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17 de Dezembro de 2014 às 00:01

O rublo de Elvira

Assevera Dmitri Peskov, porta-voz de Putin, que nervosismo e especulação explicam a queda abrupta do rublo, mas quando em Moscovo se admite que a saída de capital possa ser equivalente este ano a 6% do PIB a Rússia nada pode esperar de bom.

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Além da expatriação de mais de 134 mil milhões de dólares, o risco de a "Rosneft", a maior empresa petrolífera, converter em dólares obrigações emitidas em 2014 no montante de 625 milhões de rublos pesa sobre a moeda russa, cuja desvalorização já não consegue ser contida pelo banco central.

 

Elvira Nabiullina, a governadora do banco central, gastou mais de 80 mil milhões de dólares este ano para sustentar o valor do rublo.

 

Falhou e nem mesmo a subida em 6,5 pontos percentuais da taxa de referência para 17%, anunciada na madrugada de terça-feira, conseguiu suster a derrocada.

 

O cheiro da bancarrota

 

A iminência de imposição de restrições ao movimento de capitais passou a ser tida por provável, segundo a maioria dos comentários de especialistas em Moscovo, pela impossibilidade de o Kremlin controlar uma tendência negativa em que a queda do preço do petróleo praticamente equivale aos 50% de desvalorização do rublo.

 

A folga orçamental, dependente dos hidrocarbonetos que superam 70% das exportações, não afasta o temor dos flagelados pela bancarrota russa de 1998 de que a recessão em 2015 venha a ser ainda mais grave do que a quebra rondando os 5% no PIB prevista pelo Banco Central.

 

Reservas estimadas em 416 mil milhões de dólares podem permitir superar o pior  no próximo ano, se a inflação não disparar acima dos 10%, mas as divisas disponíveis irão esgotar-se em 2016 obrigando a cortes substanciais nos subsídios sociais.

 

Investimento na exploração e redes de distribuição de petróleo e gás com participação estrangeira está fora de questão devido às sanções ocidentais e o efeito negativo na actividade económica da alta de juros levou de imediato a estimativas de custos acrescidos na ordem dos 30% a 35% para o sector de materiais e construção no primeiro trimestre de 2015.

 

O tom preto no branco das afirmações dos gestores russos, independentemente da suas reverências ao Kremlin, marcou contraste ante o silêncio dos ideólogos do regime. 

 

O ano de 1998

 

A humilhação nacional, a ineficácia dos chefes de governo nomeados por Boris Ieltsin, a consolidação de oligarquias, a degradação de condições de subsistência, foram algumas das consequências imediatas da crise de 1998 e algo que ficou na memória.

 

Ainda antes da crise de 2014 fiar fininho, Putin optara por paliativos como proclamação de amnistia fiscal para retorno de capitais expatriados ou delitos envolvendo corrupção administrativa dita de pouca monta.

 

Ao claudicarem os meios para promover políticas sociais, valorizadas pela propaganda governamental nos media ao dispor do Estado, Putin deixa de contar com   Elvira e a Rússia queda mais frouxa.     

                   

Jornalista

 

barradas.joaocarlos@gmail.com

http://maneatsemper.blogspot.pt/

 

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