Opinião
Um país de milagres
Foi o Papa Gregório IX que legalizou a Inquisição e, ao mesmo tempo, formalizou as regras para se alcançar a canonização. Talvez não tenha sido uma coincidência.
Como um bom advogado, Gregório IX estava preocupado com a definição precisa de santos e hereges e, para isso, utilizou métodos similares para ambos os casos: julgamentos. No mundo da política e da economia, destrinçar santos e pecadores é mais difícil. Mas, sendo Portugal um país virtuoso, aqui a justiça terrena tem algumas vezes dificuldades em distinguir milagres de acções humanas. Foi o que sucedeu com Teodora Cardoso que, depois de o útil Conselho de Finanças Públicas ter errado (um pecado que os mortais cometem mas que têm dificuldades em reconhecer com humildade por se julgarem deuses), veio agora duvidar das medidas do Governo para baixar o défice para 2,1%. Querendo fazer ironia argumentou que "até certo ponto, houve um milagre". Nenhuma resposta foi tão boa como a de Marcelo Rebelo de Sousa: "Milagre este ano em Portugal só vamos celebrar um que é o de Fátima para os crentes, como é o meu caso, tudo o resto não é milagre. Saiu do pêlo e do trabalho dos portugueses desde 2011/2012." Ao acreditar mais em milagres do que no esforço austero dos portugueses, Teodora Cardoso perdeu-se nas suas previsões.
É certo que em Portugal há milagres para todos os gostos. Mas, em Portugal, o milagre maior é Carlos Costa continuar a ser o governador do Banco de Portugal. A forma como foram tratados diferentes casos no sector financeiro mostra como o BdP tem conseguido funcionar como um alquimista desastrado: transforma ouro em chumbo. No caso do BES/GES, como a reportagem de Pedro Coelho na SIC aflora, o governador do BdP transformou-se mesmo em Houdini. Os sinais de que um dos maiores centros do poder financeiro estava em situação calamitosa foram transformados em pombas da paz. Milagres destes não estão ao alcance de qualquer governador. Mas Carlos Costa mantém-se impávido e sereno, incapaz de perceber que é parte do problema e não da solução.
Grande repórter