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Adiante

Quando o Presidente procurou deixar o registo da sua descrença na plataforma que içou António Costa, só o PC fez um comício a exigir a entrada em funções de um Governo minoritário do PS.

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Nota: Este artigo está acessível, nas primeiras horas, apenas para assinantes do Negócios Primeiro.

 

O PS foi escrever a resposta no mesmo dia. E o BE tratou de fazer um comunicado pequenino e colaborante. São sinais em que vale a pena reparar.

 

Todos estes parceiros tinham e têm propósitos diferentes, mas é falso que nada tivessem em comum. Tinham um propósito que cumpriram com um sucesso que ninguém antevia: impedir a coligação que ganhou de governar.

 

Doravante, quando aterrarem na realidade, quase tudo os separa e por isso o PC tem pressa. Quer sair rapidamente deste barco onde não pode navegar e que não pôde impedir. Experientes, foram os primeiros a apoiar Costa para tentar ganhar iniciativa sobre o Bloco, o seu verdadeiro adversário.

 

Mas quanto mais rapidamente cumprirem o objectivo de lá pôr o PS, mais depressa podem começar a contrariar o PS. Por isso as suas exigências estavam na reversão da privatização dos transportes e na contratação colectiva. Para não perder as armas com que podem continuar a exercer a sua força na rua, seja contra que Governo for.

 

Os Verdes só merecem uma linha porque desde que o PAN também seja de "esquerda" desobrigam, no futuro, o PC de votar propostas do PS. Jerónimo e Costa são profissionais e previdentes.

 

Tudo o contrário da puerilidade com que o BE, que apesar de ter os protagonistas a estourar de alegria, não se percebe bem porquê, não vai longe. Queriam muito, muito ir para o Governo, mas o PC não deixou. Tinham o sonho de ficar com parte do PS ou passar a ser parte do PS, mas como o Dr. Louçã já interiorizou a festa sem bolo não dura muito e o Bloco vai ter de deixar de fingir que faz parte do Governo onde não pôs os pés.

 

O PC pode começar a distanciar-se porque o seu envolvimento vai acabar cedo. O Bloco vai ter de morder a bala da alegria com que organizou uma festa que não era a sua. A partir de agora manda o PS.

 

É uma coligação negativa? É negativa, instável, e tudo o mais que se previa. Havia alternativa para o Presidente que não indigitar o secretário-geral do PS? Verdadeiramente, não.

 

Ora se António Costa consegue chegar a primeiro-ministro depois da derrota mais humilhante do PS, o pior erro da direita é imaginar que, só porque sim, a vida acabará por lhe correr mal.

 

Não vai. É, aliás, nos próximos meses que a vida lhe vai correr muito bem. E se for verdade que alguma coisa ficou da poupança dos últimos anos vai correr melhor ainda.

 

A direita não pode é continuar esganiçada e em negação. Há que seguir adiante. Pedro Passos Coelho esteve muito bem ao explicar que se António Costa precisar de virar as costas aos seus parceiros não terá apoio e deve encarar a demissão.

 

Mas ficou por aqui, até agora, a inteligência que a reacção exige. Em breve, quando a poeira assentar, a direita e o centro-esquerda precisam de mudar muito e aprender outro tanto para reconquistar um centro que António Costa com a roupa de PM, o passar do tempo e alguma sorte pode agora vir a conquistar.

 

Como tudo tem o seu lado positivo, começa aqui um filme novo, uma possibilidade para transformar esta pequena calamidade numa grande oportunidade. O PSD e o CDS precisam de começar a desfazer a fusão que ensaiavam. E o primeiro que conseguir apresentar protagonistas e políticas credíveis, o primeiro que abandonar as vestes paroquiais e as metáforas de futebol, o primeiro que oferecer inteligência e alternativa, vai captar a energia da sociedade que se sente agora enganada, mas precisa de bem melhor para se mobilizar e ajudar na resposta que os tempos merecem e justificam.

 

Advogado

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