Opinião
Usamos máscaras, mas não coletes
No caso português, o consenso institucional e a passividade do povo andam alinhados. A democracia permitida é a do unanimismo do politicamente correto e institucional.
A FRASE...
"Não é claro que a democracia americana sobreviva à reeleição de Trump."
Público, 14 de junho de 2020
A ANÁLISE...
A esquerda radical antiglobalização, com a sua bíblia de Naomi Klein, segue uma agenda própria para contestar as virtudes da democracia liberal e do capitalismo do crescimento. Os movimentos Occupy Wall Street, anti-Davos e Women’s March, as investigações de "papers e leaks", as manifestações Live Matter seja do que for - usando paradoxalmente os monstros da globalização Facebook e Google -, servem para unir a intelectualidade e os jovens das capitais ricas do planeta para minar a democracia e os capitalismos locais e o da globalização. Não veem os novos gulags, e atacam com a liberdade que lhes demos as dos outros. Subjazem a estas causas, a adoração do determinismo histórico socialista de criação do Homem e sociedades perfeitas, em honra da eliminação das permanentes desigualdades. Empurram-nos sempre para as derivas totalitárias para desenhar o homem perfeito.
No caso português, o consenso institucional e a passividade do povo andam alinhados. A democracia permitida é a do unanimismo do politicamente correto e institucional. Só se aceitam a direita direitinha, domesticada e com sentido de Estado, ou seja, a que não abane as agendas eleitorais do PR e do partido do Governo. Tresandamos a uma corte falsa, preocupada com cargos, títulos, prebendas e poses institucionais dos atores. Substituímos as monarquias dos direitos adquiridos de linhagem hereditária pelas linhagens partidárias e redes de interesse.
A nobreza de hoje é uma "nomenklatura" socialista e de esquerda. É uma nova desigualdade no Portugal de Abril. O PR afaga o povo, enquanto a corte procura fundos comunitários, mais dívidas e os novos centros de poder. Usamos máscaras, mas não sabemos usar coletes amarelos. Em Portugal, debatemos permanentemente a América de Trump, Bolsonaro e Orbán para nos distrairmos do que se passa de grave no burgo? Por medo de afronta ao poder governativo e do instalado no Estado, por agenda ideológica, para criarmos fantasmas totalitários novos, ou porque não há mesmo problemas com a nossa democracia e capitalismo? O absolutismo do unanimismo é a revelação da decadência do país. Sobressaem os extremos, apodrece o centrão estatal, até ao dia em que a maioria silenciosa dos injustiçados os vai remeter para o seu verdadeiro lugar na história: nenhum.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências diretas e indiretas das políticas para todos os setores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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