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O mundo ideal

O sonhador crê que a consciência e a ideologia determinam a política, quando o que na realidade decide a política são as necessidades, os mercados e o dinheiro que se tem.

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Karl Marx não tinha muita paciência para os socialistas utópicos que o rodeavam. Muitas vezes enxotava-os, porque as suas crenças o arrepiavam. Um desses utópicos acreditava que, num mundo ideal, o mar se transformaria em limonada. Marx, muito provavelmente, preferiria que ele se transformasse na casta Riesling, a sua preferida em matéria de vinhos. Mas, divergências ideológicas à parte (preferir limonada ou vinho pode ser o motivo para um divergência insanável num qualquer Comité Central), porque uma opção pode ser mais pura do que a outra, há muito que se discute como é possível criar na Terra o mundo ideal. Os políticos tentam-no, com os impostos de quem tem de os pagar em nome da democracia, dos serviços básicos do Estado e das reformas. E aí entramos noutro mundo de ruptura: o sonhador crê que a consciência e a ideologia determinam a política, quando o que na realidade decide a política são as necessidades, os mercados e o dinheiro que se tem. Pelo menos nos nossos dias. Os homens vivem com os pés na terra e não viajam apenas no mundo dos sonhos.

 

Mas isso não quer dizer que quem acredita num mundo ideal, ou próximo dele, deva ser atropelado pelo puro pragmatismo. Veja-se o que sucedeu há um par de dias. Luís Meira, presidente do INEM, veio dizer que era preciso arrancar a ferros ao Estado cada cêntimo. Até para comprar ambulâncias. Bem-disposta, Rosa Matos, secretária de Estado da Saúde, respondeu candidamente que faltarão sempre meios, porque não vivemos num mundo ideal. Pois não. Mas uma coisa é não vivermos nesse Olimpo e outra é sobrevivermos na miséria dita franciscana. Neste país tem de se pedinchar ambulâncias, comboios novos, alas pediátricas para hospitais e outras coisas que se julgavam básicas. E que não faziam parte desse inacessível mundo ideal. Até porque, até prova em contrário, julgávamos estar na Europa e não no Terceiro Mundo. Muitas vezes não faltam meios, ao contrário do que prega Rosa Matos. Pelos vistos, como se prova na outorga de donativos para Pedrógão, eles são é mal distribuídos.

 

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