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30 de Agosto de 2016 às 21:05

Sem Dilma, nem Lula

Ainda antes de Lula ser presente a tribunal e já depois da destituição de Dilma, o próximo abalo para o PT virá nas eleições municipais de Outubro se Fernando Haddad perder S. Paulo.

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As sondagens são más e o PT poderá ceder o estatuto de maior partido nas cidades com mais de 100 mil habitantes caso se confirme a acumulação de perdas nos municípios do Sul e do Sudeste ante a pressão do PMDB e do PSDB.

 

Um imenso dilema se colocará, então, ao partido fundado, em S. Paulo, em 1980, por sindicalistas, intelectuais e militantes católicos de esquerda e, actualmente, fincado sobretudo nos estados mais pobres do Norte e Nordeste.

 

A eleição de Lula, em 2002, marcou a chegada do PT à esfera do poder federal, mas com apenas 91 mandatos entre 513 deputados (melhor resultado até hoje), a sua governação enveredou pela tradicional negociação permanente, ampliando, contudo, trocas de favores e angariações de financiamentos com fitos políticos e privados obscuros.

 

O "Mensalão" normalizou e sistematizou a compra de apoios políticos a troco de dinheiro por parte do PT e o escândalo "Lava Jato" ao arrastar grandes empresas privadas e públicas e todos os partidos do sistema acabaria por atingir pessoalmente Lula.

 

Neste transe, esvaídas de fundos as políticas de redistribuição de rendimento à medida que se reduzia a procura estrangeira de matérias-primas e produtos agrícolas, Dilma e os seus viram-se obrigados a ampliar actos de desorçamentação e financiamentos ilegais por entidades controladas pelo Estado para conseguir a reeleição em 2014.

 

A arrogância e inabilidade de Dilma fora notória na reacção às manifestações de Junho de 2013 que, começando em S. Paulo contra aumentos de transportes, geraram um amplo movimento de contestação urbano aos maus serviços públicos e corrupção.

 

O crescimento inexorável do défice orçamental e da dívida pública deram, depois, munição de sobra aos adversários para acusações à presidente por ilícitos graves em exercício de cargo político reconhecidas pelo Tribunal de Contas e o Supremo Tribunal.

 

Dramas mais cruéis se vislumbram muito para além da polémica sobre a ilicitude das decisões aprovadas por Dilma no segundo mandato para justificar a destituição.

 

A ampliação pelo PT do assistencialimo lançado pela presidência de Fernando Henrique Cardoso graças à estabilização financeira não é possível de manter.

 

O futuro do PT e do seu grande sustento eleitoral nos estados mais pobres do Norte e Nordeste fica em causa.

 

A vitimização e as tiradas contra golpismo acabarão por esgotar-se e outras alianças terão de ser negociadas pelo PT para as presidenciais de 2018 na impossibilidade de Lula avançar com risco de cisões, contestação e deserções.

 

Michel Temer, por sua vez, não tem nem tempo, nem condições para propor reformas da legislação laboral, sistema de segurança social ou gestão de participações empresariais do estado numa Câmara dos Deputados com 28 partidos e num Senado com 15 formações políticas.

 

Inconsistência ideológica e a intolerância de políticos evangélicos acentuam-se no Congresso, enquanto as prerrogativas de 27 estados e do Distrito Federal constrangem a capacidade executiva do governo Palácio do Planalto.

 

O presidencialismo da Constituição de 1988, plebiscitado em 1993, agrava impasses sempre que o fulcro do poder executivo é posto em causa conforme provam Collor de Mello e Dilma Rousseff.   

 

O que sairá deste estado de coisas é uma incógnita, mas terá de vingar sem Dilma, nem Lula.  

 

Jornalista

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