Andam os governos a esconder-nos informações sobre discos voadores? É possível, porque escondem muitas outras coisas. Winston Churchill, descobriu-se agora, que talvez influenciado pela transmissão radiofónica de "A Guerra dos Mundos" de Orson Welles, decidiu escrever em 1939 um artigo sobre a existência de marcianos. Churchill, numa altura em que havia tanto medo de marcianos como dos nazis, mostrava uma curiosidade intelectual invejável. Algo que hoje parece mais difícil. Mas discutir a possível existência de marcianos parece ser um assunto mais real do que dissertar sobre a existência de distracção por parte da Autoridade Tributária e Aduaneira (ATA) sobre o voo de 10 mil milhões de euros para contas "offshore". Ou se a ATA achou que eram discos voadores com sacos de dinheiro lá dentro e, como não acredita em marcianos, deixou passar as encomendas.

Os paraísos fiscais são hoje uma espécie de céu e inferno consoante a perspectiva que se tem sobre eles. E como há bons e maus, consoante o paladar, continuam a funcionar como porta-aviões, seja no mar, seja em terra. É claro que espanta como é fácil conseguir o milagre do voo de 10 mil milhões de euros para naus catrinetas de diferentes partes do mundo quando o Fisco baba-se cada vez que um comum mortal faz uma transferência bancária de mil euros dentro de portas. O absurdo reina. Da mesma forma que, como o acaso nunca é chamado na política portuguesa, não deixa de ser curioso como esta distracção militante da ATA surge quando Mário Centeno precisa que a atenção se vire para outros alvos. A gritaria e a indignação sobre os discos voadores e os 10 mil milhões vão animar as notícias durante uns dias. Depois se arranjará outro escândalo. Afinal é mais fácil acreditar em marcianos do que na resolução destes casos.

Grande repórter