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Os animais não votariam PAN

A solução passa, como já há muito tempo clamam os especialistas, pela educação dos portugueses, e pela penalização do crime de abandono dos animais de companhia que, embora prevista na lei, vai escapando nos pingos da chuva.

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É tão típico que até faz pele de galinha: legisla-se, faz-se a propaganda do que se legislou e depois lava-se as mãos do assunto, porque são sempre os "outros" que serão acusados de incompetência por não terem sido capazes de aplicar uma lei sem pés nem cabeça.

 

E, como de costume, também ninguém realmente se importa até que o assunto lhes bata à porta. Agora que a GNR registou 287 ataques de animais de rua só no primeiro semestre de 2019, tantos como no ano inteiro de 2018, e estamos em contagem decrescente para que a próxima vítima seja uma criança, agora, dizia eu, dão-se ouvidos às autoridades que recordam que os canis municipais estão sobrelotados, e não há qualquer capacidade para recolher mais animais. Para não falar nas doenças que estas matilhas descontroladas podem transmitir não só aos humanos como a outros animais, nomeadamente aos de estimação de muitos dos que saudaram esta medida.

 

Neste momento, enquanto os deputados que propuseram a lei e os autarcas trocam entre si acusações, o que é insuportável para os verdadeiros especialistas em bem-estar animal, como para todos os que realmente os respeitam, é a crueldade da situação atual.

 

Porque, como inclusivamente o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários previa então, são centenas os cães mantidos meses ou anos a fio em gaiolas, no meio de uma multidão de outros "presos" a ladrar furiosamente, muitos deles num stress e medo profundo provocados pelo receio de estar perto de outros maiores e mais agressivos. Num sofrimento que, infelizmente, só a reversão da lei permitirá ultrapassar.

 

Posto isto, quando no sábado passado li no Expresso que o deputado do PAN pretendia na próxima legislatura continuar a lutar pelo direito à eutanásia, para os humanos bem entendido, dei por mim a perguntar-me porque pretendia André Silva fazer uma exceção para cães e gatos? Com a agravante de que não tendo a capacidade de fazer planos ou de se reverem no futuro, não podem mitigar o horror do aqui e agora com a esperança da libertação do cativeiro. É claro que os mais fanáticos alegarão que, ao contrário das pessoas, não podem dar o seu consentimento livre a uma injeção letal, mas porventura podem fazê-lo à esterilização? Se nos definimos pela maneira como tratamos os animais, e tenho a certeza absoluta de que assim é, não será mais importante assegurar por todos os meios ao nosso alcance que tenham uma boa qualidade de vida, sem a crueldade de os mantermos vivos, custe o que custar?

 

Por favor, não aponte já o dedo a quem levanta os problemas. Ninguém de bem imagina que a solução ideal seja a eutanásia. A solução passa, como já há muito tempo clamam os especialistas, pela educação dos portugueses e pela penalização do crime de abandono dos animais de companhia que, embora prevista na lei, vai escapando nos pingos da chuva.

 

Pensando bem, tudo isto não passou de mais um passo típico dos populistas - imaginar uma situação idílica, mas não preparar nada, não contar com as consequências, num país e numa população como a nossa, alimentando uma ideia romantizada e urbana dos animais. De uma coisa desconfio, os animais não votariam PAN. 

 

Jornalista

 

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