Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião

Mais do mesmo

Começou há um mês a campanha eleitoral. Meia dúzia de professores de economia, e outros tantos militantes, ajudaram o PS a preencher os espaços em branco que se começavam a tornar embaraçosos para o candidato a primeiro-ministro.

 

Como canta o poeta: a sede desta espera só se estanca na torrente... E a torrente foi fértil…

 

Nos primeiros dias todos pareciam ter-se descoberto, no "novo" PS, uma contradição insanável e antagónica com a que maioria tinha avançado dias antes sobre a forma de PEC e Programa de Reformas. Eram "cofres cheios" contra "bolsos cheios". Um programa de esquerda! O consumo contra a poupança para a economia crescer o dobro do que prevêem o Banco de Portugal, as instituições europeias ou o próprio Governo.

 

Duplamente arriscado. Objectivamente como política e subjectivamente como memória.

 

Mas, ainda assim, se tais interpretações convidavam à narrativa de diferença que o PS precisa de construir, não resistiram à leitura do documento produzido nem à interpretação autêntica dos autores: "…quanto à austeridade as nossas propostas são de um alívio mais rápido do que o previsto pelo Governo, mas não são de laxismo orçamental ", esclarece Trigo Pereira.

 

E pronto, assim que o "spin" mudou, afinal o novo programa tem alguma da prudência que o tempo recomenda e o velho PS assustou-se e desatou a zurzir os seus novos protagonistas.

 

António Costa se não se assustou com eles, penou com as sondagens e, em duas semanas, vai de abrir mão daquele módico de bom senso que o afastava ligeiramente das políticas e figuras do passado recente que nos levaram à pré-bancarrota de Maio de 2011.

 

Aos poucos voltam os feriados, a TAP é nossa, as semanas de trabalho voltam às 35 horas, o salário mínimo vai subir, e por aí fora que o tempo é de cerejas na Cova da Beira.

 

Era o embalo que faltava aos protagonistas que o PS quer repetir. A Dra. Maria de Lurdes Rodrigues deu uma entrevista que vale leitura. Mais do que a crítica aos autores do documento e o elogio do realismo mágico: "Não gosto da política escondida atrás de cenários macroeconómicos", é extraordinária a ameaça de " investimento público" vinda de quem acha que a Parque Escolar "foi uma festa!" e pelos vistos não se inquieta com as canas que o Ministério Público anda a apanhar…

 

António Costa quer, afinal, a quadratura do círculo. Tenta que alguém escreva um guião afinado para não arranjar, escusadamente, problemas gregos, mas isso implica ficar no centro. Para alegria das claques afina o trombone das promessas que encantam os seus jovens turcos e velhos combatentes, mas assustam o eleitor que se lembra como terminou em 2011 uma alegria parecida com a que agora promete.

 

Como a Prof.ª Teodora Cardoso recordou, as simples políticas de estímulo da procura já demonstraram a sua ineficácia. A bancarrota foi há quatro anos e não foram anos fáceis. Se para fazer de conta que é diferente o PS insistir na fórmula do passado, será fácil à coligação, com os vários aconchegos da conjuntura, vencer as eleições.

 

Apesar das hesitações, dos erros de política, das reformas que não se fizeram, o eleitor de bom senso sempre preferirá subir a escada devagar do que dar outro trambolhão. A menos, claro, que os líderes da coligação insistam em se tratar como protagonistas de uma fábula de La Fontaine e o bom senso procure outros caminhos… 

 

Advogado

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio