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Correr num beco 

A razão pela qual a esquerda procura as mais variadas interpretações para a "vitória" de António Costa é fácil de explicar. Chama-se má consciência e tem origem no mesmo nevoeiro e sensação de fraude com que na rua se fala do assunto.

Mas a nossa Constituição permite, de facto, o que nunca foi testado… Se porventura o Parlamento chumbar um Governo de quem ganhou, pode, depois e só depois, ser entregue o mandato a qualquer outro que assegure a maioria parlamentar. Não há golpe de Estado nenhum. Só uma frustração de expectativas que se resolve nas eleições seguintes quando as pessoas, vacinadas, exigirem saber antes se estão a votar em moderados ou leninistas.

 

Assim sendo, talvez se pudesse por de lado o descaramento pacóvio de dizer que o povo votou contra a austeridade quando, com todas as letras, quatro quintos dos deputados eleitos prometeram aos eleitores respeitar as regras da união económica e monetária.

 

Não. O que une a esquerda é apenas o ódio, como eles dizem, à coligação que ganhou, sobretudo porque já tinham decretado que ia perder, e o desespero de António Costa que sobrevive como o pião: a rodopiar.

 

É impossível prever o pensamento deste secretário-geral do PS. Será sempre o que a necessidade ditar pela manhã. Ou pela tarde. Mas não foi buscar o Prof. Centeno em Abril e agora vai explicar as suas deambulações a Bruxelas por acaso.

 

É por saber que estamos preocupados. Que vimos o que aconteceu na Grécia em Junho. Tanto quem votou PS, como na coligação quis afastar de Portugal o fantasma do Syriza, dos bancos fechados e de outro resgate.

 

Depois dos quatro anos mais duros e regressivos de que há memória, as pessoas provaram que não perderam nem memória, nem bom senso. Ninguém gosta de pagar mais impostos ou de qualquer outra das formas com que a coligação teve de nos apertar o cinto. Mas entre ser prudente ou acabar como os gregos, os portugueses escolheram o meio caminho. Puseram a ganhar os que levaram Portugal da valeta à fisioterapia e atrás, com desconfiança, quem lhes prometeu aliviar um bocadinho a vida…

 

António Costa sabe bem disto mas, pelos vistos, quer reavivar o falso frémito que teve com o "sinal de mudança" da vitória do Syriza em Março para ser primeiro-ministro.

 

Num dia que conseguiu seguir foi a Bruxelas garantir o Tratado Orçamental, para ocupar agenda como tem feito sistematicamente e chegou a Portugal com os comunistas a dizer que a renegociação da dívida está em cima da mesa e o Bloco que aprova um orçamento e chega. Conclusão, a única que pode tirar: as negociações à esquerda estão a correr melhor…

 

Dá uma irresponsável entrevista a sugerir problemas graves nas finanças públicas que não especifica. Que faz no dia seguinte? Escreve uma carta à coligação a sugerir o aumento da despesa…

 

Se esta transumância é o regresso da política, como por aí se opina, só se confirma a distância entre os que escrevem e os que votam.

 

Não sendo possível perceber a racionalidade, sobra a evidência do propósito: chumbar o Governo da coligação para ser califa. Estou convencido de que não muda de caminho, não tem alternativa. Se conseguir que o Parlamento chumbe Passos Coelho, será o primeiro PM saído de eleições que… perdeu.

 

De fora tudo é fácil de prometer, quando tiver de enviar um OE a Bruxelas ou pedir dinheiro emprestado, este PS, se não souber, aprende que não pode irmanar com uma esquerda que não vive nesse mundo. O PC e o Bloco sabem-no muito bem e só querem aproveitar a fragilidade do PS para o enfraquecer mais. A intenção de António Costa, pelos vistos, é correr num beco. Eu deixava. Em Junho votamos outra vez…

 

Advogado

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