Social para lá dos trabalhadores e das empresas, em função de salários, também ao capital…

 

Se somarmos a isto a única proposta conhecida, quando escrevo, depois de revelado o famoso estudo macroeconómico: o subsídio aos baixos salários, fica logo por perceber que qualquer baixa de impostos é para o PS, e para nós se o PS governar, uma quimera inatingível.

 

Tudo tão mal estudado que Pedro Passos Coelho, no início da sua entrevista, ainda conseguiu arrancar uma boa gargalhada na sala com a vacuidade da equação apresentada a trouxe-mouxe sobre a Segurança Social.

 

Depois de uma intervenção de improviso que até pode suscitar várias críticas, mas beneficia da coerência do discurso, Pedro Passos Coelho, ao invés, deixou na sala a sensação de estar incomparavelmente mais preparado para os meses que aí vêm do que o seu rival.

 

Passados vários meses como secretário-geral, António Costa está nas sondagens exactamente no mesmo sítio que o pouco eficaz António José Seguro. Não é por causa da retoma, não é por causa da baixa de juros, não é por causa de Sócrates, embora tudo isso seguramente tenha efeito na subida que as sondagens registam a favor do PSD.

 

A razão pela qual António Costa é candidato a perder eleições para a coligação que aplicou a austeridade é porque pura e simplesmente não consegue dizer nada de novo nem de diferente e quando o faz não é credível. E, sobretudo, porque quanto mais se observa, mais parece um homem contrariado no papel de salvador de um partido com muito pouca emenda.

 

Advogado

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