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07 de Fevereiro de 2017 às 00:01

Houdini e o lixo

Em 1926, o grande mágico Harry Houdini apresentou-se perante um comité do Congresso dos EUA. Mostrou um telegrama fechado e pediu a alguém na audiência que dissesse o seu conteúdo.

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A plateia era formada por espiritistas e astrólogos. Houdini tinha motivado uma lei que visava proibir a prática da adivinhação no Distrito Federal de Washington. Se os espiritistas não conseguiam saber o que dizia o telegrama, dizia Houdini, deveriam ir parar à cadeia por fraude. Um senador do Kentucky tentou serenar os ânimos: "Eu acredito no Pai Natal e nas fadas. E Houdini está a falar das coisas de uma forma demasiado séria." Houdini conseguia libertar-se de tudo: de algemas ou de tanques cheios de água. Muitos diziam que ele também usava meios fraudulentos para ter sucesso. Houdini desapareceu, mas o ilusionismo nunca deixou de estar presente na sociedade. A começar pela política.

 

O Governo, por exemplo, mostrou a sua satisfação por a Fitch nos continuar a considerar "lixo", fazendo da ilusão um truque de mestre: o lixo sólido é melhor do que resíduos líquidos ou gasosos. Ou seja, é melhor ser lixo do que estar incinerado. Pelo menos estamos sólidos. Entre governar pelo Twitter e declarar uma coisa destas, qual é a diferença? É assim que a política se torna uma erva daninha e permite o crescimento dos cogumelos populistas. O problema é que esta transposição dos adivinhos do tempo de Houdini para os nossos dias tropeça em muitas cascas de banana. De outra forma como é que se pode perceber que um Governo, que rebenta de optimismo por a inenarrável Fitch continuar a considerar Portugal "lixo", remova algumas competências do secretário de Estado, Mourinho Félix, para ele se dedicar ao que verdadeiramente importa: a banca e a dívida? Imagine-se que o Governo chorava de desapontamento por o país continuar a ser "lixo". Fazia o contrário e dava-lhe mais pastas como as das minas, da Carris e Metro, das bebidas energéticas e das bisnagas de Carnaval. Ainda bem que temos um Governo optimista.

 

Grande repórter

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